Vamos tentar ter uma visão bastante ampla, que propõe descobrir o significado mais profundo da construção de marcas.
É preciso ter a mente aberta, porque aqui existe psicologia, mitologia, marketing, branding, filosofia, motivação, emoção e grandes ideias.
As ideias não são minhas, furtei-as de um estudo feito por Margaret Mark e Carol S. Pearson, autoras do excelente livro O Herói e o Fora-da-Lei.
Afinal, que danado é arquétipo?
Arquétipo é a primeira ideia de alguma coisa, o princípio de algo.
Qual o arquétipo de uma cadeira, por exemplo? Ah, uma cadeira precisa de um assento, alguns pés e um encosto. Existem milhares de cadeiras no mundo, mas o arquétipo dela é único.
Qual o arquétipo de um herói? Super-Homem, por exemplo. Qual a graça se o Super-Homem resistisse a tudo, até a kriptonita? Nenhuma, pois ele seria perfeito. E o perfeito não nos atrai. Simplesmente pelo fato de não sermos perfeitos.
Todo herói tem sua fraqueza. Às vezes são rejeitados. Mas, no final das contas, eles se superam e largam tudo para proteger a comunidade. Eles lutam, são corajosos, encaram desafios e se sacrificam. Eles deixam a sua marca no mundo.
O psicanalista Carl Gustav Jung, em sua teoria, observou que nós compartilhamos um inconsciente coletivo.
Trata-se de um inconsciente repleto de desejos comuns. Ele observou, também, que vários mitos e narrativas – em toda a Terra – além de serem semelhantes, nos ajudam a despertar estes desejos.
Assim como o arquétipo do Herói nos motiva à coragem e honestidade, o Explorador nos motiva a pôr o pé na estrada e se mandar… seja pra onde for.
E que tal se uma marca, de certa forma, saciar um pouco esses nossos anseios?
Motivação
A teoria motivacional humana é focada nos quatro principais impulsos humanos. Ela está posicionada ao longo de dois eixos:
- Pertença/Grupo vs Independência/Auto-realização
- Estabilidade/Controle vs Mestria/Risco.
Na primeira ponta – Pertença/Grupo – sentimos uma profunda necessidade em pertencer a um grupo. Seja na universidade, seja indo ao bar com os amigos, seja uma sociedade anônima dos bebedores de cana. Enfim. E até nos moldamos para pertencer.
É diferente, por exemplo, da Independência/Auto-realização. Aqui, nós não nos moldamos. Aqui, é do nosso jeito. Queremos ficar só, refletir, decidir e conhecer o nosso Eu.
Agora imagine a seguinte situação: você quer garantir a segurança da sua família ou então… Abrir um negócio, ou, quem sabe, se tornar prefeito de uma cidade.
É aí que o nosso impulso – Estabilidade/Controle – se ativa. Queremos ter um certo controle das coisas. Na verdade, queremos ter poder nas mãos.
Já na ponta da – Mestria/Risco – lutamos pelos nossos sonhos. Temos coragem para aceitar desafios. Quebramos regras. Queremos fazer algo notável e ser lembrado para sempre.
No entanto, para nos sentirmos completos, buscamos a todo instante o equilíbrio. O equilíbrio de estar no centro desses eixos, mas isso é quase impossível. Estamos sempre pendendo para um lado, pois os nossos desejos mudam a cada momento.
Descrevo abaixo, para cada impulso humano, três arquétipos e seus principais lemas:
Independência/Auto-realização
– Inocente, “Somos livres para ser você e eu”
– Explorador, “Não levante cercas à minha volta”
– Sábio, “A verdade libertará você”
Pertença/Grupo
– Cara-comum, “Todos os homens e mulheres são criados iguais”
– Amante, “Só tenho olhos para você”
– Bobo da Corte, “Se eu não puder dançar, não quero tomar parte da sua Revolução”
Mestria/Risco
– Herói, “Onde há vontade, há um caminho”
– Fora-da-lei, “As regras foram feitas para serem quebradas”
– Mago, “Pode acontecer!”
Estabilidade/Controle
– Governante, “O poder não é tudo… é só o que importa”
– Prestativo, “Ama teu próximo como a ti mesmo”
– Criador, “Se puder ser imaginado, poderá ser criado”
Existem marcas, grandes marcas, que incorporam e moldam toda a sua comunicação baseada em um único arquétipo.
Se você pegar a Coca-Cola, por exemplo, vai perceber que ela propaga um mundo melhor. Um mundo feliz. “Viva o lado coca-cola (feliz) da vida.”, “Viva o que é bom”, e agora, recentemente, “Abra a felicidade”.
Pura inocência. O inocente quer um mundo melhor, mas não faz nada para tê-lo. Ele apenas o espera. As pessoas saciam esse anseio, de certa forma, bebendo coca-cola. A coca-cola vende felicidade, não apenas um refrigerante de cola.
Estes comerciais retratam bem a inocente Coca-Cola: confira aqui e aqui.
