O atendimento e a fábrica de protocolos

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– Boa noite senhor, queira estar anotando o número do protocolo de atendimento. 2016-123-123-123…. Pois não senhor.

– Oi, eu tinha uma visita técnica marcada para hoje, mas não apareceu ninguém em casa.

– Entendi senhor, só um momento – tec tec tec tec – o técnico resolveu o problema senhor?

– Oi? Não, na verdade não veio ninguém. – (?)

– Certo senhor, só um momento – tec tec tec – aqui no sistema está dando como serviço finalizado, senhor. O técnico resolveu o problema, senhor?

O diálogo acima é real, embora surreal. Aconteceu com esta pessoa que vos escreve (tenho até anotado o protocolo). Sabe a sensação de que até a Siri, do iPhone, te entende melhor que a Judite, quero dizer, que o atendente do “call center”?

Lidar com pessoas não é fácil; sim, eu concordo. Quando elas estão com um problema que você (e só você, parece) pode resolver, humm, é uma grande responsabilidade. Junte o crescimento exponencial do consumo trazendo novos clientes ávidos por produtos e serviços e temos a fórmula perfeita para um apagão do pós-venda.

Uma questão interessante ao tentar falar com um serviço de atendimento ao cliente: antes do “bom dia” vem o “Poderia anotar o número do protocolo, senhor?”.

E fico me perguntando, para quê, se a cada novo contato é gerado um novo número de protocolo? Um mesmo problema pode ter dezenas de protocolos.

A organização e formatação de processos se faz fundamental neste cenário e, com isso, a aplicação de alguns princípios básicos de gestão de pós-venda: identificação, registro, processos de escalação e acompanhamento.

Resolver o problema é mais importante que protocolar o atendimento.

Atendimento impacta a experiência do cliente

Durante sete anos estive envolvido em um produto online que possuía um forte foco no relacionamento com o cliente. Costumava dizer à equipe que 50% da experiência do cliente era com o produto e 50% no trato com a área de atendimento. Um não sobrevive sem o outro.

Talvez as nomenclaturas utilizadas para estas áreas, mesmo eufemísticas, colaboram com a subvalorização de sua relevância na vida do consumidor. “Suporte ao cliente”, “Atendimento ao consumidor”, “Setor de Relacionamento”…. acho que a percepção mudaria se deixassem de classificar como ‘pós-vendas’ e passassem a chamar de ‘mais vendas’.

Nesta lógica entram consagradas frases daquele seu livro de marketing, como: “Custa cinco vezes mais caro conseguir um novo cliente que manter um atual” ou “Manter um cliente é mais importante que conseguir um novo”.

Neste momento, porém, é que na prática a teoria é outra. Quão claro está que a área de atendimento a clientes é uma área geradora de receitas? E não apenas quando tenta fazer cross-selling ou up-selling (como quando liguei para perguntar como andava meu financiamento imobiliário e a atendente tentou me empurrar um outro cartão de crédito).

Satisfação com o atendimento

Apesar de, em muitos casos, ser vista como uma operação de suporte, de apoio, deveriam criar alguma maneira de mensurar o índice de retenção de um cliente em função da satisfação com o atendimento – importante mencionar que “retenção”, aqui, não significa reverter uma solicitação de cancelamento, mas sim manter o cliente satisfeito no contato com a empresa.

É uma questão lógica: um bom atendimento ao cliente gera retenção; retenção aumenta o LTV (life time value); maior LTV está explicitamente ligado ao aumento de receita, ou melhor, à manutenção de uma receita “x”, de maneira que ações de aquisição possam ser feitas para trazer novos clientes e, com isso, aumentar o resultado total da empresa.

Do contrário, a conquista de novos clientes passará apenas a compensar a perda dos outros; e, sendo mais difícil um cliente insatisfeito retomar o relacionamento com uma empresa, chegará o momento em que o pobre consumidor passa a ter que se contentar com o “menos pior”, como acontece com os serviços de telefonia móvel e TV por assinatura no Brasil.

Como neste gráfico da Peer Analytics, o objetivo da área de ‘atendimento ao cliente’ é deslocar o pico para a direita, sempre.

lifetime-value

Quer ter um serviço de atendimento ao cliente de qualidade? Coloque o CEO e diretores das áreas de produto e comunicação para atenderem os telefones e responderem aos e-mails de vez em quando.

Irão descobrir que não somente seu produto ou serviço não é tão fantástico e amigável assim e que nada adianta dizer que “TV é isso” ou de quem é o mundo. E nem precisa de protocolo pra isso. [Webinsider]

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Leia também:

JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.

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2 respostas

  1. O texto é pertinente, mas cumpre lembrar (a algum leitor desavisado, não ao autor que certamente já sabe) que em casos como atendimento SAC o fornecimento de protocolo é obrigatório por lei…

    1. Bom ponto, Fábio. Minha questão no texto (que recuperei agora para um caso similar :)) é que tem-se a impressão que as empresas estão MAIS PREOCUPADAS em passar o número de protocolo do que em resolver o problema do cliente. Foca no cliente, manda o protocolo depois, por email, whatsapp, cartinha, etc. =)

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