O mundo do cinema, da fantasia à realidade

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Hollywood ainda é o maior centro produtor de cinema do mundo. A sua história mostra uma fábrica de sonhos e também uma atmosfera de pesadelos.

Hollywood ainda é o maior centro produtor de cinema do mundo. A sua história mostra uma fábrica de sonhos e também uma atmosfera de pesadelos.

 

Em “Citizen Kane”, filme de Orson Welles lançado em 1941, Charles Foster Kane, outrora um poderoso chefão do jornalismo, está no leito de morte, e pronuncia a misteriosa palavra “Rosebud”, deixa cair um globo com água, e morre.

A cena, que faz parte da antologia do cinema, mostra um homem poderoso e rico, lembrando de um brinquedo (trenó infantil), que marcou a sua infância, quer dizer, todo aquele poder não lhe serviu para nada!

Assim como para o cidadão Kane, Hollywood foi o terreno propício para o enriquecimento de uma meia dúzia de homens, mas exceto por terem vindo de famílias humildes, imigrantes sofridos, que chegaram na América em busca de prosperidade. Este tipo de condição de vida era o chamado “sonho americano”, isto é, começar muito pobre e depois ficar rico.

Nenhum deles sabia o que era o cinema e como fazer um filme. Mas, a então novidade exibida em salas escuras dos nickleodeons lhes chamou a atenção, o suficiente para que eles percebessem que ali estava uma mídia capaz de lhes trazer poder e riqueza, se fosse bem explorada!

E não foi diferente: Louis B. Mayer, o mais bem pago magnata dono de estúdio, se referiu aos filmes e ao cinema, da seguinte maneira:

Este é um negócio em que o comprador não ganha nada pelo seu dinheiro, a não ser uma memória. O que ele comprou ainda pertence ao homem que o vendeu. Essa é a verdadeira magia dos filmes. E não deixe ninguém lhe dizer o contrário.”

L.B., como era conhecido, era na verdade Lazar Meir, filho de imigrantes que fugiram da Ucrânia, tentando escapar das perseguições aos judeus naquela área. Na infância, foi vítima de abuso, vivendo na absoluta pobreza. Nada disso o impediu de, depois de ser o receptor do maior salário de Hollywood, fizesse uso de tirania e intimidação, toda vez que era contrariado. Além disso, confrontava funcionários da MGM que pareciam lhe tirar o poder de decisão, como foi a sua relação conflituosa com Irving Thalberg, e depois com Dore Schary, dramaturgo que ocupou o lugar de Thalberg.

Como L.B., outros filhos de imigrantes fizeram o mesmo caminho, chegando a Hollywood de forma aventuresca e achando imensas fortunas e poder na indústria do cinema.

A meca do cinema

Hollywood foi um lugar propício ao desenvolvimento do cinema. Empreendedores chegaram até lá, fugindo da tirania de Thomas Edison, que se achava no direito de ser o inventor do cinema e poder cobrar pelo uso das salas e dos equipamentos. Edison recorreu à violência para garantir seus direitos. Assim, alguns filmes passaram a ser feitos fora de Nova York, primeiro em Fort Lee (New Jersey), depois bem mais longe, na California.

No início, mais de 50 estúdios foram montados em uma área de Los Angeles. Depois de muitas mudanças e fusões, eles se mudaram para a Hollywoodland, distrito onde os terrenos eram ocupados por fazendas e áreas de baixo custo aquisitivo. A MGM, o maior desses estúdios, foi o resultado de uma fusão de três estúdios independentes, o Metro Pictures, o Goldwyn Pictures Corporation, e o Louis B. Mayer Pictures Corporation. A fusão foi organizada pelo empresário de Nova York Marcus Loew, dono de uma cadeia de cinemas, e depois dono da MGM. A ideia, como sempre, era produzir filmes que pudessem ser exibidos nessas cadeias, sob controle da Loews Incorporated.

A fábrica dos sonhos e dos pesadelos

Além de Louis B. Mayer, Harry Cohn, cofundador da Columbia Pictures, foi outro rotulado por colaboradores e artistas, como um déspota e vingativo chefe de estúdio, tendo perseguido muita gente, que trabalhou com ele.

Na comédia “The Three Amigos”, John Landis mostra uma paródia da relação entre atores e chefes de estúdio, em uma cena parcialmente infelizmente cortada no filme lançado, vista integralmente abaixo, onde o chefão Harry Fugleman (Joe Mantegna) arrasa com os três atores, que ousaram dizer a ele como os filmes deles deveriam ser feitos. A cena integral satiriza aparentemente o jeito de ser de Louis B. Mayer, porque fala em filmes para que todas as pessoas possam ver:

Os grandes estúdios, que produziam uma quantidade absurda de filmes por ano, faziam de tudo para controlar seus funcionários, abafar escândalos, e impor regimes de trabalho massacrantes. Eles criaram o lendário Studio System, que, entre outras tarefas, fazia este tipo de controle. O sistema também impunha o chamado “Block Booking”, que era uma forma de intimidar exibidores para alugar e exibir não só bons filmes, mas também filmes de qualidade inferior, que ninguém gostaria de exibir.

Os estúdios fizeram de tudo para criar mitos em torno de atores e atrizes, porque esta mistificação significava na prática grandes bilheterias nos cinemas. Através desta mística, o público podia facilmente penetrar em um mundo de fantasia. Daí o imenso controle em cima dos atores, para que o público não tivesse a visão da imagem real deles, no lugar da imagem projetada nas telas.

Todos nós, fãs de cinema, nos condicionamos a identificar atores com “filmes de boa qualidade”, embora muitas vezes isso não fosse verdade. Na realidade, atores frequentemente se sujeitaram a papéis menores, para sobreviver. Mesmo assim, muitos foram esquecidos, quando não davam ao estúdio a bilheteria que lhes interessava. Este aspecto do descartar de atores é muito bem ilustrado no filme Ed Wood, a respeito do que passou Bela Lugosi.

Hoje, e já durante muitos anos, foi possível saber em que condições estes mitos trabalhavam e eram tratados. Não são poucas as histórias de atores se entregarem a vícios, desde álcool até cocaína, que acabaram destruindo as suas vidas. O caso fartamente publicado sobre Judy Garland, cuja memória da sua presença em O Mágico de Oz ficou na lembrança dos fãs de cinema, é um exemplo madrasto de como foi possível uma atriz sofrer abuso do chefe do estúdio, com dietas compulsórias e tratamento com pílulas que tinham ação cerebral perigosa, como estimulantes e soníferos. Houve um período em que Garland ficou ausente da MGM, das dietas e das pílulas, mas quando voltou para trabalhar, começou tudo de novo, e tudo isso arruinou a vida posterior dela.

Para o fã de cinema, que imagem se pode guardar? A do ícone na tela ou da pessoa com vida desregrada e sem controle? Eu sou um que prefiro ver o lado sensível dos atores na tela, e as suas capacidades de personificar vidas com notável perfeição. Para mim, a vida pessoal de cada um, aquela que nunca prejudicou ninguém a não ser os envolvidos, é uma prerrogativa do direito do ser humano de guardar a sua identidade para si próprio, ou seja, ninguém tem nada com isso! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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