O formato de filmagem Technirama e sua variante de apresentação Super Technirama 70 foi usado para apresentações em CinemaScope ou 70 mm, com vários relançamentos e possibilidade de discos de vídeo de alta qualidade.
Toda vez que eu volto a assistir o filme de 1962 “The Music Man” (no Brasil, “O Vendedor de Sonhos”) o que me vem imediatamente à mente é que ele foi feito no processo cinematográfico chamado de Technirama, de alta resolução e com nível de granulação na imagem muito baixo.
O processo fora inventado pela Technicolor, em uma tentativa de usar princípios de captura da câmera de 3 películas, seguramente a melhor captura de cores que eu já vi até hoje, preservada por restaurações diversas.
O problema central da câmera de 3 películas foi a impossibilidade de acompanhar os formatos de tela larga, que começaram a aparecer no início da década de 1950. Então, a Technicolor decidiu modificar a sua câmera para um novo processo de filmagem. Esta não foi a primeira modificação da câmera, a primeira foi montada para os filmes VistaVision.
O processo Technirama pega emprestado recursos usados para filmagens em CinemaScope e VistaVision. Do primeiro, o uso de lentes anamórficas, e do segundo, a captura horizontal do fotograma na película:
A intenção do uso de captura horizontal está em aumentar a área onde o fotograma estará contido, de 4 para 8 perfurações do negativo, e assim aumentar a resolução de maneira significativa. Entretanto, enquanto o processo VistaVision usa lentes esféricas, resultando em uma relação de aspecto em geral de 1.85:1, o processo Technirama comprime anamorficamente a imagem em 1.5 vezes, podendo variar de relação de aspecto, segundo as intenções da cinematografia a ser realizada.
A compressão anamórfica foi estudada na Holanda, e o resultado deste trabalho foi a construção da lente Delrama, aperfeiçoando a lente CinemaScope original, ao usar prismas no lugar de lentes internas cilíndricas, que impediriam a distorção ótica típica do anamorfismo.
O aumento da área de exposição no negativo, combinado com uma compressão anamórfica de 1.5 vezes de alta qualidade ótica, permitiu ao Technirama a obtenção de cópias em qualquer formato de tela larga, em relações de aspecto idênticas às do CinemaScope, e posteriormente em películas 70 mm, com o nome de Super Technirama 70.
Um dos filmes de maior sucesso no formato Technirama 70 foi A Bela Adormecida, de Walt Disney, lançado em 1959:
As projeções em Technirama horizontal nunca chegaram, até onde eu saiba, nos cinemas. As cópias eram distribuídas em CinemaScope, com 4 canais de áudio, ou, como no caso do Super Technirama 70, na relação de aspecto 2.20:1 e 6 canais de áudio, em cinemas com 70 mm. Como o filme de Disney fora lançado no início do CinemaScope, o fotograma original em 2.55:1 somente pode ser visto em home vídeo após a restauração do filme, depois lançada na edição em Blu-Ray:
Filmes como Spartacus, por aqui lançado em 35 mm CinemaScope, mostram a magnitude de qualidade do fotograma, na última edição em Blu-Ray. A propósito, Spartacus iria inaugurar a aparelhagem Incol 70/35 do Cinema Madrid para Super Cinerama 70, e este seria o segundo e principal cinema com Cinerama no Rio de Janeiro. Eu cheguei inclusive a ver o trailer, mas logo depois o cinema fechou para nunca mais abrir.
Na década de 1950, as cópias em distribuição para os cinemas seguiam todas o formato das películas em CinemaScope, com 4 canais de som estereofônico, imagem anamórfica:
Para as cópias ampliadas para 70 mm foram posteriormente acrescentadas a trilha sonora em 6 canais e fotogramas em 2.20:1. Com isso, os filmes puderam ser exibidos em Super Cinerama 70 ou em telas 70 mm planas.
Vários filmes rodados em Technirama tiveram relançamento em formatos distintos, com a adoção de som em 5.1 canais, extraídos dos elementos de áudio originais.
Mais de 60 filmes foram rodados em Technirama, e vários filmes, como, por exemplo, “Star Wars”, usaram as antigas câmeras do Technirama para rodar cenas de efeitos especiais, devido à qualidade de detalhes dos fotogramas.
Na era digital é em teoria tecnicamente mais exequível transferir negativos de 35 mm para vídeo, e assim filmes em Technirama têm sempre maior chance de resultar em cópias de vídeo de alta qualidade. Se transferidos com 4K de resolução, as chances são ainda maiores.
Para o colecionador, isto significa na prática obter mídia capaz de dar bons resultados em telas de TV ou projetores de alta resolução, e depois poder recuperar seus filmes da melhor forma possível. Outrolado_
. . . .
Leia também:
A minha primeira experiência em uma sala de cinema com Dolby Atmos
Inauguração do velho novo Cinema Pathé e o resgate da memória
2001: Uma Odisseia No Espaço, em versão Blu-Ray 4K, Dolby Vision HDR
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
0 resposta
Paulo essa matéria veio bem a calhar. Pelo jeito os modelos de TV’s “ultra-wide” que a Philips lançou no passado, naufragou (o que eu acho uma pena). Pois seriam modelos perfeitos para exibição doméstica de filmes nos formatos Technirama. Eu estou fazendo uma poupança para comprar um trambolho de 75 ou 80 polegadas para a minha sala, pois toda vez que assisto a um bom filme nesse formato metade da tela fica com tarjas pretas, resultado a minha tela de 55 pol. de 16:9 se transforma numa tevezinha de 40 polegadas. Quem sabe algum dia voltem a produzir TV’s com relação de aspecto 2.20:1 (tipo ultra-wide). Aí sim teremos uma imagem de cinema com autenticidade.
É verdade. essas TV’s não cobrem 2.75:1 e, na minha opinião, não são boas para widescreen 1.85:1.
Paulo essa matéria veio bem a calhar. Pelo jeito os modelos de TV’s “ultra-wide” que a Philips lançou no passado, naufragou (o que eu acho uma pena). Pois seriam modelos perfeitos para exibição doméstica de filmes nos formatos Technirama. Eu estou fazendo uma poupança para comprar um trambolho de 75 ou 80 polegadas para a minha sala, pois toda vez que assisto a um bom filme nesse formato metade da tela fica com tarjas pretas, resultado a minha tela de 55 pol. de 16:9 se transforma numa tevezinha de 40 polegadas. Quem sabe algum dia voltem a produzir TV’s com relação de aspecto 2.20:1 (tipo ultra-wide). Aí sim teremos uma imagem de cinema com autenticidade.
É verdade. essas TV’s não cobrem 2.75:1 e, na minha opinião, não são boas para widescreen 1.85:1.