A base da trilha sonora digital moderna

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Mixagem digital home theater

Pode parecer exagero, mas é perfeitamente possível reproduzir um filme contido na mídia de hoje com apenas quatro caixas acústicas, duas na frente e duas atrás.

Em passado distante, eu usei videodiscos com trilha PCM ou analógica de apenas dois canais com codificação Dolby Stereo, e para reprodução um amplificador estéreo com as caixas traseiras interligadas nos princípios do chamado Circuito Hafler, comentado várias vezes aqui na coluna.

Um subwoofer foi adicionado, mas na época não existia recursos como o bass management. O que quer dizer que o subwoofer e a sua interação com as caixas frontais foi calibrado de ouvido, apenas com material de dois canais.

Audiófilos preferiam usar o Hafler do que um equipamento com decodificador passivo para Dolby Surround ou até mesmo ativo para Dolby ProLogic.

Na minha instalação doméstica eu pulei direto deste sistema com Hafler para um receiver com decodificador Dolby Digital. Naquela época a trilha era somente encontrada em algumas edições de Laserdisc, com o rótulo de AC-3. Mesmo assim, as quatro caixas continuaram no lugar. Tempos depois, foi adicionado um canal central, primeiro experimentalmente (eu improvisei uma caixa acústica convencional) e depois com uma caixa dedicada, para ver a diferença.

Estava assim criado um sistema 5.1 como previsto no codec AC-3: três caixas na frente, duas caixas para surround discreto (isto é, com separação de conteúdo e reprodução) e mais um subwoofer. A introdução do bass management foi o que, em última análise, permitiu casar caixas de diferente tamanho e curva de resposta de frequência.

A evolução com retro compatibilidade

Na era digital do cinema 5.1 foi a base na qual se construiu a modernidade: 3 canais na tela, duas fileiras laterais com os canais surround esquerdo e direito, e mais o .1 do subwoofer.

A Dolby teria cometido uma tolice se não tivesse previsto desde o início do formato 5.1 a possibilidade da trilha chegar ao ambiente doméstico com número de canais reduzido no equipamento de reprodução. Dentro do codec foram introduzidas informações na forma de metadados, que possibilitariam identificar o equipamento de reprodução via setup.

E assim tanto os canais da frente quanto os do surround voltariam aos ditames anteriores do Dolby Surround, contemplados na matriz quadrafônica adaptada do Dolby Stereo.

Por princípio de design, foram previstas todas as possibilidades de redução do número de canais, até chegar a um, ou seja, monaural. Se não fosse assim, um programa Dolby Digital jamais seria factível de ser ouvido em, por exemplo, um aparelho de televisão mais antigo.

Todos os codecs modernos, sem exceção, carregam esta característica, tornando a vida do usuário sem grandes ambições no quesito áudio, bem mais fácil. Obviamente, que a redução de número de canais amplificados tem um preço, que está na adaptação e consequente falta de expansão dos efeitos sonoplásticos contidos na trilha sonora do filme.

A base real do som digital moderno

Desde o princípio, a base primária sobre a qual todos os codecs são construídos, está no formato original do Dolby Digital, com 5.1 canais.

A partir deste formato foram construídos todos os demais, sem uma pré-determinação do número de canais a ser alcançado. Nas salas de cinema locais pouco ou quase nenhum investimento foi feito neste sentido. Uma sala THX do Kinoplex do bairro manteve-se com som 5.1 canais e até com a extinção dos projetores analógicos continuou da mesma forma, a despeito de já existir o formato Dolby Digital Surround EX, com 6.1 canais, padrão THX.

Tanto o Dolby Digital, quanto o DTS e o SDDS previram a reprodução extemporânea de Dolby Stereo 4.0 matricial, incluso na película e dentro do formato analógico mais recente, o chamado Dolby Spectral Recording. Esta previsão teve como objetivo salvaguardar a reprodução de trilhas sonoras digitais de filmes mais avançadas, reduzindo-a para os 4 canais analógicos citados, nos casos de ausência do sistema de leitura e reprodução da trilha original (5.1 para a frente) ou da falha na leitura do codec original, seja este gravado na película (Dolby Digital e SDDS), seja gravado em CD-ROM (DTS), com a película apenas contendo o timecode (informação de sincronismo entre película e disco).

A compatibilidade com base na extensão de dados dos codecs

A melhor maneira encontrada pela Dolby e suas concorrentes para garantir a compatibilidade de leitura de todos os codecs com número de canais superiores a 5.1 foi a criação de uma extensão de informações contida no próprio codec, que assim se torna uma base que passa a se chamar então de “core” ou “núcleo”, sobre o qual é montada a extensão.

As primeiras tentativas sem a manutenção do core envolveram a rematrização do codec base, mas se mostraram pouco eficientes e na realidade desnecessárias. A solução foi manter o codec base (“core”) e incluir a extensão para o número de canais desejados.

