É preciso entender algumas coisas básicas sobre esse tema, o modelo social do ensino.
A escola forma pessoas para viver numa determinada sociedade.
O modelo desta sociedade formatará a escola, pois não adianta formar um jovem para viver numa sociedade que não existe, na qual ele não terá ferramentas para sobreviver e prosperar.
Muitos verão nestes dois itens acima o aspecto cultural, religioso e ideológico da relação escola-sociedade e isso já foi tema de milhares de livros.
O papo aqui é outro muito menos explorado.
A sociedade de maneira geral vive sob uma plataforma tecnológica-informacional.
Muito do que se faz não tem nenhuma relação com esta plataforma, mas muito tem.
Não percebemos isso, pois as plataformas tecno-informacionais se tornam invisíveis com o tempo. Nosso cérebro, que é mais esperto do que nós, precisa tornar neutro tudo aquilo que não lhe ameaça.
Mudanças sociais profundas
Revoluções cognitivas são fenômenos sociais cíclicos que modificam estas plataformas tecno-informacionais, que sustentam o modelo da sociedade.
Tecnologias de trocas como a linguagem oral, a escrita, o rádio, a televisão e agora as opções digitais são os canais que o Sapiens se utiliza para sobreviver.
Estamos fazendo uma espécie de transplante das veias humanas com todo mundo vivo.
Quando mudamos esta plataforma tecno-informacional, a sociedade muda de alguma forma, mais ou menos dependendo de alguns fatores:
- a taxa de aumento demográfico passada, que gera complexidade e demanda por plataformas tecno-informacionais cada vez mais sofisticadas;
- e o tipo das tecnologias de trocas que são introduzidas, principalmente a sua topologia mais ou menos centralizadora ou descentralizadora.
Assim, quando temos revoluções cognitivas – o principal fenômeno na Macro-História do Sapiens – temos mudanças sociais profundas que vão gradualmente mudando a sociedade de forma, muitas vezes, imperceptível das suas verdadeiras causas.
Muitos enxergam tais mudanças e procuram entendê-las. Tenho me dedicado a essa tarefa nos últimos 20 anos.
Mudança radical oculta
Posso dizer que há algo mais visível que é a mudança radical da forma de circulação da informação na sociedade. Porém, outra mais oculta que é o início da alteração do modelo de administração da própria espécie.
Quando temos revoluções cognitivas podemos observar, na sequência, revoluções de ideias e depois de administração, como foi com a chegada da prensa, em 1450, que viabilizou a atual sociedade moderna.
Ou a chegada do alfabeto grego, que deu partida ao mundo ocidental como conhecemos hoje.
Na verdade, procuramos criar modelos administrativos mais sofisticados para lidar melhor com a complexidade demográfica progressiva, já que somos a única espécie viva do planeta (que vive em grupos) que cresce indefinidamente.
Não podemos analisar a mudança no ensino de forma isolada, sem entender que este será espelho da sociedade futura.
E que a sociedade é uma tecno-sociedade, que muda o modelo de administração de forma incremental ou disruptiva, conforme a demanda demográfica e oferta tecnológica-informacional disponível.
Não estamos mudando a escola, mas a sociedade, que começará, como já iniciou, a pedir um novo modelo de ensino.
A revolução digital, assim, está alterando a administração da sociedade e o ensino terá que se moldar ao novo modelo que está surgindo.
Não se trata de mudança informacional apenas, mas administrativa, que mudará o modelo social e de ensino para sempre.
Mais detalhes no próximo post, a parte 2. [Webinsider]
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Pós-escrito do livro Ensino 3.0: a wazerização da escola. Baixe aqui.
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Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.
Uma resposta
Muito se fala em motivação e autonomia em sala de aula, algo que de fato considero importantissimo para o processo de ensinar e aprender, mas de fato poucos educadores e administradores de escolas no mundo entenderam essa nova ordem digital e o impacto que ela tem na educação. E digo mais, não acredito que empresários também tenham entendido como a revolução digital impacta a forma de administrar o trabalho ou até mesmo o próprio conceito de trabalho.
Parabéns pelo texto e não vejo a hora da segunda parte!
🙂