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Toda geração de fãs experimentou momentos onde o cinema de comédia provocou um sentimento afetivo a filmes nos quais todo mundo se identifica, nem que seja por um certo período de tempo.

Este é um fenômeno recorrente, que passa por processos de transformação pertinentes à cultura popular, em um determinado momento. O fato é que o cinema permitiu que cineastas no mundo todo realizassem projetos onde eles puderam expressar a sua indignação com o cotidiano.

Quando uma mensagem neste contexto é universalizada, ela é automaticamente reconhecida pela plateia de outros países. E quando a crítica ou paródia são vistas por olhares estrangeiros que compreendem o seu teor, ela pode perfeitamente passar despercebida pelo público do seu país de origem e ser profundamente admirada por outro.

Foi o caso notório das comédias dirigidas por Jerry Lewis, consideradas bobagens filmadas pelos americanos, e veneradas pelo público e principalmente pelos intelectuais franceses! A ponto do comediante e diretor receber uma medalha daquele país.

 As origens do gênero

Logo depois que o cinema começou a existir como forma de entretenimento, a comédia figurou entre os gêneros favorecidos pelo público. E foram os franceses quem se adiantaram, com criações singulares, logo depois imitadas pelos seus confrades norte-americanos. A influência francesa é notória em todas as praças cujos estúdios se dedicaram à evolução da comédia.

Não há nada até hoje, nem mesmo no cinema francês, que se compare a cineastas do passado remoto, como Max Linder (que teria inspirado Chaplin) ou Georges Méliès. No cinema de arte francês contemporâneo, se acha gente como Pierre Étaix ou Jacques Tati, com filmes absolutamente geniais, mas o modo de fazer cinema não é o mesmo.

Na filmografia americana, o que se nota é um retorno recorrente às origens, onde cineastas atuais prestam sucessivos tributos ao que foi feito no passado. Os primeiros comediantes e diretores americanos se viram obrigados a reinventar a roda, porque a mídia até então ainda tinha uma linguagem primitiva. E muitos, entre os primeiros atores de comédias, se sentiram compelidos a se tornar depois diretores de seus próprios filmes, para vencer algumas dessas barreiras.

A comédia rotulada como “slapstick”, que nós no Brasil conhecemos como “pastelão”, teve em Mack Sennet um dos seus principais articuladores.

Segundo historiadores, ele foi o inventor da rotina do “pastelão na cara”. Sennet tinha a clara percepção do envolvimento do público com a comédia de trapalhadas físicas, e das perseguições, sendo estas últimas claramente inspiradoras posteriormente para Hanna e Barbera, na criação dos curtas de Tom & Jerry. Ciente da interação torta (sem trocadilho) da polícia local com o cidadão comum, Sennet criou os lendários Keystone Cops (ou Kops), batizados com o nome de seu estúdio, o Keystone.

Sennet abrigou por lá um extraordinário número de atores e comediantes, incluindo nomes como Harold Lloyd, que ficou famoso pela ousadia cinematográfica, como, por exemplo, em Safety Last, recentemente restaurado e musicado. Olhando um filme desses hoje qualquer um fica impressionado com os truques de câmera imperceptíveis aos olhos da plateia. Outra incrível artista saída de Sennet foi, sem dúvida, Marie Dressler, que começou a despontar com Charles Chaplin, e posteriormente mostrou a sua versatilidade em comédias e dramas, já no cinema sonoro.

Outro que deixou o seu nome marcado na comédia americana do cinema mudo e até posteriormente foi Hal Roach. Ele foi produtor de grandes comediantes e, sem dúvida alguma, a dupla de maior sucesso do estúdio foi aquela composta por Stan Laurel e Oliver Hardy, conhecido no Brasil como “O Gordo e o Magro”.

Laurel e Hardy mostraram no cinema como se comportar na frente da câmera, com maneirismos até então nunca vistos. Até hoje, Oliver Hardy tem inimitável presença, quando para a cena para olhar indignado para a câmera. E as expressões de riso e choro de Laurel nunca tiveram paralelo no cinema. Ambos fizeram cinema mudo e falado, curtas, médias e longas metragens. Stan Laurel foi o grande inspirador de Peter Sellers, em toda a sua fase de comédia para Blake Edwards, durante os filmes da série A Pantera Cor de Rosa, da década de 1960.

 Os tributos na comédia contemporânea

E falando em Blake Edwards, o cineasta parece ter tido algum tipo de problema pessoal com garçons, tal a implicância mostrada em seus roteiros com os mesmos. Em pelo menos três de seus filmes, The Party, de 1968 (no Brasil, “Um convidado bem trapalhão”), Victor Victoria, de 1982, e Blind Date, de 1987, os garçons são literalmente ridicularizados pelos protagonistas dos filmes.