Para incluir o codec da extensão foi ainda preciso informar ao decodificador sobre a sua existência, sobre o número de canais e sobre a adaptação ao equipamento no qual o codec estendido é reproduzido. As informações são escritas nos metadados do codec.

Se o equipamento for projetado para ler e interpretar esses metadados ele obedecerá aos comandos que permitem aumentar o número de canais como previamente mixado na pós produção do filme.

Caso contrário, os metadados são simplesmente ignorados e o decodificador interpretará apenas o componente básico (“core“). Assim, uma trilha 6.1 ou 7.1 é reproduzida como 5.1 (como acontece em alguns cinemas do bairro) ou até Dolby Stereo (Spectral Recording) se nem decodificador para 5.1 o cinema tem.

Todo o raciocínio exposto acima é válido para a instalação de um home theater, que depende dos decodificadores e do número de caixas instaladas, de modo a realizar a completa reprodução de um codec mais avançado e com maior número de canais.

Resumidamente, é possível tabelar os codecs base e suas extensões mais usadas atualmente (SDDS foi excluído propositalmente, por ter se tornado obsoleto):

 

Formato Core Número de canais
Dolby Digital Surround EX Dolby Digital 5.1 6.1
DTS ES matricial DTS 5.1 6.1
DTS ES discreto* DTS 5.1 6.1
Dolby Digital Plus Dolby Digital 5.1 5.1 a 7.1
Dolby TrueHD Dolby Digital 5.1 5.1 a 7.1
DTS HD HR DTS 5.1 5.1 a 7.1
DTS HD MA DTS 5.1 5.1 a 7.1
Dolby Atmos Dolby TrueHD 7.1 5.1.x a 7.1.x
DTS:X DTS HD MA 7.1 5.1, 5.1.x a 7.1.x
Auro 3D PCM ou DTS HD MA 8.1 a 11.1

 * inclui o DTS matricial junto.

x se refere ao número de canais da parte superior da sala

 

Nota: Dolby TrueHD, DTS HD HR/MA e DTS:X não são previstos para as salas de cinema. O DTS:X poderá ser introduzido a qualquer momento, mas nada ainda é certo.

Comentários sobre a reprodução em casa

Fica a critério de quem monta a sua instalação para um home theater a decisão sobre o tipo de decodificador e sobre o número total de canais usados.

Eu gostaria de deixar bem claro que embora todos os codecs contenham adaptações, como já explicado acima e, portanto, podem ser reproduzidos com qualquer número de caixas acústicas, o correto é que a instalação atenda ao número de canais pretendido pelos técnicos de mixagem, 5.1, 6.1, 7.1, etc.

Tal demanda afeta mais ainda as instalações de som 3D, por causa da necessidade de espalhamento do som na parte superior da sala.

Eu estaria sendo antiético com o leitor se afirmasse o contrário. Lamentavelmente, as despesas na montagem de um sistema mais completo são profundamente injustas com o usuário final. Se não fosse pelas adaptações que os codecs preveem a existência de um bom número de home theaters não seria possível.

É uma pena que assim o seja, porque cada vez os processos de mixagem vêm atingindo uma sofisticação sem precedentes. Até as trilhas mais antigas ganham vida nova com o uso de upmixers, do tipo Dolby Surround ou DTS Neural:X.

A mixagem do som é também uma arte, e mereceria ser apreciada como tal por um número maior de pessoas. [Webinsider]

. . . . . .

Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2016/04/11/aumento-de-amplificacao-na-reproducao-do-som-3d/

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Oi, Celso,

    Os primeiros cinemas do Rio de Janeiro com som digital usaram DTS 5.1, e eu tive chance de ir a uma sala multiplex anos atrás com SDDS, codec este que usa um formato diferente (são cinco canais na tela ao invés de três).

    O DTS começou a dar problemas nas leitoras de CD-ROM e foi paulatinamente abandonado.

    Por outro lado, o Dolby Digital, que mostrava desgaste nas cópias, começou a dominar o mercado de exibição, com películas mais resistentes e com a adaptação do scanner no scan reverso usado no bloco ótico, o que facilitou a adaptação inclusive de projetores antigos.

    A única sala THX do bairro até hoje usa Dolby 5.1. A sala IMAX de uma outra cadeia foi montada com projetor digital e som 7.1, se não me engano, mas não é Dolby.

    Nos últimos anos, o que eu observei nas salas multiplex (Cinemark, por exemplo) foi o abandono completo de Dolby 5.1, com a reprodução do som usando o Dolby SR, que é analógico. Foi fácil identificar a mudança porque na reprodução analógica qualquer emenda na película gera ruído.

  2. Caro Paulo,
    Mais um ótimo artigo. Você se refere aos sons Dolby Digital, DTS e SDDS para cinema. Em SP, nas salas que visito, inquiridos, informam que as máquinas reproduzem via de regra o Dolby. Então, e os outros sistemas? Alguém reproduz?
    Abraço

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