A briga de dondocas entre indústria fonográfica, usuários e artistas segue muito bem, obrigado. A indústria continua cega, os usuários permanecem céticos e a classe dos artistas segue desunida. Ou seja, tudo igual.
Uma pesquisa mais ou menos recente da Pew Internet & American Life, espalhada aos brados na imprensa, revela aumento considerável de downloads de músicas, redução de cinco milhões de usuários do Kazaa, e aumento de participação em programas concorrentes. Os números da pesquisa ainda mostram que os downloads ilegais já estaria em fração menor do que a verificada no primeiro semestre de 2003.
Entre as conclusões da pesquisa, está a ladainha habitual: muita gente está com medo dos processos na Justiça movidos pela associação das gravadoras (RIAA) e, aos poucos, começam a aderir aos sistemas de compra online de música, deixando os downloads de lado.
A pesquisa divulgada é um poço de contrasensos. Vamos analisar.
Primeiro, usaram o gancho de que o número de downloads aumentou, mas não especificaram logo que se trata de downloads legalizados, ou seja, o usuário compra a música online e baixa o arquivo. Só depois é que a Pew “revela” o decréscimo dos downloads ilegais.
Segundo. Mil (ou até dois mil) usuários e nada é a mesma coisa. Somente para termos uma idéia, existem dúzias de mapeamentos apontando altas diferenças entre quantidade de usuários em P2P a depender da região ou estado. Logo, se você vai fazer uma pesquisa, basta querer mostrar um tipo de resultado e pronto. É aquele velho axioma das estatísticas: elas não mentem, apenas mostram a verdade que querem fazer você enxergar.
Terceiro. É óbvio e ululante que muita gente está morrendo de medo da RIAA. A Associação vem praticando um verdadeiro terrorismo psicológico nos Estados Unidos e, como já vimos por aqui antes, conseguindo apoio em outros países, principalmente no Canadá. No Brasil, a posição da Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDIF) não é lá muito diferente.
Não se trata de dizer o que é certo ou errado, apenas de apontar e debater abordagens, eventualmente, equivocadas. E ingênuas.
Quarto. O fato de o Kazaa ter menos usuários não revela absolutamente nada de novo. Há mais de um ano, a própria Sharman Networks, proprietária do programa, vem notando um significado decréscimo de usuários. O programa tornou–se pesado, com propagandas, spyware além da conta e, pior ainda, surgiram excelentes alternativas ao Kazaa com sistemas de busca bem mais rápidos e eficientes.
Quem for um pouco mais antenado já deve ter notado, há mais tempo, que a Sharman Networks tem diminuído os investimentos no Kazaa. Em contrapartida, vem procurado tornar–se uma empresa de provimento de soluções de ponta, como telefonia por IP (VoIP) e outras tecnologias. Não se espante se, em breve, o Kazaa morrer por decreto da própria empresa que o desenvolveu.
Quinto. A maioria dos downloads ilegais, há bastante tempo, não são realizados tanto por programas como Kazaa e outros que estão disponíveis na praça. Ao contrário, são feitos por redes anônimas, isoladas. A dificuldade de se conseguir números concretos sobre elas ainda é suficiente para deixar esses redes fora da maioria das pesquisas e estatísticas divulgadas. [Webinsider]
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Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.