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Em “The Party”, Steve Franken faz o papel de um garçom alcoólatra, que se intoxica gradativamente, ao servir os convidados, e tudo isso culmina em disputas com o maître, e trapalhadas diversas na cozinha. Em “Victor Victoria” é a vez de Graham Stark se tornar a vítima do diretor. No filme, Stark é um garçom sarcástico e cínico. O ator faria papéis semelhantes em outros filmes de Edwards, inclusive o mordomo de “Blind Date”, filme este cujo garçom é protagonizado por Armin Shimerman, aquele mesmo que fez Star Trek para a televisão. Shimerman faz um garçom esnobe e intolerante, com sotaque francês inconvincente. Em todas as três sequências a presença do maître serve de uma espécie de contraponto, ora em harmonia ora em total discórdia, situações essas perfeitamente cabíveis na vida real.

A comédia visual é construída com a elaboração de “gags”, que são elementos cômicos de uma rotina, que terminam por surpreender a plateia. Creio, salvo melhor juízo, não haver rotina mais imitada no cinema do que aquela do pastelão na cara, ou suas variantes em torno do mesmo tema.

O grande ator inglês Peter Ustinov disse uma vez em entrevista que “a comédia é uma tragédia que deu errado”, e ele está certo. A mistura de drama e comédia é muito bem assimilada por cineastas como, por exemplo, John Ford, que acreditava que é perfeitamente possível inserir tons de comédia em cenas dramáticas, com grande efeito para a plateia, que intuitivamente sabe que drama e comédia são coisas em essência inseparáveis, e que nunca se sabe, ao assistir um filme, quando se vai rir ou chorar, no desenrolar de uma determinada sequência.

Todas essas experiências para as quais o público reage emocionalmente são, na verdade, parte da experiência pessoal de cada um. E quando mais madura a plateia, mais mensagens, cômicas ou dramáticas, irão ser percebidas ao longo do desenvolvimento dos roteiros.

 A criação de novos estilos

Na comédia italiana de Pietro Germi é possível ver drama e comédia incessantemente alternados. Germi usa o jeitão histriônico do italiano chefe de família típico do interior do país, em Seduzida e Abandonada, preocupado com a reação da população local, se soubesse que a sua filha mais jovem havia perdido a virgindade, justamente para o noivo da irmã mais velha.

A comédia italiana de Pietro Germi faz parte de um movimento pós neorrealismo, e se diversificou de acordo com a criatividade do cineasta do momento. Germi é um daqueles que melhor explorou a comédia, como forma de fazer paródia e crítica sobre o comportamento arcaico e frequentemente paroquial dos seus contemporâneos.

Nas décadas de 1950 e 60 os cineastas ingleses fizeram miséria com o chamado humor negro. Em “The Ladykillers” (no Brasil, “O Quinteto da Morte”), Alec Guiness, Herbert Lom e Peter Sellers brincam com uma ideia macabra de ter que assassinar uma senhora de idade, de quem alugam um lugar para roubar um banco, caso fossem descobertos.

Evoluções desta mesma ideia existem posteriormente, com formatos ligeiramente diferentes, em outros países. Stanley Kubrick rodou em solo inglês o antológico “Dr. Strangelove” (no Brasil, “Dr. Fantástico”), e a brincadeira da morte gira em torno da detonação irresponsável da bomba atômica e do holocausto nuclear.

Tons de humor negro se misturam em outros filmes, de acordo com as intenções dos cineastas e roteiristas. Em qualquer deles existe claramente o inconformismo com a loucura humana, falta de bom senso ou falta de cultura, e/ou principalmente com a ganância sem limites.

 A comédia é uma forma de identificação com o público

O cineasta sabe que certos assuntos, para não serem penosos, precisam ser tratados com bom humor, sem destratar ou desqualificar o seu lado dramático.

O humor a que me refiro não é necessariamente ligado a gargalhadas ou ataques de riso, mas ao reconhecimento de alguma coisa com a qual o público se identifica e vê nela uma forma de observação e catarse.

E a catarse é o ponto final do resultado de um bom roteiro, no tratamento de um problema potencialmente insolúvel. Afinal, o cinema pode, e a meu ver deve, transcender o real em direção ao imaginário. No cinema, tudo é possível. No cinema de animação personagens se quebram em pedacinhos e se recompõem novamente. No cinema de comédia que tem na animação a sua fonte inspiradora, qualquer coisa é possível. E nenhum absurdo roubará do espectador do seu objetivo de se divertir, entreter e, dentro do possível, sair de alma lavada do cinema! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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