Antes de falar sobre abordagens, vamos decidir a definição de Arquitetura de Informação que usaremos. Existem ao menos três definições: uma referente aos elementos que compõem a estrutura de um website, outra referente ao processo de organização destes elementos e uma terceira, que seria a profissão que lida com os dois primeiros.
Vamos falar hoje da segunda definição: o processo de Arquitetura de Informação.
Todo processo tem um começo (lista de requisitos), um meio (desenvolvimento) e um fim (a arquitetura ideal).
Gosto muito da divisão defendida por GARRET (2003) em seu livro The Elements of User Experience e a utilizo como base de pesquisa e trabalho. Em seus cinco planos para dividir o desenvolvimento de um website, o autor diz que um projeto parte de uma Estratégia, onde são definidos o público que utilizará o website e o que este público quer fazer com este e neste website.
Depois vem o Escopo, onde são listadas as características e funcionalidades que o site vai precisar conter para atender as necessidades do público ao efetuarem suas tarefas.
O terceiro plano é a Estrutura, onde fica a Arquitetura de Informação que iremos tratar.
Depois vem o Esqueleto, onde começam as definições da interface – o que entra aonde -, mas ainda sem uma estética definida. E por fim vem a Superfície, onde é então definida a aparência dos elementos do website ? se serão usados botões ou imagens, links sublinhados, imagens metafóricas etc.
Pois bem, dito isso vamos à Arquitetura de Informação propriamente dita, nosso terceiro plano.
Como já não é mais uma novidade, muito já se pesquisou sobre como fazer do processo de arquitetura de informação um fluxo perfeito para alcançar um fim tão desejado. Em várias literaturas já é possível encontrar defesas ferrenhas às duas abordagens ali do título. E é fácil, até mesmo quase óbvio, aceitá–las.
Se estamos desenvolvendo um produto para pessoas usarem (a Ergonomia já diz isso há anos ? leia também Usabilidade não nasceu ontem e tem história, ao lado), precisamos analisar as tarefas dos usuários para aquele sistema. A Arquitetura de Informação neste caso envolve criar a arquitetura diretamente de um entendimento dos objetivos do site e das necessidades dos usuários.
Essa é a abordagem Top–Down. Envolve métodos de Engenharia de Usabilidade, como Avaliação Cooperativa, Avaliação Heurística e Focus Group, por exemplo.
Mas analisar a tarefa não é discutir com a equipe, não é perguntar às pessoas que estão à sua volta o que fariam se…
É acompanhar pessoas que possuem o perfil dos usuários definidos na Estratégia e vê–las realizando uma tarefa. Isso parece fácil quando já temos parâmetros em outros websites e podemos analisar as pessoas ?navegando? neles. São os métodos da Engenharia de Usabilidade mencionados acima. É importantíssimo também. E temos várias técnicas para tal.
Mas só isso não é suficiente. No caso do e–commerce, por exemplo, vale acompanhar um usuário efetuando uma compra num supermercado de verdade. Ver sua lógica, como escolhe o produto, como caminha no mercado real, o que examina mas não compra, o que escolhe etc.
Em um site de notícias, por que não acompanhar o processo de leitura de um jornal? Como as pessoas pegam o jornal, como folheiam, o que lêem primeiro?
SHNEIDERMAN (1998) sugere que o envolvimento de usuários traz informação mais precisa sobre tarefas. ?Deve–se levar em consideração o efeito da interface no usuário, e solicitar sua participação para garantir que todas as preocupações estão se revelando cedo o bastante para evitar esforços contra–produtivos e resistências de mudança?.
A abordagem Top–Down é, portanto, focada no comportamento e necessidades dos usuários.
Como o processo lida com elementos que compõem um site propriamente dito, uma abordagem baseada na análise dos requerimentos funcionais e do conteúdo é fundamental. Essa é a abordagem Bottom–Up.
A abordagem Bottom–Up ajuda para uma organização da informação objetiva e imparcial, baseada principalmente nas características inerentes na informação em si. Foca em como o conteúdo pode ser descrito pelas características de cada unidade de informação no sentido de determinar a organização do conteúdo total do website.
Na coluna anterior contamos a história da Arquitetura da Informação e apontamos uma grande aproximação com a Ciência da Informação. E é exatamente aqui nesta abordagem que ela se aplica. Falamos de padronizações, de vocabulário controlado, thesaurus, itens muito conhecidos por bibliotecários, gerentes de conteúdo e cientistas da informação. Essa abordagem é que vai fazer com que o conteúdo seja organizado de acordo como a informação em si deve ser classificada.
Além disso, o envolvimento do usuário nesta abordagem permitirá também entender seu Modelo Mental com relação a essas características inerentes a informação. Uma técnica que é muito eficaz nesse sentido é o Card Sorting.
Uma técnica utilizada para entender como os usuários agrupam as informações de acordo com suas relações de característica e significância. O método gera ainda sugestões de nomenclatura, visto que os usuários participam rotulando esses grupos sob títulos que consideram eficientes.
Enquanto a abordagem Bottom–Up oferece detalhes importantes de como o conteúdo deve ser percebido, a Top–Down oferece uma arquitetura precisa ajustando o conteúdo existente.
É importante ter em mente contudo, que um website deve sempre acomodar mudanças e adições. ?Sendo assim, atingir um balanço entre as duas abordagens é a única forma de assegurar que o resultado final possa evitar armadilhas? (GARRET, 2003).
Na verdade é impossível tratar da Arquitetura de Informação sem passar pelas duas abordagens. De fato, uma não existe sem a outra 😉 [Webinsider]
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Referências:
GARRETT, Jesse James. The Elements of user Experience: User–Centers Design for the Web. Indianapolis (Indiana), 2003, 2nd Ed. 189 p.
REICHENAUER, Arno; KOMISCHKE, Tobias. A Comprehensive Process Model for Usable Information Architecture Systems: Integrating Top–down and Bottom–up Information Architecture. In: Human Computer Interaction, International
Proceedings, 2003. LEA Publishers. Mahwah, New Jersey. Vol. 1, p. 223–227.
SHNEIDERMAN, Ben. Designing the User Interface. Reading (Massachusetts), Addison–Wesley, 1998. 3a Ed.. 639 p.
Renata Zilse
Renata Zilse (renata@maisinterface.com.br) é designer com mestrado em design e arquitetura da informação.