Houve um tempo digital em que ninguém gostava de revelar a própria identidade na rede mundial de computadores, a tal da internet, cada um tinha seu “nick_name”. Entrar em comunidades virtuais ou salas de bate-papo para conversar, ou comentar qualquer um assunto em fóruns de discussão, sempre usando um avatar.
Um tempo onde o maior desafio dos portais e nascentes negócios virtuais era saber quais eram aquelas milhares de pessoas que diariamente acessavam este ou aquele serviço virtual. Hoje a história mudou.
Uma nova geração está no comando da rede, uma geração que busca autonomia e tem voz própria e possui novos códigos de relacionamento. Uma geração mais personalista, individualista, que publica suas próprias fotos, sem medo de mostrar a cara no ciberespaço.
Vivemos o novo tempo das redes sociais, onde na porta de entrada você precisa apresentar sua carteirinha. Para entrar neste clube, é preciso dizer exatamente quem você é. Bem, mais ou menos.
O recente caso do perfil falso de Wendi Deng Murdoch no Twitter nos leva à pergunta natural: quanto de inverdade existe no mundo virtual? O evento é ainda mais emblemático porque a tal conta de Wendi Deng havia recebido o “selo de autenticidade” do próprio Twitter! Algumas estatísticas recentes apontam para algo em torno de 10% de contas falsas no Facebook e algo próximo de 25% no Twitter (dados do fiverr e internetevolution).
De um lado, perfis falsos representam um perigo real para as redes sociais, pois afetam diretamente a credibilidade dos serviços. De outro, para os usuários, não existe como fazer um “duplo-check” de identidade, somente se houver um encontro pessoal, isto é, sair do ciberespaço e caindo na real.
De fato, qualquer jovem com algum conhecimento de edição de imagens, boa imaginação e paciência, pode criar em uma hora, dezenas de perfis falsos em qualquer rede social. Contas de e-mail ou números de celular continuam sendo alguns dos critérios adotados para verificar autenticidade de identidade. Infelizmente, critérios fracos e fáceis de burlar.
Mas nada se compara à arte da dissimulação em massa dos spammers. Apesar de todo esforço mundial, ainda recebemos diariamente centenas de e-mails com falsas mensagens, enviados por servidores zumbis espalhados pelo mundo, à serviço de quadrilhas ou hackers especialistas em criar falsas identidades.
Computadores não possuem juízo de valor, basta programá-los e agirão de acordo. Como realmente saber se um e-mail da Receita Federal é verdadeiro ou falso? Afinal, quem é quem no espaço programável, apagável e fluído do virtual?
É certo que o virtual tornou imprecisa, ambígua e questionável a identidade de cada um de nós. Ao se buscar uma relação unívoca entre o eu real e a persona virtual, as redes sociais conseguiram justamente o oposto: fortalecer o jogo de sombras, colocando num mesmo ambiente crível, perfis autênticos e hologramas virtuais.
Bruce Sterling em seu livro “The hacker crackdown” escreveu: “Apesar de não ser exatemente real, o ciberespaço é um lugar genuíno. Coisas acontecem lá e têm consequências muito genuínas”.
Ou talvez seja isto mesmo, viver nesta nova cultura, ou melhor cibercultura, signifique aceitar o jogo de sombras, os clichês, andar por um território povoado por ciborgues, imagens e fatos construídos, conversar com bots dotados de inteligência artificial e marcar encontros virtuais com pessoas que nunca encontraremos na vida real. Real? Mas o que é a realidade? [Webinsider]
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Ricardo Murer
Ricardo Murer é graduado em Ciências da Computação (USP) e mestre em Comunicação (USP). Especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Mantém o Twitter @rdmurer.