Remixar ou não remixar, eis a questão!

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Após ser agraciado com uma atualização para DTS:X e ver em ação o novo “upmixer” DTS Neural:X, habilitado como default para qualquer trilha DTS, eu pude finalmente comparar trilhas remixadas da maneira como a DTS acha melhor. Não só isso, mas traçar paralelos com idêntico algoritmo usado para trilhas Dolby anteriormente disponíveis com o nome de Dolby Surround.

Para mim ficou claro que se alguma unanimidade existisse nesta mudança, o fabricante não disponibilizaria maneiras de desabilitá-la. Foi assim com o Dolby Surround e agora com o DTS Neural:X.

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E na verdade, toda vez que algum disco DTS é identificado, o usuário tem a opção de desabilitá-lo permanentemente, ou seja, ele não entra automaticamente em cena, e sim por opção do usuário exclusivamente. Claro que tudo isso pode ser revertido, caso o usuário depois se arrependa.

Qual é afinal o objetivo destes dois métodos de aprimoramento de reprodução? É simples: eles foram desenhados com o objetivo de fazer o investimento do usuário render, com a aplicação da emulação de som 3D a partir das trilhas antigas desde 2 canais. Na prática, significa poder usar todas as caixas do sistema, em qualquer layout que envolva este tipo de reprodução, ou seja, todas as chamadas “caixas elevadas” junto com o surround já estabelecido.

Percalços do processo

O Dolby Atmos já está entre nós desde o ano passado, de tal forma que vários modelos de processadores e receivers já foram entregues com o decodificador incorporado e o software instalado.

Desde cedo deu para perceber que o uso do codec só faz sentido no momento em que o usuário se proponha a instalar algum tipo de caixa acústica preparada para este tipo de reprodução. E, diga-se de passagem, a falta de clareza no assunto instalação nos deixou órfãos, acredito eu por falta de comunicação entre a Dolby e os usuários finais. A Dolby repassou este contato aos fabricantes e revendas, burocratizou e não deu certo.

Demora algum tempo, acreditem, até se ter consciência do que está acontecendo, porque no caso do som 3D os cinemas com este tipo de reprodução são muito poucos e alguns inacessíveis ao usuário final que não mora perto de um deles.

Sem respaldo do lado técnico e sem parâmetro de como o som 3D trabalha em uma sala de cinema fica difícil e às vezes quase impossível, saber o que fazer em casa.

Com medo de errar, eu mesmo fiz tudo lentamente. Diante da afirmação de que caixas adaptadas funcionam com o Dolby Atmos, fazendo o som ricochetear no teto e voltar em direção ao ouvinte, eu me obriguei a construir um par deste tipo e testar. Meus resultados não chegaram a ser conclusivos, porque eu não pude comparar com outros layouts do codec. Qualquer teste deste tipo demanda investimento de tempo e dinheiro para fabricar e instalar tudo. O meu sistema trabalha hoje com quatro caixas “elevadas”, e mesmo assim eu não consigo concluir muita coisa útil.

Avaliação pessoal

O leitor deve ter cautela ao ler os comentários a seguir, por serem de natureza pessoal.

No passado, tanto Dolby quanto DTS tiveram no mercado discos de música em CD, com a diferença de que nos discos com Dolby Surround a fonte analógica era codificada a partir de matriz PCM, podendo ser reproduzida por qualquer CD player, enquanto que discos DTS só poderiam ser reproduzidos se o decodificador DTS estivesse presente na linha de reprodução. Até hoje, para reproduzir um CD DTS é preciso algum tipo de saída digital, caso contrário só se ouvirá ruído.

Eu usei CDs Dolby Surround e DTS para fazer algumas avaliações auditivas:

Não sei se é mera coincidência, mas nem o DTS Neo nem o DTS Neural são satisfatórios para ouvir música com fonte DTS de qualquer tipo. Nota-se um espalhamento exagerado do palco sonoro da frente (canais esquerdo, central e direito), com o auxílio das respectivas caixas surround esquerda e direita.

O problema nem é tanto o espalhamento em si, mas sim com a dispersão aumentada de forma descontrolada, que faz a parte da frente perder foco, que é importante para se saber onde tocam determinados instrumentos ou seções da orquestra. E isso eu notei em todos os discos sem exceção!

No meu entendimento, este problema de falta de foco caminha na direção oposta a tudo que se vem tentando conseguir de bom com o som de alta resolução e com equipamentos capazes de resolver transientes com grande competência.

Desligando o DTS Neural volta tudo ao normal. Em CDs DTS a mixagem é sempre 5.1, e muitos com a técnica chamada “on stage”, que coloca o ouvinte no meio da orquestra ou grupo. A coerência de fase do som reproduzido é fundamental para o correto envolvimento do ouvinte. Tudo que se quer é que a ambiência fique restrita à reverberação do local onde o material de fonte é gravado. Com o uso do DTS Neural (e do Neo também) não se sabe às vezes o quê foi parar aonde, e é fácil constatar a diferença, bastando desativar o remixador e mandar o player tocar a mesma faixa.

Com o Dolby Surround Upmixer, este problema existe, mas de forma muitíssimo mais atenuada, e portanto não inviabiliza o seu uso constante para música.

Notem que, ao contrário dos processadores anteriores, nem Dolby Surround nem DTS Neural apresentam recursos específicos para música.

Para trilhas sonoras de filmes, Dolby Surround e DTS Neural trabalham com competência, mas os melhoramentos resultantes são variáveis.

O espalhamento lateral provocado pelo DTS Neural não atrapalha a reprodução do filme, e nota-se um aumento da imersão provocado pelo acionamento das caixas elevadas. Em alguns momentos, se pensa estar assistindo um filme previamente gravado com som 3D.

O mesmo acontece com o Dolby Surround, e eu noto que não se pode descarta-lo do benefício oferecido pela introdução de caixas Atmos, que tanto sacrifício financeiro impõe ao usuário.

Habilita quem quiser

A habilitação ou não de Dolby Surround e DTS Neural:X depende da maneira como o firmware é escrito pelo fabricante. Se este oferecer a escolha de um decodificador padrão, ele é obrigado a deixar uma opção para este fim no setup do aparelho.

Em outros casos, o computador de bordo guarda na memória a última escolha feita pelo usuário, e assim ele só precisa tocar alguma coisa em um dos codecs e manualmente trocar o default por um outro modo de reprodução.

Os resultados que eu ouvi e fiz objeção podem perfeitamente agradar a terceiros. O bom de um equipamento programável é a possibilidade de deixar cada usuário fazer a escolha da sua preferência, além de ser possível revisar, consertar (se for o caso) ou fazer modificações nos softwares envolvidos. Se o fabricante muda para melhor, o que não agrada em cheio hoje pode dar outra impressão amanhã. [Webinsider]

Leia também:

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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