Gerenciamento de projetos: organizações principais

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Continuando nosso estudo, vamos agora abordar as duas principais organizações dedicadas ao gerenciamento de projetos e suas certificações e publicações.

Antes, é preciso esclarecer. As orientações fornecidas por estas organizações são frequente e erroneamente entendidas como metodologias, não pretendem enveredar por esta via. Os entusiastas do assunto, o público interessado, os profissionais certificados e os próprios membros criaram um mito.

Um bom exemplo prático do que é uma metodologia é aquela relação entre um mestre e um discípulo. O mestre diz ao seu discípulo exatamente o que deve ser feito e como deve ser feito. Não admite que o seu ensinamento seja alterado no momento de aplicá-lo e ao mesmo tempo garante que o objetivo seja atingido.

Nenhuma das duas organizações a seguir se propõe a isto e nem mesmo o poderia fazer através de publicações, uma vez que gerenciamento de projetos é algo essencialmente prático e vai além de orientações compiladas.

Tanto uma como outra representam a institucionalização do conhecimento. Neste caso, podemos considerar todo este movimento como gerador de normas, padrões, mas nunca regulamentos. Uma norma ou um padrão é algo gerado por uma organização reconhecida, que confere status, respeitabilidade a quem adere, mas não é obrigatório como os regulamentos que são impostos pelos governos ou agências reguladoras.

Também é raro, se não praticamente impossível, aplicar todas as orientações fornecidas por estas organizações em nosso dia-a-dia. De modo muito fácil chega-se à conclusão que aderir por completo pode se tornar contraproducente. Por isto que se costuma brincar fazendo uma alusão ao ano de fundação do PMI® (que publica o PMBoK® [1]) com a chegada do homem à Lua. Ou seja, se você quer ver o PMBoK® sendo aplicado em sua totalidade, só mesmo se você estiver pensando em enviar alguém para a Lua.

Passemos agora às organizações.

Project Management Institute – PMI®

Em 1969, nos EUA, um grupo de profissionais de gerenciamento de projetos estabelece o Project Management Institute ? PMI®.

Com o tempo e a evolução do gerenciamento de projetos, começa a ser esboçado no ano de 1983 através do PMI® aquilo que hoje conhecemos como PMBoK® (Project Management Book of Knowledge), uma tentativa de padronizar globalmente as melhores práticas em gerenciamento de projetos. Muito conhecido entre os profissionais da área, o PMBoK® é a grande sensação em termos de publicações; considerado por muitos a “Bíblia” do gerente de projetos, costuma fazer seguidores fiéis. Aqui cabe uma curiosidade: algo no PMI® mais se parece com uma irmandade detentora de conhecimentos “secretos”, o local onde seus membros se reúnem recebe o nome de Capítulo. Este nome também é utilizado por algumas organizações esotéricas para designar o local onde realizam suas reuniões. De fato, trata-se de uma grande confraria de gerentes de projetos.

O PMI® é centralizado, pedidos de filiação e certificação passam por sua sede. Atualmente conta com mais de 265.000 membros em mais de 170 países [2] e lançou no último trimestre de 2008 a tão esperada quarta edição do PMBoK®, neste momento que pode representar o auge da “moda” gerenciamento de projetos.

A certificação PMP® (Project Management Professional) fornecida pelo PMI® é a mais reconhecida, chegando a ser exigida em algumas empresas e também durante RFPs [3], sobretudo quando estamos falando de Américas. Para conquistar esta certificação é preciso submeter alguma documentação ao PMI® e realizar uma prova objetiva. Dizem alguns que para se tornar gerente de projetos em determinadas transnacionais, além da fluência no idioma inglês, basta ser um bom PMP®.

Como ocorre com tudo o que se torna popular, o PMI® é alvo de críticas, sendo considerado por alguns como uma organização tipicamente norte-americana, ou seja, comercial e com forte apelo em marketing, apesar de se apresentar como uma organização sem fins lucrativos. Contudo, a obra, os números e a influência do PMI® não deixam dúvidas da importância desta organização.

