Tamba Trio: tão bons e tão difíceis de encontrar

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As gravações do Tamba Trio, tão difíceis de achar, são uma chance de recuperar momentos importantes da história musical que muitos de nós vivemos.

As gravações do Tamba Trio são difíceis de achar no mercado. Nem os serviços de streaming resolvem isso, e quando se ouve algum disco importante, ele pode estar cheio de distorção e má qualidade de áudio. O que ainda está disponível pode ser uma chance de se recuperar momentos importantes da história musical que muitos de nós vivemos.

 

A discografia do Tamba Trio já foi mais do que estabelecida. Em épocas remotas, eu importei da HMV japonesa todos os discos até então remasterizados digitalmente e lançados em CD. A maioria desses discos ficou fora de catálogo, e assim quem chegou atrasado perdeu a chance de coleciona-los. Poder-se-ia hoje confiar no Spotify ou outros serviços de streaming, mas até agora vai ser difícil achar um único item desta discografia. Sem falar no áudio do primeiro disco do Tamba na Philips, que tem um som muito ruim.

Durante anos eu penei, como colecionador e fã do Tamba, tentando achar uma reedição remasterizada em ambiente digital das gravações do trio na Philips, na década de 1960. Quando o fórum da Verve surgiu, eu conheci o músico americano Jim Rowans, que era colecionador e muito interessado por bossa nova. Jim havia conseguido importar discos do Japão, e depois de trocarmos ideias e experiências pessoais, ele me ofereceu cópias de discos do meu interesse.

Na época, eu também estava restaurando o que sobrou da minha coleção de elepês, e aconteceu que o disco Tamba Trio “Avanço” estava gasto, e o Jim me mandou uma cópia da edição japonesa, em CD lançado pela UMG. Por causa disso, eu deixei o elepê da Philips de lado.

Não foi o caso da primeira gravação do Tamba Trio, feita em 1962, no estúdio da Philips, e como eu ainda tinha um elepê remasterizado da fita original, eu me esforcei para digitalizar eu mesmo. Abaixo, pode-se ver a contracapa do CD, na época com o estojo editado pelo programa CDR Label:

No verso, dá para se ler a data da cópia (23 de agosto de 2001), na qual este trabalho ficou pronto. Eu fiz questão de registrar os programas que eu rodei para chegar ao resultado final, o qual, aliás, foi bastante razoável.

Novas edições em CD

Eu deixei este assunto de lado, durante muitos anos, depois de conseguir vários CDs no Japão. De elepês do Tamba restaurados, sobraram este disco de 1962 e o da primeira gravação do Tamba na RCA, este com estilo que nem de perto lembrava o Tamba do início da década de 1960. Mas, faz parte.

Recentemente, eu descobri que os dois primeiros discos do Tamba tiveram diversas edições em CD. Uma delas eu recebi agora, de um CD contendo os dois primeiros discos do Tamba. Esta edição, com o título “Tamba Trio + Avanço”, foi lançada em 2018, e ainda está em catálogo por um preço a balcão muito baixo. Ela foi compilada por um selo que eu não conhecia, com o nome Aquarela do Brasil, de origem europeia, possivelmente espanhola. A embalagem, em formato Digipack, e o disco estão mostrados abaixo:

As contracapas originais estão quase completas, traduzidas para o inglês. No verso, alguém escreveu sobre a importância do Tamba na evolução da Bossa Nova, que é, sob todos os aspectos, inegável!

Segundo os créditos, as gravações originais foram transcritas em 24 bits, em edição limitada. Apesar da resolução da remasterização ser alta, as limitações intrínsecas dos equipamentos da Philips naquele período, em mixagem mono, podem ser facilmente percebidas. Até o meu velho elepê do disco de 1962 tem um som muito próximo do desta edição. A propósito, no elepê as faixas 4 e 14 estão trocadas, mas certas no disco atual. Eu creio não ter havido erro da minha parte, porque o software da época, Audio Tools, permitia cortar as faixas na mesma posição do elepê. Então, é provável que este último tenha sido cortado com a troca das faixas.

