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Gravação de Jazz At The Pawnshop ganha nova edição

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Álbum Jazz At The Pawnshop, gravado em uma casa de penhores em Estocolmo, retorna agora em edição artesanal a preços caríssimos. Vale a pena o esforço?

 

Dias atrás, eu fui surpreendido com uma entrevista em vídeo dando conta de que um selo italiano chamado AudioNautes, que recebeu as fitas das sessões de gravação do álbum Jazz At The Pawnshop, da Proprius, e além de editar novas matrizes, tornou-as disponíveis em fita magnética e CD de “alta resolução” (UHQCD), se é que existe isso.

As fitas de 2 canais, masterizadas e copiadas individualmente a 15 ips, são vendidas em caixas artesanais individuais, ao modesto preço de €1952.00 (R$ 8.936,64), e se o interessado não se apressar corre o risco de perder a nova edição, porque ela é limitada!

Segundo o entrevistado Fabio Camorani, a cópia das fitas é feita em tempo real, e as embalagens são fabricadas por eles mesmos, tentando justificar o alto preço exigido. De fio a pavio, eles levam mais ou menos duas horas para terminar uma caixa já embalada.

 

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Já o UHQCD é feito no Japão e custa 69.98 dólares (290,60 reais), bem mais barato. Vejam que o Ultra High Quality Compact Disc nada mais é do que um CD convencional, porém com a camada de policarbonato (plástico) com alto grau de pureza, e uma camada de uma liga de prata no lugar da camada de alumínio. Porque não fizeram com ouro, como em outras edições do passado, eu não sei.

O histórico da gravação

Eu costumava ler três revistas de áudio americanas, na década de 1970, e vi várias vezes o anúncio de um fabricante de caixas acústicas, cujo nome não lembro mais, dizendo que quem comprasse as caixas iria levar de graça o álbum duplo de Jazz At The Pawnshop, gravado pela Proprius, uma gravadora sueca, representada na América pelo selo AudioSource.

Esta gravação acabou ficando como referência de uma captura que demonstrava o alto grau de ambiência, do local onde ela foi feita. Tratava-se de uma apresentação ao vivo, dentro de uma casa noturna, de nome Stampen Jazz Club, em Estocolmo, casa aparentemente pequena, apelidada de Casa de Penhores (Pawnshop), atividade que existia naquele local, onde o registro em 1976 foi feito.

O técnico de gravação Gert Palmcrantz trabalhava para o cinema, e talvez por isso tenha lançado mão de dois gravadores Nagra IV-S, para capturar o concerto sem parar:

 

Palmcrantz usou uma mesa de mixagem Studer, e microfones Neumann U47, KM56 e M49. A gravação foi codificada com o redutor de ruído Dolby A. Esta informação consta de depoimento, e foi relatada na Internet.

Notem que o sistema redutor de ruídos Dolby A foi criado ainda na década de 1960, e o Dolby Spectral Recording (Dolby SR) somente introduzido em 1986, e que precedeu o aparecimento do Dolby Digital nos filmes. Tanto que, naquela época, os estúdios lançavam cópias com ambos os codecs na mesma película.

Estranhamente, as caixas das gravações das sessões do disco que aparecem naquele vídeo mostram as embalagens mencionando o alinhamento com Dolby SR e não Dolby A:

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O que levanta uma justificada dúvida se são de fato as fitas originais, ou uma cópia feita posteriormente das mesmas, o que parece mais provável. Eu me arriscaria em afirmar que essas caixas da sessão bem poderiam ser cópias de preservação das fitas originais.

As incontáveis reedições de Jazz At The Pawnshop

Por que a turma da AudioNautes resolveu partir das fitas das sessões e não das masters que sempre foram usadas nas diferentes versões desse disco? O técnico entrevistado alega quererem eles mesmos extrair o máximo possível de detalhes nunca antes percebido nos lançamentos anteriores.

Eu nunca ouvi Jazz At The Pawnshop em elepê. Na década de 1980, entretanto, estávamos eu e amigos na loja da Gramophone, quando o CD duplo chegou e foi rapidamente vendido para os que estavam lá presentes. Eu levei um, por sugestão de um amigo, e tenho a caixa até hoje.

Fora uma possível versão em DVD-Audio, que eu nunca vi, Jazz At The Pawnshop foi reeditado incontáveis vezes. Um amigo meu comprou a versão em XRCD, e me deu uma cópia. Depois ele comprou também a edição em SACD, que contém o material excedente em um terceiro disco, e mais um DVD com Gert Palmcrantz falando da gravação.