International Project Management Association ? IPMA

Fundado entre 1965-67, o International Project Management Association – IPMA [4], com o seu secretariado atualmente localizado na Holanda, é de certa maneira o “instituto europeu” de gerenciamento de projetos.

Sua estrutura consiste basicamente em congregar Associações Nacionais de Gerenciamento de Projetos ao redor do mundo; no entanto, a presença de nações europeias é marcante. Diferentemente do PMI®, que pretende padronizar em escala global orientações através de sua publicação quadrianual (PMBoK®), o IPMA considera que cada país tem sua própria idiossincrasia ao gerenciar projetos. Em outras palavras, a cultura local é considerada; assim o IPMA não se propõe a padronizar globalmente, mas a representar internacionalmente estas associações e criar um ambiente para a troca de conhecimento.

A certificação em gerenciamento de projetos oferecida pelo IPMA é bem versátil, possuindo quatro níveis (A, B, C e D) que variam de acordo com a experiência e o conhecimento do candidato. Seu método de certificação é dos mais exigentes e procura avaliar a experiência pessoal. Exame escrito, avaliação do curriculum vitae, auto-avaliação e até mesmo entrevista são meios que o IPMA utiliza para garantir a qualidade daqueles que certifica.

O IPMA é considerado por parte dos profissionais de gerenciamento de projetos como uma organização mais tradicional e discreta. Publica o IPMA Competence Baseline [5] e conta com mais de 40.000 membros em quase 40 países [6]. No Brasil, o IPMA é representando pela Associação Brasileira de Gerenciamento de Projetos ? ABGP [7] que publica o Referencial Brasileiro de Competências em Gerenciamento de Projetos [8].

Outras abordagens

Apesar da extensa influência representada pelo PMI® e pelo IPMA, o conhecimento institucionalizado em gerenciamento de projetos é mais amplo.

Na Austrália temos o Australian Institute of Project Management – AIPM [9], cujas raízes datam de 1976.

No Reino Unido há o PRojects IN Controlled Environments ? PRINCE2 [10] do Governo Britânico e que começou a ser desenvolvido em 1989. A história contada é que o PRINCE2 é extensivamente utilizado nos projetos do Governo Britânico, como também é amplamente reconhecido e utilizado no setor privado, tanto no Reino Unido quanto em outros países.

Finalmente, a Comissão Europeia, que é a instituição politicamente independente que representa e defende os interesses da União Europeia, ao patrocinar projetos recomenda o seu Project Cycle Management Guidelines [11] como referencial. Este começou a ser produzido em 1993 e desde então vem sendo atualizado.

Notas

[1] http://www.pmisp.org.br/pmbok.asp.

[2] http://www.pmi.org/aboutus/Pages/About-PMI.aspx.

[3] Request for Proposal.

[4] http://www.ipma.ch/.

[5] http://www.ipma.ch/publication/Pages/ICB-IPMACompetenceBaseline.aspx.

[6] http://www.ipma.ch/about/Pages/History.aspx.

[7] http://www.abgp.org.br/.

[8] http://www.abgp.org.br/novo/images/stories/docsdownloads/rbc_abgp_ipma_jan_2005.pdf.

[9] http://www.aipm.com.au/.

[10] http://www.ogc.gov.uk/methods_prince_2.asp.

[11] http://ec.europa.eu/europeaid/multimedia/publications/publications/manuals-tools/t101_en.htm.

[Webinsider]

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Avatar de André Luís Lima de Paula

André Luís Lima de Paula, PMP® é bacharel em administração e pós-graduado em gerenciamento de projetos em TI (abordagem PMI®).

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3 respostas

  1. Parabéns pelo artigo. Usamos aqui um dotproject para documentação e acompanhamento. O investimento foi muito bem aplicado, pois conseguimos otimizar a comunicação e tempo de desenvolvimento. Vale a pena e sou um evangelizador dos gerenciadores.

  2. Muito bom texto geral sobre o assunto.
    Cuidado apenas com uso indevido do galicismo abordagem.
    Grande abraço do amigo Norberto.

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