A formação de pares em apps de relacionamento

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Apps de relacionamento: perfis com filhos

Em maio de 2017, diversos veículos de mídia como Revista Crescer, Estadão, Catraca Livre, Editora Abril, UOL, entre outros, destacaram um relato atribuído a uma professora de 27 anos chamada Fernanda Teixeira, que contava sua experiência no aplicativo de relacionamento Tinder atrelada ao fato de ser mãe solteira.

Fazendo breve uma longa história, segundo este relato – cuja veracidade do ocorrido em si não pôde ser confirmada pelos veículos de mídia (o que não significa que não ocorreu) -, Fernanda expunha que o fato de ser mãe resultou em comportamentos misóginos e agressivos dos potenciais pares dentro do aplicativo.

Por outro lado, em um bate-papo com uma amiga instagram-fitness-digital-influencer com pouco mais de 40 mil seguidores, foi mencionado que as fotos postadas onde ela aparece em trajes que expunham o corpo (abdômen, pernas) tinham, segundo estimativas dela, um número 50% maior de likes versus as fotos sem exposição do corpo.

Quem tem mais likes?

Bem, com estas premissas, juntamente com colegas da ESPM (agradecimentos à Eva Farah, Tuila Securato, Ana Luiza Borges e ao Prof. Dr. Matheus Ponchio), resolvemos confrontar estas duas variáveis em uma simulação.

Afinal, os homens que buscam relacionar-se com mulheres prefeririam aquelas com ou sem filhos? Com ou sem exposição do corpo?

Olhando estas variáveis de forma independente você pode antecipar algumas respostas. Mas, e quando estas duas variáveis são cruzadas? Mais likes seriam dados a mulheres com filhos que expunham seu corpo ou a mulheres sem filhos que não expõem o corpo?

Como funciona a seleção de pares em sites de relacionamento

Antes de mais nada, vale frisar que não é intenção discutir se é relevante para a vida das mulheres ou da existência humana se homens dão ou não like ou qualquer outro pensamento que questione a relação entre os gêneros. O objetivo do experimento era, simplesmente, avaliar este comportamento (a seleção de potenciais pares em apps de relacionamento), algo sabido e comum. Este texto traz o resultado da pesquisa e não reflete um julgamento de valor ou opinião de seus autores sobre este ou qualquer outro tema relacionado.

Isto esclarecido ☺, vamos à….

Construção dos cenários

Em agosto de 2017 fizemos um experimento between-subjects (onde cada pesquisado visualizava apenas UMA das combinações possíveis), com desenho fatorial 2×2, que cruzava os seguintes cenários (células experimentais):

Teste para likes em apps de relacionamento

Para que a mensuração pudesse refletir uma intenção, ao invés da dicotomia “sim / não”, consideramos a “propensão a dar like”, usando uma escala (Likert de 7 pontos, ou seja, variando entre 1 e 7) a partir da pergunta: “Ao olhar esse perfil (foto e descrição), qual a probabilidade de você dar like?”.

Da mesma forma, para minimizar a influência da atratividade da modelo utilizada, tivemos dois perfis distintos, previamente validados a partir de um total de 5. Para facilitar, repasso os resultados de apenas um dos perfis (adiantando que o outro comportou-se de maneira similar).

Assim, considerando apenas uma ‘modelo’, cada homem se deparava com um dos 4 seguintes perfis em uma ferramenta de pesquisa:

Com exposição do corpo ou sem exposição do corpo

Vamos ao resultado!

Descomplicando a análise científico-acadêmica, 369 homens responderam à pesquisa (365 heterossexuais e 7 bissexuais) considerando as duas ‘modelos’. Para garantir que haviam reparado nas variáveis que estávamos manipulando (o fato da mulher estar ou não exibindo o corpo e ter ou não filhos), foram incluídas, ao final, perguntas de controle que comprovavam se o respondente havia notado estas características do perfil que visualizou.

Após os devidos filtros e eliminação daqueles que foram invalidados pelas perguntas de controle, restamos com 198 participações válidas (para ambas modelos). Infelizmente, pelo curto espaço de tempo que rodamos esta pesquisa, não chegamos a atingir um número ideal de respondentes para cada cenário (30), de forma a validar estatisticamente os números. Porém, ainda assim, os resultados obtidos são bem interessantes!

Para as duas modelos (ruiva e loira), a simples exposição do corpo aumenta a probabilidade de os homens darem like (o que, popularmente, seria esperado); o fato da mulher ter filhos reduz esta probabilidade (confirmando o que a professora havia relatado em seu Facebook). Ao combinar estas duas variáveis, contudo, a conclusão que chegamos é que o fato de ter filhos influencia mais a redução da probabilidade de dar like do que a exposição do corpo a aumentaria.

Sendo curto e grosso, os homens pesquisados têm maior aversão a mulheres com filhos do que atração por mulheres que expõem o corpo.

O gráfico abaixo mostra as notas médias dadas à modelo em cada uma das 4 situações possíveis (com ou sem exposição do corpo; com ou sem filhos):

Com exposição do corpo, sem exposição do corpo, com filho, sem filho

Por não termos conseguido tantos respondentes (198 no total, 21-22 por célula/cenário), qualquer filtro sociodemográfico que aplicássemos não seria estatisticamente válido (como, por exemplo, saber a probabilidade de like apenas entre aqueles homens que possuem filhos; ou por faixa de renda ou faixa etária).

Mas, como tudo na vida, temos infinitas possibilidades. Abre-se a porta para quem quiser replicar ou alterar a pesquisa. Que tal saber a opinião das mulheres? Ou ainda considerar outras variáveis nesta seleção? Na célebre frase do astrofísico Neil deGrasse Tyson, o bom da ciência é que ela é verdade, você acredite nela ou não.

Mais informações sobre o experimento

Questionário utilizado.

Perfil sociodemográfico dos respondentes (com alguns agrupamentos para simplificar):

Perfis ouvidos

Análise de variância (ANOVA)

Amostra: ter ou não filhos | Colunas: sem ou com exposição do corpo

teste fator duplo com repetição

JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.

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