Os problemas das interfaces humano–computador podem até ser óbvios. Entretanto, menos óbvias serão as suas soluções. Pode ser difícil encontrar uma solução que resolva um problema particular sem criar outros. Uma solução separada para cada problema pode resultar em uma interface muito complexa, de tal modo que seria impossível ao usuário utilizá–la.
Para Erickson, da Apple Computer, a verdadeira dificuldade do desenho de interfaces é que as soluções devem representar compromissos aos quais se chega através de negociações. As soluções assim negociadas são determinadas por uma miríade de questões de natureza às vezes política – invisíveis àqueles que estão de fora do processo de design.
A solução aparentemente linda e maravilhosa não vai dizer absolutamente nada, caso o sistema não a suporte, caso o código ocupe muito espaço ou seja lento. Além disso, devem ser levados em consideração o comportamento real dos seres humanos durante a utilização e as tarefas que os usuários desejam completar.
Mas se as soluções para problemas de interfaces envolvem compromissos, como os designers poderão determinar o que é aceitável durante a negociação e o que é inaceitável?
No caso da web, como afirmaram Nielsen e Tahir, as questões políticas internas de cada empresa podem acabar influenciando mais do que os próprios usuários… e isso não deveria ser assim, não é mesmo? Por exemplo, não é raro que departamentos lutem politicamente entre si para colocar seus conteúdos específicos na home page do portal institucional, numa batalha em que os melhores lobistas da empresa sempre acabam vencendo. Para os autores, o ideal seria sempre dar voz aos usuários – como sendo o fator chave das decisões –, além de envolvê–los durante todo o processo de design.
Entretanto, algumas vezes, trabalhar diretamente com os usuários torna–se quase impossível: por razões hierárquicas, executivos–chefes e presidentes fazem questão de revisar e aprovar as interfaces segundo seus próprios critérios pessoais. Mas, aí, esquecem–se do fundamental: que o perfil ergonômico dos usuários pode ser bem diferente do que imaginam. Além do que, as audiências estão em permanente mutação.
Departamentos e setores de empresas geralmente lutam por poder e por respeito, competindo entre si, lembram–nos Rosenfeld e Morville. Devido às suas características inerentes quanto à organização da informação e à formação de opinião, o projeto de sites e sua arquitetura informacional podem gerar uma forte disputa política subjacente envolvendo setores e pessoas.
Todos sabemos ou podemos imaginar como a luta entre visões distintas pode impactar negativamente as interfaces ou a arquitetura de um site, com prejuízos ao diálogo da organização com os seus usuários. Num projeto típico de interfaces, podem existir tantas perspectivas e interesses competindo entre si que qualquer solução só poderá emergir como um compromisso. Mas para o designer, o foco principal deverá ser sempre o usuário.
Pelas razões expostas, desenhar interfaces é um processo político. De acordo com Erickson, o número de requisitos das interfaces não só tem aumentado com o tempo, como também se diversificam as suas fontes, de tal modo que o design de uma interface bem–sucedida torna–se uma aventura multidisciplinar. A natureza de multidisciplinaridade do projeto de interfaces introduz novos problemas que são políticos por sua própria natureza.
Psicólogos, designers gráficos, escritores, ergonomistas e programadores de computador têm, todos, contribuições essenciais a agregar. Cada disciplina possui suas próprias prioridades e perspectivas, seus próprios métodos e seus próprios critérios de sucesso. E não é raro que estejam em conflito umas com as outras.
Então, quem definirá quais serão as prioridades? Quais as perspectivas de maior relevância? Que critérios de sucesso deveriam ser respeitados? Como medir os resultados?
Descobrir formas eficazes de resolver esses conflitos de abordagens não é nada simples e pode resultar numa complexa negociação. É que existem tantas informações e perspectivas competindo entre si, nos problemas de interfaces, que qualquer solução eficaz só vai surgir como fruto de uma verdadeira negociação.
Por isso, a sensibilidade quanto aos aspectos políticos internos propiciará ao designer uma maior capacidade para gerenciar os seus impactos sobre o desenho das interfaces com o usuário. [Webinsider]
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Referências
AGNER, Luiz. Diálogo usuários–organizações na World Wide Web: Avaliação ergonômica de interfaces humano–computador. In: MORAES, Anamaria (org). Design e avaliação de interface. Rio de Janeiro: Iuser, 2002. 147p.
ERICKSON, Thomas D. Creativity and design. In The art of human–computer interface design. 1990. LAUREL, Brenda, editor. Addison–Wesley Publishing & Apple Computer Inc. 534p.
NIELSEN, Jakob; TAHIR, Marie. Home page usability: 50 websites deconstructed. Indianapolis. News Riders, 2001. 322p.
ROSENFELD, Louis; MORVILLE, Peter. Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol, CA: O’Reilly; 2002. 464p.
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Luiz Agner
Luiz Agner (luizagner@gmail.com) é doutorando em Design pela PUC-Rio e programador visual do IBGE
Uma resposta
SOU PRÉ-CANDIDATA A VEREADORA, NUMA CIDADE QUE FAZ TEMPO QUE NÃO TEM UMA MULHER VEREADORA, QUERO FAZER UMA CAMPANHA COM DIFERENCIAL, PENSEI EN ELABORAR UM PERSONAGEM QUE ENDENTIFIQUE COMIGO!
DEREPENTE UMA BONECA!