O redator fica satisfeito porque conseguiu produzir um texto realmente bom, dentro de um briefing difícil. Até que o cliente devolve e diz que está muito ruim.
O trabalho era criar textos sobre lugares interessantes e que merecem ser visitados a turismo. Os textos serem publicados em inglês, espanhol e português.
Escrever sobre determinados lugares de forma agradável e informativa, com o prazer de colocar na cabeça do leitor que seria uma ótima ideia fazer este roteiro um dia.
Mas aí é que vem o detalhe.
Briefing, sujeito oculto
A pedido do cliente segundo a agência que nos contratou, os textos deveriam ser todos no estilo BuzzFeed.
Ou seja, o trabalho seria escrever de maneira atraente e criativa, mas seguindo o estilo adotado pelo site BuzzFeed, que mistura clickbait e informalidade de uma forma legal quando bem feita. Ok. Há controvérsias, clique e veja você mesmo.
— Podemos gostar ou não deste jeito de escrever, mas o que importa é que seja feito assim, ok?
Tudo bem, muitos são os desafios no caminho do redator (que já pensa: como vou me virar em estilo bem longe do meu, sem soar falso?).
A missão do redator é descrever lugares (que não conhece), com a naturalidade com que se fala a um amigo, com descontração e inteligência, até que o amigo contagiado fique também com a maior vontade de ir até lá.
Como se consegue isso? Pesquisa. Basicamente você deve ler bastante sobre o assunto por um bom tempo, até alcançar um entendimento consistente. É um processo que consome tempo e não tem como ser evitado.
Junto com a pesquisa o redator puxa suas próprias lembranças e sensações reais de lugares semelhantes e as espalha no texto pela escolha das palavras.
O segundo passo é contar a história como um passeio envolvente, alternando frases mais curtas e freadas aqui e ali para sacudir o leitor e manter acesso o interesse.
. . .
Logo os textos ficaram prontos e o resultado ficou bom. Foram enviados com orgulho, aprovados pelo cliente.
Todos aprovados menos um. Justo o mais importante deles e o que ficou melhor, leve e evocativo de imagens e sensações que o leitor absorve sem refutar.
Seguindo o briefing solicitado pelo cliente, o redator conseguiu produzir leitura alegre e interessante. O texto que a pessoa lê e diz — Quero ir lá!
. . .
Mas que nada.
— Eles detestaram, disse o atendimento.
— Como assim, você também achou que estava bom…
Aconteceu que as pessoas no cliente leram e não curtiram muito. Daí pediram a opinião de uma especialista de outra área, que entrou metendo o pau. Disse que a escrita era ruim, que as frases cortadas só faziam sentido na cabeça do redator e sugeriu inserir informações de um documento interno que ninguém conhecia.
. . .
Muita calma nessa hora.
É neste momento que o redator duvida se serve mesmo para o ofício de escritor de aluguel.
Ele deu o sangue, se superou e fez o que foi pedido, com perfeição.
Para nada, pois o cliente decidiu usar outra abordagem desta vez, em tom diferente do formato BuzzFeed exigido pelo briefing. Escolheu atender o público interno e ser mais técnico e formal neste caso.
O texto novo incorporou as novas informações, foi aprovado rapidamente e perdeu a graça.
. . .
O que se pode fazer neste caso? Nada. O redator lamenta o tempo perdido: teria sido tão mais fácil se o documento interno aparecesse antes. E o atendimento deve mostrar este incidente ao cliente, se possível.
Outrolado é conteúdo e comunicação_
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Vicente Tardin
Vicente Tardin (vtardin@webinsider.com.br) é jornalista e criador do Webinsider. É editor experiente, consultor de conteúdo e especialista em gestão de conteúdo para portais e projetos online.