Eu ouvi emprestado a versão em SACD em casa, e este amigo e eu achamos os discos inferiores ao XRCD. Palmcrantz havia retornado às fitas originais e reeditado tudo, e isso já dá para se notar claramente na versão em XRCD, com sons do ambiente que nunca existiram nas edições anteriores.

O XRCD soa bem, mas é auditivamente diferente dos CDs da Proprius que eu ainda tenho. O som dos XRCDs em geral tem mais brilho que os CDs convencionais das mesmas gravações, e aqui neste caso não é exceção. Para mim, os CDs antigos soam bem mais equilibrados em toda faixa espectral, acho eu bem mais agradável de se ouvir. O SACD é uma decepção, e só por causa disso eu nunca me esforcei em adquiri-lo.

A FIM (selo First Impression Music) produziu não só o XRCD e o SACD, mas também o CD na versão K2HD. Antes disso, já havia sido lançado uma versão em HDCD, banhada a ouro, que nada tem a haver com tudo isso.

 

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A música e os mitos que as pessoas criam

Eu gosto desses discos, mas sempre me indago se a quantidade absurda de reedições tem uma razão de ser. Porque um dos argumentos usados é de que ainda seria possível extrair mais qualidade das capturas originais, o que eu, pessoalmente, duvido e faço pouco.

Musicalmente, as gravações na casa de penhores são agradáveis, mas, para os meus humildes ouvidos, nunca serviria como paradigma de Jazz bem tocado ou criado. Aliás, muitos músicos europeus de Jazz são excelentes, mas excepcionais?

Além disso, eu entendo que audiófilos do passado tenham achado a gravação uma referência de ambiência, mas não deveria ser uma referência isolada, porque existem dezenas de gravações de Jazz com excelente ambiência, e aqui é preciso não confundir música agradável com o ambiente onde ela é tocada.

Agora, me perdoem os audiófilos mais arraigados, mas tem sido para mim intolerável continuar ouvindo este discurso de som qualificado como “warm” (aquecido, se quiserem) para rotular som de melhor qualidade. Este tipo de rotulação crepitou agressivamente quando o lançamento do CD bateu de frente com audiófilos que odiaram o som digital.

Eu entendo, salvo melhor juízo, de que é preciso muito cuidado quando se avalia a “qualidade do áudio”. É prudente frequentar antes as salas de concerto e/ou ouvir de perto como soam os instrumentos tocados individualmente ou em conjunto. Porque não é incomum um instrumento soar agressivo aos ouvidos. Assim, uma gravação bem feita não poderia mascarar isso!

Por isso, eu seria um que não teria coragem de classificar o som gravado de um instrumento como “warm” (caloroso, íntimo, etc.), e afirmar que ele é melhor. Pior ainda, afirmar que o som digital é, comparativamente, “cold” (ou “frio”), áspero, picotado, e outras babaquices do gênero, vociferadas inúmeras vezes por aqueles que nunca aceitaram o CD como veículo de música gravada.

Pois o senhor da AudioNautes pondera tudo isso naquele vídeo, e afirma que eles criaram cada master de acordo com este tipo de critério. Não poderia ser diferente, porque eles sabem que cada mídia precisa de uma master adequada. Felizmente, ele não condena o ambiente digital.

Faz agora décadas que eu evito argumentos com audiófilos que são contra o som digital. Se alguém chegasse para mim dizendo que o som do elepê é melhor eu responderia que ele ou ela fossem felizes com ele.

Os atuais codecs, incluindo Dolby Atmos ou DTS:X, soam com uma qualidade que eu nunca ouvi antes. Isso, é claro, não significa que eu iria expurgar o resto, porque a música e a sua expressão têm precedência sobre o material gravado, ou seja, ficar correndo atrás de mais uma versão da mesma coisa, como ocorreu agora, eu peço licença para declinar!

E eu terminaria dizendo que, na minha vivência, fora os elepês, que têm limitações crônicas, o melhor disco é aquele cuja gravação é a melhor transcrita possível, o que automaticamente elimina o fator qualidade gravada da mídia que a contém. Isso se aplica ao filme que é masterizado em vídeo! Eu consigo ver Blu-Rays de 2K tão bons quanto os de 4K, porque então na música seria diferente? O meio de reprodução sempre fala alto, então um CD de 44.1 kHz, pode tocar muito bem, se o equipamento usado for de qualidade compatível. Outrolado_

 

. . .

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Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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