HDR avança nas telas de TV feitas no Brasil

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Em fevereiro do ano passado este que vos escreve editou um texto sobre o avanço na captura de reprodução de imagens usando o método chamado de HDR.

Ressuscitando o assunto de forma sucinta, basta explicar que HDR ou High Dynamic Range é o método desenhado para aumentar a faixa dinâmica da diferença de luz na imagem capturada, aumentando o detalhamento das zonas de sombra e a definição da imagem como um todo. O processo já era usado em fotografia digital em câmeras equipadas com esta opção e foi migrado para as imagens em movimento.

Agora, a surpresa é o lançamento no Brasil de telas de TV com recursos de imagem HDR. No momento, LG e Sony estão engajadas na produção deste tipo de produto. A LG apresenta um clipe promocional, postado no YouTube, a este respeito:

 

https://youtu.be/kdm99eiCpqE?list=PLBtp_AFLHDXH3wlluTCsCt0Cl-H0Y6jT0

 

Os modelos lançados invocam uma compatibilidade com mais de um método de codificação de imagens com HDR, mas dão ênfase ao licenciamento de uso do Dolby Vision (LG), que é explicado no texto da coluna citado anteriormente.

As novas telas trabalham também com tecnologia de Pontos Quânticos (“Quantum Dots”), explicada no ano passado nesta coluna.

As telas com QD (ou PQ, se quiserem) conseguem uma maior uniformidade na reprodução de cores, ao substituir a emissão do LED branco convencional, que exibe pico na região do azul, desta vez combinando LED azul (fonte emissora de luz) com o amarelo obtido pela excitação eletrônica dos QD, fornecendo luz branca sem picos e ampliando assim toda a gama de cores na tela da TV.

Cadê a mídia?

Para poder aproveitar a nova função HDR o usuário precisa primeiro adquirir um leitor de mesa capaz de reproduzir Blu-Ray 4k (UHD) ou receber um serviço de streaming compatível. A mídia propriamente dita precisa também ter conformidade de codificação do algoritmo HDR padrão. Os discos Blu-Ray com HDR obedecem às especificações SMPTE (HDR10), mas caberá aos estúdios a adoção de algum outro algoritmo, como, por exemplo, o Dolby Vision.

O HDR10 é um padrão que deve estar contido em todos os modelos. O 10 da sigla significa que ele tem um bit depth de 10 bits. O aumento de bits significa na prática aumentar a gama de cores a serem reproduzidas, dando um maior número de gradações na tela.

O Dolby Vision estende o bit depth para 12 bits, mas o seu uso obriga a inserção de um chipset dedicado. Em qualquer formato a tela de TV precisa ser capaz de exibir a gama de cores necessária, no caso reprodução WCG (“Wide Color Gamut”), parte dos padrões Rec.2020 para sinais UHD.

A LG, Sony ou qualquer outro fabricante que se proponha a fabricar uma tela sem problemas de compatibilidade deverá oferecer suporte a todas estas especificações, começando pelas normas SMPTE.

O leitor desta coluna, uma vez interessado pela nova tecnologia, precisa ficar atento para o fato de que existem no mercado leitores de mesa que alcançam 4k por upscaling e trabalham apenas com mídia Blu-Ray convencional. Nenhum desses aparelhos será capaz de reproduzir um disco Blu-Ray 4K nativo!

Além disso, é preciso destacar que, em princípio, toda e qualquer codificação HDR contida no disco Blu-Ray 4K só será reproduzida como tal se encontrar uma tela capaz de decodificar o sinal com HDR, caso contrário ele será ignorado.

Em resumo, para se obter reprodução plena de todos os recursos contidos nos discos Blu-Ray 4K será preciso que a tela de TV tenha capacidade para 4K e HDR, de preferência com a inclusão de Pontos Quânticos (QD).

Se a reprodução de um Blu-Ray 4K for feita em uma tela de 1080p (HDTV) a reprodução será idêntica a de um disco Blu-Ray standard, que tem esta resolução.

Observações preliminares

Este fim de semana eu me dirigi à loja Fast do Shopping Tijuca, onde sou cliente, e fui atendido com gentileza e paciência pelo vendedor Alex, a quem aproveito para agradecer de público pela atenção dispensada.