A Pepsi, por outro lado, nos diverte utilizando o arquétipo do Bobo da Corte.
Sim, porque se a Pepsi fosse inocente, seria muito difícil aumentar o seu market share já conquistado pela Coca.
Sua comunicação tem que ser diferenciada, já que o produto nem é tanto. Confira aqui, aqui e aqui alguns filmes dos limõezinhos da Pepsi e um dos M&Ms. O Bobo da Corte é assim: malandro, animador, palhaço, tolo e o comediante.
Agora, não existe comercial melhor que defina uma marca do explorador como este aqui.
A Levi’s, nesse filme, nos impulsiona a ir ao encontro da natureza, explorar o mundo. E é isso que o explorador, no seu nível mais alto, procura.
O jipe Wrangler, com seu slogan “leve seu corpo aonde sua mente já passeou”, é fantástico para quem quer pôr o pé na estrada e conhecer novas trilhas.
Produtos ou serviços que servem de acessórios para a “jornada exploratória” das pessoas se encaixam perfeitamente nesse arquétipo: automóveis, roupas, mochilas, barracas, cafés…
Sim, cafés, por que não? Afinal, você precisa dar uma paradinha no meio da estrada. Não é mesmo? A Starbucks é uma marca forte dos exploradores. Lá, o café é do seu jeito.
A Nike, por exemplo, é uma marca do Herói. Ela nos motiva quando somos impulsionados pela Mestria/Risco.
Não é a toa que ela patrocina vários times competitivos. Nós compramos Nike para vencer competições. E ela nos motiva a não desistir nunca. “Just Do It (Apenas Faça)”.
Use Nike e vença, ponto final.
Marcas de esportes, geralmente, caem bem nesse arquétipo. Confira o filme.
E a Harley-Davidson? Onde você acha que se encaixa?
Sem dúvida no fora-da-lei. Quem sobe em uma Harley não tá nem aí para as regras. Eles querem mesmo é quebrá-las.
O executivo da empresa disse certa vez: “o que vendemos é a oportunidade de um contador de 43 anos se vestir de couro preto, sair de moto por aí e ver as pessoas com medo dele”. É exatamente isso. Olha esse filme.
Enfim, poderíamos citar várias marcas para vários arquétipos, mas seria um texto muito grande.
Entendendo bem o conceito e o estudo de arquétipos, é possível dar um significado profundo e uma vitalidade rara à marca.
Apesar de ser um estudo novo – de uns 10 anos pra cá – ele já está sendo aplicado por grandes marcas.
Analise com calma a história da sua marca, os seus valores básicos e o seu diferencial. Como a empresa começou? O que as pessoas pensam sobre ela?
Busque a alma da sua marca e incorpore um arquétipo.
As pessoas cada vez mais vão se identificar com a marca e perceber, subjetivamente, o seu significado mais profundo. E aí, meu amigo, não tem concorrente que segure. [Webinsider]
Thiago Nunes
Thiago Nunes (thiago@webinterativa.com.br) é sócio e diretor de projetos da Webinterativa. Tem um site pessoal e um perfil no twitter (@thiagomoch)
9 respostas
Maravilha! ajudou bastante estou desenvolvendo uma logo pra minha marca eme ajudou muito
Gostaria de saber qual é meu arquétipo pois estou passando por desafios em meu negócio que é de prestação serviços sou cabeleireira porém não tô muita dor no braço se puder me ajudar
Escrevo 6 anos após a data de lançamento deste post para elogiar este material rico e esclarecedor. Parabéns.
Este tema foi exaustivamente estudado e apresentado em livro por José Martins. Veja a indicação bibliográfica:
MARTINS, José. A natureza emocional da marca: como escolher a imagem que fortalece sua
marca. São Paulo: Negócio Editora, 1999.
Uau, muito bom este post. Eu tenho lido tudo que encontro sobre Branding, adoro gestão de marcas, me formei em marketing e hoje estudo redação publicitária na Miami Ad School. Eu gostos dos 2 lados da comunicação, o desenvolvimento de marca e a comunicação para o consumidor.
Este post não só me fez entender o que é o Branding, como me ajudou a perceber que se eu conhecer ou conseguir identificar o arqueótipo de uma marca, eu consigo criar na publicidade com mais facilidade, eu não perco de tempo em outros caminhos que não é a marca.
Não é só o conceito de marca, mas a personalidade ou a identidade do arqueótipo, é a motivação que eu tenho que mostrar nas peças.
Amei. A partir de agora vou pensar em arqueótipos, com certeza vai facilitar minha vida no curso.
Obrigada.
Excelente artigo.
Nunca tinha dado valor a segmentação de mercado, sempre deixei em segundo plano. Mas depois desse artigo muitas coisas fizeram sentido pra mim.
Abs.
Parabéns pelo artigo e seguirei seu conselho.
Interessante esta matéria, pois ela envolve tudo, desde a criação do logotipo da marca, até nas cores que serão utilizadas. Este assunto de arquetipos se estende até as famosas “mensagens subliminares”.