A corrida pela dominação do mercado de smartphones é uma das maiores guerras travadas na história de produtos e tecnologia. Apesar de tentativas que datam da virada do século, há somente alguns poucos anos smartphones surgiram como aparatos para navegar na web e executar tarefas computacionais verdadeiramente úteis para os consumidores.
Finalmente o produto smartphone assumiu seu papel pragmático de utilidade real para os usuários, não por coincidência aproximadamente em paralelo à proliferação das redes 3G.
Trata-se de um mercado embrionário e como tal cresce incrivelmente rápido, em estado de rápida mutação. No universo móvel estamos possivelmente ainda longe da estabilidade característica de mercados maduros e longevos. A curva de penetração populacional da internet móvel consegue, até agora, a proeza de ser mais íngrime do que a curva de entrada da internet fixa (PC) nos lares e empresas globalmente ao longo do tempo.
A má notícia é que ainda apenas algo como 1/5 dos assinantes globais de celular tem um smartphone. A boa noticia é que ainda temos quatro quintos para crescer (fonte: Morgan Stanley Research). EUA e Europa já vendem mais smartphones do que celulares “comuns” e as buscas no Google em aparatos móveis mais do que quadruplicou em cerca de quatro anos (fonte: Google). Dois entre três consumidores nos EUA usam um smartphone para tomar decisão durante uma compra (fonte: e-tailing group). Mesmo ainda não sendo um canal significativo para o volume de vendas direta no varejo eletrônico, o celular “esperto” já é um poderoso influenciador no ciclo de compras.
Não é de se estranhar que com tanto potencial pela frente jogadores pesos pesados da indústria tenham saido em disparada para conquistar este mercado. Desde fabricantes já especializados como Nokia, a parrudos dos eletrônicos como Sony, Samsung, LG – e, naturalmente, a turma da informática com Microsoft, Apple e Google.
Smartphones são computadores portáteis conectados à rede, que além de todas as infinitas possibilidades de processamento de informação também são usados como telefone. O cerne do desafio competitivo para projetar um grande produto está exatamente neste ponto, ou seja, estamos falando no final das contas em software e hardware.
Isso dito, temos fundamentalmente duas linhas de estratégia: desenvolver o software (sistema operacional “móvel”) e deixar a arquitetura aberta para diferentes fabricantes de hardware, ou controlar o produto de “A a Z”, desenvolvendo o projeto do software mais hardware completamente integrados.
Os dois principais jogadores do mercado móvel atualmente são exemplos destas duas filosofias de produto e consequentemente modelos de negócio. O sistema Android, da Google, funciona em celulares de diversos fabricantes. Do outro lado do ringue, a Apple tem a proposta de controle total, assinando o sistema operacional (iOS) e o projeto do hardware – do chip ao desenho industrial.
Para ambos os modelos é fator crítico de sucesso atrair a comunidade de desenvolvedores de aplicativos que vão rodar no sistema. Quanto mais aplicativos disponiveis, mais o produto se torna atrativo para os consumidores. E quanto mais consumidores, maior o potencial de retorno para os desenvolvedores. É um círculo virtuoso ser der certo, ou vicioso se este ecosistema não se retro-alimentar.
O modelo aberto do Android pode em teoria se proliferar mais rápido, já que roda em diversos fabricantes de hardware com interesse em usar suas respectivas forças de marketing e distribuição para propulsionar vendas. O modelo fechado da Apple se concentra muito mais na capacidade da própria Apple em comunicar e vender o iPhone, no entanto com a vantagem de oferecer um produto em tese com mais qualidade, já que todas as variáveis estão sob a batuta dos projetistas. Neste rígido controle da Apple inclui-se um filtro na comunidade de desenvolvedores, garantindo que usuários terão aplicativos melhores: estáveis, sem vírus e até com conteúdo devidamente selecionado, bloqueando pornografia e afins.
Para os que conhecem ou mesmo acompanharam a evolução da guerra dos PCs, este cenário competitivo bate como um flashback. Nos anos 80 e 90, travou-se um guerra entre o modelo aberto da Microsoft, focada em desenvolver o sistema operacional Windows para rodar em incontáveis fabricantes de hardware, contra o modelo fechado da Apple com seu Macintosh projetado de cabo a rabo, do software ao hardware ao design da CPU, monitor, teclado e mouse.
Depois de década de lutas sanguinolentas pelo domínio do computador pessoal, o vencedor foi… (rufar de tambores)… a Microsoft – com algo em torno de esmagadores 90% de penetreção do Windows nos PCs. Em entrevista (documentário da PBS), o próprio Steve Jobs reconhece esta (inegável) vitória pelos PCs, apenas alfinetando que o modelo de negócio da Microsoft mereceu seus louros, mas que é muito triste que este sucesso tenha sido alcançado com produtos de baixa qualidade para o consumidor.
Talvez até por esta lição, a Apple tenha atacado mercados além PC no século 21, especialmente com o iPhone, seu atual carro chefe de vendas. A guerra dos smartphones, em moldes parecidos com a guerra dos PCs, tem Android versus iPhone como os principais concorrentes (em números hoje) a conquistar o coração e mente dos consumidores. A Microsoft tenta entrar nesta briga há anos, mas até hoje, surpreendentemente dada sua capacidade e competência, não conseguiu resultados expressivos com o Windows Phone.
Para os apressados em julgar vencedores e perdedores lembrem-se que este jogo está apenas começando. Temos muitas emoções pela frente ainda, com a chegada de redes com muito mais banda, mercados emergentes alterando o universo de consumidores, inovações em design e seus materiais industriais, processadores super rápidos e ambientes tecnológicos no produto que vão permitir voos muito mais ousados para os desenvolverdores de software. No mais, quanto mais vender, em teoria o custo marginal do produto smartphone deve cair.
Será que teremos um líder com a onipotência de Mr. Gates no mundo dos PCs? O modelo fechado da Apple prevalecerá nos celulares, contrariando o destino dos PCs? Ou surgirá um novo modelo revolucionário que mudará completamente o cenário? Façam suas apostas… [Webinsider]
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Marcello Póvoa
Marcello Póvoa (mpovoa@mppinterativa.com) é fundador e diretor executivo da MPP Interativa.
Uma resposta
Marcello, tudo bem?
Uma pesquisa recente mostra que o Android tem uma participação no mercado, neste início de ano, de 59% o IOS tem 23% , Symbian 6,8 %, black barry 6,2 e Wphone 2,2.
Ah! A samsung tem 26% do mercado .
Só para constar , estou comentando do meu Samsung Galaxy y com Android! 🙂