É praticamente impossível para mim avaliar e tirar conclusões sobre telas dentro de qualquer loja, sem o auxílio de um material de referência. E a realidade é que os analistas que publicam os chamados reviews lançam mão de colorímetros e programas de computador para tirarem qualquer conclusão a respeito de performance.

A minha experiência com HDR é limitada e vem de experiências que fiz no passado com fotografia estática, muito útil aliás para se entender os princípios de funcionamento deste tipo de tratamento da imagem.

À primeira vista, a tela HDR não impressiona, mas é fácil de explicar por que: no momento da demonstração o aparelho exibe uma imagem simulada. Seria preciso que na revenda o lojista tivesse um vídeo de demonstração codificado com HDR, mas infelizmente não foi o caso.

Da mesma forma o uso de Pontos Quânticos não consegue mostrar a que veio. Ao lado de telas que usam tecnologia OLED, a comparação chega a ser desastrosa, em favor dessas últimas. Se não fosse o questionamento de durabilidade do OLED, que perdura até hoje, o uso de LED na beirada da tela já estaria ultrapassado e incapaz de mostrar as suas potenciais virtudes.

A tela de OLED exibe um nível de preto real, enquanto que as de LED ainda vazam luz do backlight em abundância. Se isto irá impressionar o consumidor não exigente é outra história. Segundo o vendedor da Fast a maioria não se interessa pela tecnologia do momento, e não se pode condená-los, não só pela dificuldade visual de perceber melhoramentos, como também pelo alto preço do varejo praticado para lançamentos.

Talvez esteja aí o maior empecilho para que as novas telas tenham sucesso no mercado, ainda mais agora que telas HDTV convencionais exibem uma imagem bastante satisfatória para qualquer consumidor.

Nós que acompanhamos o desenvolvimento da tecnologia poderíamos estar ansiosos em adotar o Blu-Ray 4K com HDR e som 3D. A ausência desta mídia no mercado local, entretanto, é reveladora da insipiência consumidora. A quantidade de DVDs lançados continua superando a de discos Blu-Ray, indicando que a indústria parou de apostar na alta tecnologia.

Claro que tudo isso um dia poderá ter um fim, mas seria preciso lançar mão da cartomante de plantão para saber quando.

Coerentemente, o número de players lá fora ainda é limitado. Sony, Samsung e Panasonic disputam a preferência em um espaço de mercado restrito.

O custo para a implantação de um sistema HDR competente exigirá um investimento financeiro considerável, e com a escassez de mídia rotativa o usuário teria que se limitar a serviços de streaming, se e quando eles forem oferecidos.

A prática tem mostrado que esses serviços não conseguem exibir uma imagem 4K convincente. Alguns programas em 4K têm uma imagem que consegue ser pior do que a da HDTV (1080i/p) convencional.

Outro detalhe que vem me chamando a atenção constantemente é a especificação citada para remasterizações de negativos em 2K de resolução, plenamente satisfatória para negativos 35 mm. Mas, como passar a master para 4K de modo a lançar em disco?

Se for para fazer upscaling eu não preciso de mais nada a não ser um bom player e uma tela 4K. Melhor ainda se o player ou o processador de vídeo conectado forem equipados com chipset dedicado. Neste caso, a mídia 4K perde totalmente o sentido, a não ser que nela esteja incluída a tecnologia HDR.

E a tecnologia acontece em saltos. Nem terminamos de tratar do vídeo em 4K e agora se fala em 8K. O leitor pode fazer a seguinte experiência: acesse o YouTube e tente reproduzir qualquer coisa em 8K.

image001

 

A resolução está lá, mas o computador terá dificuldades em reproduzi-la, nem tanto pelo hardware da máquina, mas pelas demandas de chegada do sinal, inclusive com a melhor banda larga que o usuário tiver.

É preciso um pouco de paciência em tudo isso. Até prova em contrário, eu acredito que o mercado não comporta assimilar o avanço da tecnologia sem ter meios para usufruí-la.

Nesta Olimpíada, a Rede Globo aproveitou para testar a transmissão em 4K pelo ar. Para receber o sinal seria preciso uma TV com o sintonizador provido do decodificador necessário. As atuais não conseguem, talvez os novos lançamentos sim.

Mas, a questão que fica será: o aumento em qualidade compensa para o que é transmitido? Teoricamente, sim, mas e aceitação pelo público? Será este capaz de discernir e exigir tal demanda? [Webinsider]

. . . . .

