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A Dutton Vocalion, de quem me tornei fã, lançou mais um SACD quadrafônico, desta vez de 4 discos Quadradisc do compositor Henry Mancini. O lançamento celebra o resgate de um momento importante das gravações quadrafônicas, com uma qualidade de som impossível de ser ouvida na década de 1970.

 

O engenheiro de gravação Michael J.Dutton continua resgatando matrizes quadrafônicas de discos clássicos e populares, e as remasterizando em SACD, para deleite e imenso prazer dos respectivos fãs, daqueles que ainda colecionam discos, neste caso, com altíssima qualidade de áudio.

O transporte das matrizes quadrafônicas originais para o SACD tem duas vantagens óbvias: a primeira, que o sistema de reprodução obedece a um codec exclusivo e de altíssima resolução, ao contrário do que acontecia na época dos elepês quadrafônicos, que deixava o consumidor escravo de um dado formato, tipo SQ, QS, CD-4, etc.; a segunda, que a mídia ótica é a ideal para a manutenção, restauração e preservação de material analógico tão antigo. Mas, desde que, quem remasteriza saiba o que está fazendo, que é exatamente o caso de Michael Dutton.

Em uma entrevista para o canal do YouTube Life in Surround, Dutton comenta que trabalhar com o SACD era problemático, mas uma vez tudo resolvido, ele considera a melhor maneira de veicular o trabalho de remasterização que ele vem fazendo. Isso porque muitos reprodutores de mesa Blu-Ray da Sony reproduzem SACD, tornando-os indispensáveis para audiófilos.

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E somos nós, fãs da mídia multicanal de qualidade e da música ali contida, quem agradecemos!

A obra de Henry Mancini

Henry Mancini foi, pelo menos nos meus ouvidos, um dos maiores compositores e arranjadores para TV e cinema. Ouvindo a sua obra é possível notar a sua inspiração na hora de compor e a maneira como ele transcreveu o que criou. É difícil, creio eu, até para o fã dedicado, citar qual é a sua melhor obra. Para o meu gosto pessoal, eu acho até hoje, que o tema do seriado Mr. Lucky é uma das suas maiores criações.

No tema foi colocada uma letra, escrita por Ray Evans e Jay Livingston, igualmente brilhante, cujo arranjo vocal tem todas as características da criatividade do compositor.

Aparentemente, desde a década de 1960 a RCA trabalhou com a ideia de som quadrafônico e foi pioneira no lançamento de fitas Quad-8 em cartucho. A partir do momento em que elepês foram lançados na década de 1970, a obra de Mancini começou a ver a luz do dia, com o nome de fantasia “Quadradisc”:

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Eu nunca ouvi as fitas nem estes elepês em quadrafônico. O Quadradisc foi cortado com o uso do CD-4 (quadrafônico discreto). No início, este tipo de disco apresentava uma reprodução problemática, com desgaste da superfície, mas a JVC aperfeiçoou a prensagem e introduziu (recomendou) o uso da agulha Shibata. A partir daí, a RCA começou a lançar seus discos.

Um dos problemas do disco CD4 é a fragilidade dos sulcos do elepê nas frequências muito altas. Eu já soube de casos de colecionadores tocarem um elepê uma vez, para ouvir, e outra para copiar em fita magnética. Isso era feito, porque partia-se do princípio de que a agulha de reprodução destruía informações de alta frequência. No caso do CD4, só a portadora do formato per se era cortada com 30 kHz, daí o estrago provocado por agulhas comuns. E a partir disso, as agulhas Shibatas passaram a ser recomendadas!

Claro que, quem não quis se envolver com tudo isso, deixou o disco quadrafônico de lado. E o tempo mostrou que, lá pelo fim da década de 1970, o formato começou a desaparecer.

A RCA lançou alguns discos com Dolby Surround, eu tenho três deles em CD, e o resultado foi um desastre. Talvez por isso, não houve nenhum outro lançamento com Dolby deste tipo, que eu tenha visto.

A nova edição da Vocalion

Na edição da Vocalion, foi feita uma compilação de várias gravações de Henry Mancini lançadas em Quadradisc, inclusive essa aí mostrada acima. Todo esse material é oferecido em 2 discos SACD híbridos, podendo serem tocados em qualquer reprodutor de CD/DVD/Blu-Ray.

