O estouro da bolha foi catártico. Legiões de bons profissionais perderam emprego e negócios e, inconformados com a situação, passaram a pensar por que isso tinha acontecido. Os registros de tais reflexões ainda podem ser encontrados nos arquivos do Webinsider.
Antes disso, não havia tempo para pensar. Paulo Veras, autor de Por Dentro da Bolha e ex–diretor da Tesla, conta que no ápice da bolha, suas jornadas de trabalho passavam de 16 horas diárias, incluindo finais de semana. Nesse ritmo, mentes sanas não conseguem lidar com problemas de conjunturas maiores. Foi preciso deixar a agência e passar algum tempo viajando pelo mundo afora para aí sim escrever o referido livro.
O mercado pisou no freio e teve o tempo para mudar. Os termos Plano de Negócios, Marketing, Usabilidade, Arquitetura da Informação e até mesmo Design deixaram de serem usados apenas em discursos da boca–pra–fora. Hoje o mercado já sabe o valor destas palavras, mas ainda está em fase de reconhecimento de campo, tocando apenas nas pontas dos icebergs.
O que me preocupa é se ficaremos apenas nas pontas até que um Titanic se choque contra nós de novo. O mercado superou a crise e os bons profissionais estão, no momento, atolados de projetos. No meio do corre–corre, é difícil encontrar tempo para pousar aquela visão crítica sobre seu próprio trabalho. E sem auto–crítica, não há avanço.
A Ana Clara chamou a atenção para os problemas pessoais que essa rotina avassaladora provoca (veja ao lado, “Em busca da Terra do Nunca”). Não é só indivíduo que perde com isso, perde também o profissional, perde a empresa em que trabalha, perde o mercado, perde o país.
Precisamos parar de pensar somente a curto–prazo. Temos que nos afastar de vez em quando da linha de produção, senão só teremos Fords T pretos pro resto da vida! Nosso campo ainda é novo, cheio de flancos a serem explorados.
É preciso coragem para lançar novos produtos sem renda garantida a curto–prazo, como está fazendo o Google. Picasa, excelente organizador de imagens; Orkut, a Grande Rede social; Gmail, o e–mail que não pára de aumentar o espaço; fora as iniciativas ainda em laboratório. Ninguém sabe exatamente o que estão planejando, justamente porque sua estratégia é de longo prazo.
Esse tipo de planejamento é muito difícil de ser previsto, pois envolve uma gama muito grande de variáveis. Somente seus autores podem entender a estratégia e isso permite ao Google se mover sorrateiramente. De uma hora pra outra criam um novo mercado e já estão dominando, como no caso dos anúncios contextuais Adsense.
Se não paramos para pensar, como teremos idéias geniais? Idéias geniais se formam no inconsciente o tempo todo, porém é preciso uma ocasião propícia para que sejam transportadas e validadas no consciente.
O computador é similar a uma miniatura de ambiente de trabalho: é preciso ficar ligado em várias coisas ao mesmo tempo. Existe grande pressão sobre prazos, a posição não é confortável, os resultados nunca são suficientes e etc. Portanto, como confirma Donald Norman, para ter boas idéias, é melhor se afastar do computador.
Se em algum momento um briefing cair, um projeto agourar ou você for despedido, conforme–se: é sinal de que você não parou para pensar enquanto ainda era tempo. Agora que não dá mais pra voltar, aproveite e faça bom proveito do precioso tempo que lhe é concedido. Muito antes do que você imaginar, você terá novas oportunidades e estará mais preparado para enfrentá–las. Só não esqueça da lição aprendida 😉 [Webinsider]
Frederick van Amstel
Frederick van Amstel (fred@usabilidoido.com.br) é editor do Usabilidoido e mestrando em Tecnologia pela UTFPR.