Também não percebi nenhuma diferença no áudio entre a cópia do CD japonês do disco Avanço que o Jim me enviou com a deste relançamento, ambos são, aproximadamente, o espelho virtual da gravação da Philips, que naquela época era muito limitada em fidelidade, principalmente porque havia uso de “playback”, técnica para gravar instrumentos isolados em cima da gravação do grupo, sem apaga-la. Foi o caso de Bebeto Castilho, que tocava baixo, flauta e sax-alto, além de ser vocalista.

A contínua importância do Tamba Trio

Eu li, dias atrás, uma monografia de 2009 sobre o Tamba Trio e o ambiente musical do início da bossa nova, circa fim de 1950 e início da década de 1960, quando aquele movimento surgiu com toda a força, indo parar nos Estados Unidos, na sua sequência evolutiva. A dissertação é muito extensa e divaga sobre aspectos diversos que circundaram a música do Tamba.

Para nós, meros ouvintes, o Tamba Trio pode ser visto como um grupo musical que inovou o lado instrumental e vocal, com arranjos inspirados, e com o toque magistral de seus músicos. É possível perceber que músicas banais, como, por exemplo, Mas Que Nada, de Jorge Ben, que se eleva a um patamar de uma qualidade que a música per se não tem. Todos os vocais exibem uma harmonia singular, e que tornou o Tamba um trio absolutamente distinto dos demais trios daquela época.

Eu tomei conhecimento do Tamba Trio no início da minha adolescência. A família de um menino da minha rua deu uma festa de aniversário para ele. No canto da sala, uma vitrola Telefunken de luxo tocava o disco Avanço, recém comprado pela família.

Depois da festinha, eu quis saber mais sobre o Tamba. Fui na loja e comprei o elepê. Ali começava o meu fascínio pela Bossa Nova. Eu tive chance de dizer isso ao Bebeto, quando o conheci nos bastidores do show do Durval Ferreira anos atrás. Aliás, para mim foi um privilégio conhecer esses dois músicos, que tanto contribuíram para o movimento bossanovista, aqui e no exterior, participando de gravações em diversos estúdios como acompanhantes dos autores. O Durval Ferreira também contribuiu com a sua presença nas gravações do Tamba.

A adolescência de todos nós é a fase das descobertas, algumas da quais podem marcar as experiências que contribuem para o eventual gosto pelas artes em geral. Por coincidência, ao analisarmos as primeiras gravações do Tamba Trio, do disco homônimo de 1962, passando por Avanço, de 1963, e pelo magistral Tempo, de 1964, é possível entender a influência do momento musical sobre aqueles que se identificaram com o movimento bossanovista daquele momento. A Bossa Nova foi uma música de jovens, feita para os jovens!

A Bossa Nova acertou em cheio quando se inspirou e se referiu de forma contemplativa ao que era o Rio de Janeiro daquela época: suas paisagens, seu visual, seu ambiente e sua paz, que resultaram na harmonia intelectual entre habitantes e cidade.

Infelizmente, toda essa harmonia desapareceu ao longo do tempo, por isso só nos resta ouvir a música criada quando tudo isso era a pura realidade! [Webinsider]

. . .

Durval Ferreira, simplesmente!

 

Tamba Trio e Tamba Quarteto

 

Sem perspectivas para o futuro (Tamba Trio, lembra?)

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Oi, Carlos,

    Anos atrás eu soube pelo Toninho Barbosa (TBS), ex-Philips, que as fitas originais estavam todas preservadas. Os japoneses encomendam as remasterizações, para depois editar os discos lá, que têm venda garantida, porque o público o japonês adora bossa nova. Muitos músicos daqui (vide Marcos Valle) já fizeram várias apresentações por lá. Quem consegue editar discos por aqui, para mim é um herói!

  2. O Brasil é um país bizarro. Para se ter música de verdadeira e alta qualidade é preciso importar do Japão o que foi feito aqui. Que país é esse.

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