Leia também:

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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4 respostas

  1. Nolan, você sabe que eu concordo contigo, e conheço bem o teu ponto de vista nesses assuntos.

    Mas, cabe uma observação: eu sei que é modismo da turma da Globo, mas o fato é que o SporTV gravou quase tudo da Olimpíada em 4K, e a TV Globo transmitiu e deixou para quem quiser ver a festa de abertura em 4K-HDR, acredite se quiser. Eu assisti ao material gravado e sou testemunha que a imagem é belíssima.

    A questão que fica é: quem conseguiu assistir isso ao vivo? E quem irá se lançar em uma despesa absurda, sem ter certeza de que a tecnologia continuará a ser usada no futuro imediato? E quem de fato entre nós irá apreciar este esforço tecnológico todo?

    Vale lembrar que muito do material HDR oferecido por streaming é de qualidade no mínimo duvidosa, pelo menos no pouco que eu já vi até agora!

  2. Paulo,moramos no Brasil.Pais agricola
    Esqueça Dolby Atmos,3D,Bluray 4k e olha…até mesmo BluRay normal. Ninguem aqui,fora uns poucos como “nóis”
    está interessado nas constantes e chatas (algumas burras) evoluções da tecnologia.
    A Globo,por exemplo,não está mais transmitindo em stereo.Pelo menos não parece nem soa como…Até eu acho que para tudo há limites.Pontos quanticos,Dolby vision? E o filme? O conteudo? 1080 já basta para 99,9 % dos brasileiros! Eu cá tenho certeza de que em casa assisto melhor imagem do que qualquer cinema…Esses fabricantes estão loucos…exemplo: e o 3D? Como fica quem comprou discos…e óculos…??? Abração

  3. Olá, Lee,

    Você tem toda a razão e observa o mesmo que eu.

    Não é de hoje que eu vejo pessoas virando as costas para a tecnologia, sem falar na alta tecnologia, que virou um nicho consumidor.

    Mas, daí a indústria virar as costas também a coisa muda de figura radicalmente. Com a economia do jeito que está a importação de bens de consumo implica em um gasto e aborrecimento absurdos. E o colecionador de filmes, vai fazer o quê? Ou abandona o hobby ou se sujeita a pagar um preço injusto.

    No caso específico do HDR concordo contigo que o preço de uma TV com este recurso só por conta do streaming definitivamente não compensa.

    Como hobbyista eu sou 100% a favor de lançamentos com inovações tecnológicas relevantes, e o HDR é um deles.

    Por outro lado, eu tenho consciência de que não sou formador de opinião nem guru de áudio ou vídeo. Então, porque escrever e me dar ao trabalho de tentar ser didático?

    Porque foi assim que eu levei a minha profissão a vida toda: o conhecimento, mesmo que modesto, deve ser passado adiante, e de forma sacerdotal. Assim faz o bom educador, os outros usam a profissão para enaltecer seus egos. Em ciência a mesma coisa: aprendi que não deve manter nos protocolos os resultados das pesquisas, é obrigação divulgar por escrito ou oralmente!

    Até o ano passado não se falava por aqui em “Quantum Dots”, que eu me lembre. Eu não só escrevi sobre isso como tentei traduzir o termo para “Pontos Quânticos”, que por coincidência foi o que outros sites e a própria indústria usaram. Exceto que em lugar algum alguém se propôs a dar detalhes sobre esta tecnologia.

  4. olá Paulo,

    O formato Blu-ray não pegou aqui infelizmente, e o BD 4k creio eu que nem vai da as caras por aqui, conheço muita gente que compraram leitores de mesa BD, e nunca assistiram a mídia física no mesmo, usavam DVD e consecutivamente venderam seus players, alegando desconhecimento da mídia BD, sem falar que o mercado de home-vídeo nacional, não estão mais dispondo de trazer lançamentos pra cá, só vão lançar em DVD, e pelo preço abusivo de 39,90 no lançamento. Paulo, falo isso pois os fabricantes não estão com players de BD nos sites para vender, ai te pergunto, como podem lançar tecnologias novas de tela se não existe conteúdo adequado para tal, mesmo o streaming Netflix fica abaixo da qualidade de um arquivo digital bem feito, imagine um disco Bluray.

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