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Aconteceu num dia comum, daqueles que deixamos uma série de coisas para resolver na hora do almoço. O shopping parecia a melhor opção. Poderia fazer tudo e ainda sobraria meia hora para almoçar.



Estacionei na garagem, subi, resolvi tudo e ainda sobrou um bom tempo, que aproveitei num restaurante um pouco melhor.



Paguei a conta com o cartão de crédito, como havia feito com as outras despesas daquele dia e saí para sacar algum no caixa eletrônico. Raramente ando com dinheiro em espécie, só precisava de R$ 3,00 para pagar o estacionamento.



Passei o cartão, selecionei R$ 10,00, digitei a senha e a pequena demora usual transformou–se em alguns minutos… Processando… Processando… Processando…



A máquina finalmente resolveu se comunicar comigo e a resposta foi a seguinte: “Dirija–se a outro terminal”. Onde eu estava havia uns vinte terminais e me senti um idiota digital quando comecei a passar de um terminal para outro… e cada um deles gentilmente repetia… “Dirija–se a outro terminal”.



Quando dei por mim e percebi o ridículo da situação já havia dado uma volta completa e estava de volta ao terminal onde tudo começou.



Estamos em Brasília, em um shopping no meio do nada. Eu de terno e gravata. Sem chances de sair e andar muito à procura de outro caixa eletrônico fora dali.



Fácil, pensei. Vou a uma livraria ou outra loja do shopping, compro uma revista com meu cartão de crédito e peço um troco de três reais, três míseros reais!



Lá pela quinta loja desisti da idéia. Porque o gerente que não estava lá e os juros que o cartão de crédito cobra de cada transação são terríveis, fiquei sabendo.



Era sair de uma loja e dar uma passadinha nos caixas eletrônicos torcendo para que tudo já tivesse restabelecido. Hilário para não dizer trágico. As pessoas entravam e saíam da agência digital se esbarrando na porta como formigas que perdem a trilha de feromônio. De longe dava para era perceber que nada havia voltado ao normal.



Já tive a oportunidade de conhecer o centro de gerência de agências de alguns bancos e no painel sempre via índices fantásticos de agências em perfeitas condições de funcionamento. Lembro de uma visita em que me disseram que naquele momento havia quatro agências paradas em todo o Brasil. Só quatro? Fiquei impressionado com o grau de exigência. Apenas quatro agências paradas e eles ali naquela agitação toda tentando resolver o problema. Hoje eu estava em daquelas quatro agências e não estava gostando nada disso.



Continuei minha saga e minha próxima estratégia seria mendigar. Contei minha história no balcão de informações, na administração e um monte de outros lugares até chegar finalmente à guarita de pagamento do meu ticket. Soube que só ali poderia resolver meu problema. Meu plano? Explicar mais uma vez a situação e torcer pela caridade do caixa.



Em pé na fila e morrendo de vergonha do caos que iria arrumar por ali me deparei com a salvação numa placa dentro da guarita. Senti–me o próprio Tom Hanks no filme “O Terminal”, quando ele conseguiu moedinhas devolvendo os carrinhos de malas no terminal do aeroporto.



A placa dizia: “Vinte reais de compras no supermercado dão direito a duas horas de estacionamento grátis”. Finalmente! Corri para o supermercado e peguei alguma coisa cara. Faltavam poucos minutos para completar duas horas de permanência ali naquela gaiola digital. O caixa marcou R$ 32,20, paguei com o cartão de crédito e ganhei um ficha com direito a duas horas gratuitas de estacionamento. Foi o suficiente.



Liberdade afinal!



………………



Esta não é uma história de ficção! Aconteceu realmente e acontece diversas vezes conosco em nosso dia–a–dia. Não damos atenção, pois raramente ficamos tão enclausurados. Sempre temos alternativas que nos livram de situações constrangedoras que a tecnologia nos propicia.



Acredito muito na tecnologia, mas é preciso cuidado com sua utilização e implicações, quando todas as informações e benefícios tecnológicos trafegam por uma única via. A própria internet surgiu com essa finalidade anos atrás – descentralizar e manter a informação e a comunicação seguras em caso de uma guerra.



Nossa confiança na tecnologia aumentou muito nos últimos anos. Quantas pessoas entram em um shopping sem se preocupar se têm dinheiro na carteira para pagar o estacionamento? O caixa eletrônico está lá! Quantas vezes vamos a um restaurante ou estabelecimento e ficamos surpresos se não recebem cartão de crédito, quando estamos sem cheque e sem dinheiro na carteira!



E os telefones celulares? Eles nos geram tanta confiança que muitas vezes sequer combinamos um plano “B” para um encontro ou reunião. E pior, marcamos horários e locais com displicência, porque basta uma ligação se não encontramos o local marcado ou se chegamos antes ou depois do horário.



Por um lado isso é muito bom, significa que a tecnologia está realmente com índices de eficiência elevados. Por outro lado, estamos mais enclausurados e dependentes da tecnologia para tudo. Em pouco tempo mal chegaremos em casa de carro sem um navegador com GPS, como já acontece em grande parte da frota do Japão.



Por favor, não me entendam mal. Não proponho uma volta ao passado nem a migração em massa para uma ilha deserta. Toda noite conecto inúmeros aparelhos na tomada que precisam acordar recarregados no dia seguinte. Eles garantem o perfeito funcionamento do meu dia pessoal e profissional. Telefones celulares, PDAs, câmeras digitais, laptops.



Temos que recarregar tudo todo dia. Assim fazemos e faremos cada vez mais, mas é preciso tomar cuidado com o mundo do futuro. A tecnologia, lembro bem, deveria nos libertar e não nos aprisionar. Assim profetizaram Toffler, Nasbitt, Lévy, Oliver e tantos outros.



Bem–vindos ao futuro! [Webinsider]



Avatar de Vladimir Campos

Vladimir Campos é escritor. Veja mais sobre ele.

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