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Os dois primeiros discos, com o título “The Best Of” no primeiro SACD tem arranjos que eu nunca ouvi, ao lado de outros conhecidos, apenas com mixagem quadrafônica. No segundo SACD, as faixas do concerto mostram novas mixagens dos CD Dolby Surround, como “Moon River” e “Mr. Lucky”, mostradas anteriormente.

Eu nunca havia ouvido a interpretação das marchas de Sousa. A música pede dinâmica, tanto de bandas militares quanto principalmente de orquestras, que, neste caso, excedeu as minhas expectativas, particularmente, como seria de se esperar, na percussão, espalhada de forma envolvente nos canais surround.

Também para mim foi uma surpresa ouvir a música dos temas de TV e filme envolvendo e tornando imersivo o ambiente, às vezes com solistas tocando nos canais surround. É o tipo de mixagem que muitos audiófilos nunca aplaudem, pelo contrário, mas foi muito prazeroso de ouvir.

Características físicas dos SACDs

O SACD é fisicamente um DVD de camada dupla. Um leitor de CD convencional irá ler a camada de CD, ao invés da de SACD. Em um computador acontece a mesma coisa, apesar do drive ótico ser capaz de ler as duas camadas. Quando um player para SACD for usado, a camada de DSD irá ser lida, podendo ser a mixagem multicanal ou a estereofônica de 2 canais, só que, neste caso, com uma qualidade superior de áudio.

Observação: Notem que o SACD não pode ser copiado, mas a parte de CD sim. Eu já vi em vários sites downloads de SACD no formato Flac ou Wav, postados por gente que roda um programa capaz de ler o SACD em um PlayStation, e de retirar o conteúdo multicanal, que pode ter mixagens 5.1/5.0 e 2.0 (estéreo normal).

A transcrição quadrafônica digital

O trabalho de resgate dessas matrizes quadrafônicas é extraordinário. O som quadrafônico, bem provável de ter sido bem intencionado como um avanço na reprodução de áudio, foi lançado fora da sua época, atrapalhado mais ainda com a multiplicidade de formatos disponíveis oferecidos ao usuário, aumentando e complicando muito as despesas de montagem do equipamento necessário.

Uma comparação entre o elepê da década de 1970 e os discos digitais atuais é mostrada no diagrama abaixo. A transcrição digital é praticamente literal, mas no autoramento alguns problemas podem ser corrigidos, a critério de que transcreve a master:

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O audiófilo mais arraigado, aquele que sequer admitiu o som digital, sempre repudiou a presença do canal central, cuja presença já tinha sido proposta desde a década de 1950!

Pode parecer, à primeira vista, que o som quadrafônico evitou o uso do canal central, por causa desse preconceito. Mas, na realidade, o som quadrafônico em elepê daquela época é, por natureza, matricial, com 2 canais reproduzindo surround fora de fase. Além disso, foi necessário tornar o elepê quadrafônico compatível com a reprodução estereofônica convencional, até mono, se fosse necessário!

Hoje, ouvindo as matrizes quadrafônicas em formato discreto (os canais são reproduzidos separadamente) pode-se observar que muitas dessas mixagens tiveram um claro objetivo de aumentar a ambiência, enquanto que outras já procuravam envolver o ouvinte com música, aliás, mixagem igualmente repudiada por audiófilos.

Ouvindo os discos da Vocalion percebe-se que é impressionante a qualidade do áudio quadrafônico, e que só é possível quando a masterização tem como autor quem sabe o que está fazendo!

Eu tenho vários SACD masterizados diretamente de fitas matrizes de 3 canais (Living Stereo, por exemplo), sem remixagem, e ainda assim é uma experiência auditiva gratificante. Quando nada ali é alterado, é como se a gente estivesse presente no estúdio ouvindo a fita matriz original.

Por problemas técnicos, os elepês sempre foram masterizados a partir de matrizes de dois canais apenas. A tentativa do som quadrafônico da década de 1970 visou quebrar esta barreira e aumentar o campo auditivo, mas enfrentou resistências, e, no final, acabou e não voltou mais. Mas só até agora, quando as matrizes voltaram ao interesse da comunidade que queria essa mudança e não a conseguiu.

É provável que o advento da reprodução de filmes em múltiplos canais tenha influenciado positivamente este retorno. De qualquer maneira, um equipamento montado para cinema atende perfeitamente à reprodução de com quadrafônico. Basta apenas acrescentar o front end (player) necessário para fazer isso. [Webinsider]

 

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Henry Mancini, o mago das trilhas sonoras

Dutton Vocalion

 

SACD Quadrafônico!

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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