Aproveitando os 40 anos do homem na Lua escrevo sobre um tema que não é minha especialidade ? mas que me apaixonou, por isso, peço desculpas pelas eventuais imprecisões técnicas.
O tema é internet interplanetária. Ok, o assunto não é novo: a Wired publicou matéria sobre isso em sua edição de janeiro de 2000, mas… UAU!
E por que UAU e por que falar sobre isso agora? Simplesmente porque as coisas estão saindo da teoria e tornando-se realidade: no final do ano passado, a NASA revelou que os primeiros testes de transmissão de dados com o novo protocolo DTN (idealizado e criado por ninguém menos que Vinton ?Vint? Cerf) foram bem sucedidos.
Parenteses rápido: Vint Cerf é para muitos considerado o pai da internet (mas segundo o próprio ?um dos e não O pai?), por ter inventado o protocolo TCP/IP, que é responsável pelo envio dos pacotes de informação que fazem a internet funcionar. Fecha parênteses.
Enfim, o principal desafio para comunicação interplanetária é que se usarmos o protocolo padrão da internet (TCP/IP), os dados além de levarem minutos para chegar ao seu destino – e não milisegundos como na Terra ? ainda correm o risco de se perderem no caminho. Por isso atualmente toda transmissão é feita através de satélites, que atuam como intermediários entre a Terra e o destino final.
Como suplantar isso? Criando uma estrutura (backbone, no jargão técnico) que sustente essa comunicação e seja responsável por sua distribuição. Como é a internet que conhecemos hoje. Essa infra-estrutura será responsável por uma padronização nas comunicações, de forma que esses dados não se percam no caminho, cheguem a seu destino de modo correto e possam ser entendidos por quem os recebe, independente de nacionalidade. Novamente: como é a internet que conhecemos hoje. Dessa forma será possível uma comunicação direta ? entre planetas ou espaçonaves- sem que ela passe por satélites ou pela Terra.
Ainda em 2007 Vint previu que ?nos próximos 20, 30, 40 anos teremos um backbone interplanetário que permitirá a troca de dados entre a Terra e outros planetas e espaçonaves?. Ah, sim: ele também afirmou na ocasião que ?caberá ao Google organizar toda essa informação?. Outro parênteses: Vint Cerf foi contratado pelo Google em 2005 como Chief Internet Evangelist. Fecha parênteses.
O Google, aliás, comprou as ideias de seu CIE ao patrocinar o Google Lunar X Prize, que irá distribuir trinta milhões de dólares a quem pousar um veículo robô na Lua, andar por sua superfície por pelo menos 500 metros e ser capaz de enviar imagens e dados para Terra, entre outras atividades.
Na verdade são três prêmios: vinte milhões de dólares para quem cumprir a tarefa até 2012, cinco milhões para o segundo colocado e mais cinco milhões de bonus. A partir dessa data o prêmio diminui ano após ano para quinze milhões de dólares para quem cumprir a proeza até 2014, quando se encerra o concurso. Importante ressaltar que para participar os concorrentes devem ter 90% de seu financiamento vindo da iniciativa privada.
Mas voltando ao nosso tema: como falei no início, o primeiro teste da internet no espaço foi bem sucedido graças ao DTN (Disruption-Tolerant Networking), um novo protocolo desenvolvido por Vint Cerf, que permitiu uma transmissão de dados entre um ponto na Terra e uma nave localizada há 32 milhões de quilômetros de distância.
O próximo passo será dado no segundo ou terceiro semestre do ano que vem, quando um novo teste será realizado, agora com a participação da Estação Espacial Internacional.
Recentemente, tive o privilégio de ver ao vivo uma palestra de Vint Cerf falando sobre esse tema. Sua presença é carismática e a paixão com que transmite suas idéias realmente nos faz sentir privilegiados por vivermos em um momento de transição tão importante na história da humanidade ? o momento em que o mundo passa de analógico para digital.
Muitas vezes não nos damos conta da revolução que a internet está trazendo a nossas vidas. É preciso pessoas como ele para nos lembrar disso e também para nos mostrar o caminho a seguir.
Ah, uma curiosidade muito importante sobre Cerf: ele é um trekkie confesso (nome dado aos fãs de Jornadas nas Estrelas). Talvez isso explique seu fascínio pelo espaço, a fronteira final… [Webinsider]
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Marcelo Sant'Iago
Marcelo Sant'Iago (mbreak@gmail.com) é colunista do Webinsider desde 2003. No Twitter é @msant_iago.
4 respostas
Enquanto isso estamos com uma internet com virus agressivos, micróbrios e bactérias, também chamados de spam. WiFi gratuitas com os vírus também gratuitos. Mensagens pornográficas……
Eu gostei de seu artigo, tanto que vou acompanhar esse movimento internauta e interplanetário.
Bom noite
O tema não deixa de ser interessante. Mas é completamente despropositado antes de toda a população deste próprio planetinha de merda ter conexão à web. Antes disso, não faz sentido. Seria muito mais produtivo usar este dinheiro (sim, pq Cerf recebe, e deve receber bem por isso) para democratizar o acesso.
Enquanto isto, continuamos com relés conexões de 600K a preços exorbitantes no Brasl 🙁
A Internet é talvez a maior revolução do século XX.
É o instrumento mais democrático para acesso e compartilhamento do conhecimento produzido pelo homem. E a Internet interplanetária levará isso além.
No futuro, colônias humanas em outros planetas se comunicarão com as pessoas aqui na Terra e vice-versa utilizando essa tecnologia, ou algo mais avançado derivado desta.
Não é ficção, é o que está acontecendo. Por isso, ou nós brasileiros levamos a educação a sério neste país, para formarmos cidadãos pensantes, ou estaremos fadados a sermos meros coadjuvantes na evolução humana.