Emojis na comunicação

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Dando sequência à série de artigos sobre a digitalização dos pilares da sociedade. Tivemos a parte 1 (Introdução) e a parte 2 (Sistema financeiro).

Parte 3. Comunicação

Na mitologia cristã, ao se estabelecerem na planície de Senaar, os descendentes de Noé (sim, aquele da arca) estavam executando o ambicioso projeto de uma torre que chegasse até o céu; não podendo permitir isso, houve uma intervenção divina, contada nos versículos 6 à 9 do livro de Gênesis, capítulo 11, da bíblia cristã:

1. E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.

2. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.

3. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.

4. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.

 

A função dos emoji

 

A capital do império Babilônico, Babel, destino de um grande número de imigrantes (com seus variados idiomas) tornou-se, assim, referência literária em um dos principais desafios para a congregação da ração humana: a capacidade de compreensão e expressão das vontades e opiniões nos 6.912 idiomas existentes no planeta (dado do Ethnologue, maior inventário de idiomas do mundo) – só no Brasil, são 187 idiomas, além do português.

A importância de um idioma

Mesmo com toda esta variedade, um código de comunicação comum (idioma) favorece a nichificação de culturas e valores, ampliando sua influência para além da comunicação propriamente dita e tornando-se um estandarte na auto afirmação cultural.

Como dois exemplos reais, a manutenção do francês em Quebec (Canadá) e o Catalão, na região capitaneada pela cidade de Barcelona, na Espanha.

A força do idioma na construção dos valores também foi explorada pela ficção, como os idiomas Klingon (Jornada nas Estrelas), Na’vi (Avatar) e Dothraki (Game of Thrones). Aliás, a melhor ilustração para este pensamento foi a Novilingua, uma adaptação criada pelo governo absolutista do livro 1984, de George Orwell: se você não sabe como se referir a um sentimento ou ideia, você não tem como pensar neles – o que permitiria, então, um melhor controle sobre a sociedade.

big brother pug
Entender o outro e saber expressar seus desejos e ideias é primordial para qualquer tipo de aprendizado (nos sentidos formal e informal do termo) e, por isso, conseguir ultrapassar a barreira idiomática tornou-se ainda mais importante quando a humanidade em si passou a estar amplamente conectada graças a esse “negócio” que hoje chamamos de internet.

Existem dois caminhos para esta solução: a unificação do código de linguagem (como o malfadado idioma Esperanto) ou a conversão imediata dos significados de um código a outra, popularmente chamado “tradução”.

Paralelamente ao movimento social (com influência econômica, claro) que, seguindo o primeiro caminho citado acima, colocou o inglês como um idioma ‘universal’ (falado até pelos aliens que nos visitam em filmes e livros), diversas empresas e projetos acadêmicos buscam, há tempos, eliminar ou, ao menos, minimizar os desafios criados pelos problemas de comunicação.

As línguas faladas no mundo

Os 10 idiomas mais falados no mundo são utilizados por apenas 46,07% da população mundial

Ferramentas digitais como o Google Tradutor ou o Wordlens fazem sua magia na compreensão de um idioma distintos, mas pecam quanto à naturalidade da comunicação, que enfrenta um mecanismo interruptivo de captação-processamento-devolução das frases ditas em um idioma e traduzidas para outros.

Em termos diretos, você não desenvolve um raciocínio através de um diálogo fluido com um indivíduo que fala outro idioma, apenas executa comandos rápidos e limitados, estes sim traduzidos pelos aplicativos e websites.

Quanto mais assíncrona uma comunicação – não ocorre simultaneamente – mais bem sucedidos serão estas ferramentas. Quanto trazemos para o “mundo real” e para a comunicação síncrona e instantânea, o mais próximo desta solução são as soluções apresentadas pelo Skype e dispositivos como o iLi ou o Pilot, que prometem manter a naturalidade conversacional enquanto se incumbem de traduzir em tempo real.

 

Pilot, da Waverly Labs, inventado para paquerar uma francesa

 

Quando discutido com linguistas e professores de idioma, surge uma grande discussão sobre o que significa “saber um idioma”, que varia desde o conhecimento de suas regras ortográficas, gramaticais e sintáticas à simples capacidade de ‘exprimir uma ideia’.

Neste segundo aspecto, conseguir fazer entender-se, de certa forma, superaria a barreira do idioma, pois permite trocar informações que favorecem a tomada de decisões e o aprendizado, ainda que limitado.

Se a conhecida mímica usada em países onde não temos a menor ideia de como nos comunicar (saudades, República Tcheca!) pode gerar confusões, a comunicação iconográfica e visual parece cumprir, ainda que de maneira limitada, esta função.

Ideogramas japoneses

Voltamos à era dos hieróglifos?

A escrita sagrada utilizada por diversos povos da antiguidade e popularmente remetente aos egípcios utilizava, entre outros símbolos ideogramas, imagens únicas que remetiam a uma ideia ou conceito, similar, neste aspecto, aos ideogramas japoneses e chineses, por exemplo.

love amor coração heartOlha bem pra não tatuar o negócio errado, heim!

Mas o que isso tem a ver?

Segundo o Global Language Monitor, a “palavra” mais utilizada no ano de 2014 não foi propriamente uma palavra, mas um emoticon.

<3

Emojis no lugar de palavras no iPhoneAlém de camisetas onde você pode apontar o que quer quando viaja, a incorporação dos emojis como representação visual de um significado parece estar avançando tanto como código comum (independente do idioma) como para simplificação e consequente aceleração da comunicação.

O novo sistema operacional da Apple para iPhones e iPads (iOS 10) trará, entre outras coisas, uma curiosa atualização no aplicativo de troca de mensagens proprietário – o iMessage -, a possibilidade de substituir palavras por emojis.

Em uma controversa declaração, Craig Federighi, VP de Engenharia de Software da empresa do tio Jobs, prevê que “as crianças de amanhã não entenderão o conceito de um idioma inglês”.

Ainda haverá muita discussão, em diversos idiomas, se isto significa um novo idioma mundial ou a versão digital da Torre de Babel. E, como sempre digo, em Klingon, ghItlhpu’DI’ neH nuq ‘oH.

JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.

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