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Antes de começar a ser freela é preciso ter visão

Cidade do México, 21 de junho de 1970. O atleta italiano vê passar à sua frente uma bola sem destino. Embora resignado pela derrota que já se avizinhava, decide não investir sobre o lance, que parece infundado, uma brincadeira, uma irresponsabilidade. “Mas o que este cara está tentando? Não tem ninguém ali!”

No entanto, para a felicidade de uma nação inteira, dentro de alguns segundos teria. Correndo pela meia–direita, o capitão da seleção brasileira chega no momento exato, ou melhor, num momento que só existiu na cabeça do lançador, Pelé. Sem pensar, ou pensando muito rápido, dispara o último petardo, que fecharia a vitória de seu time, o primeiro a conquistar o tricampeonato numa copa do mundo de futebol. Pelé via antes.

Esta capacidade, o ver antes, é fundamental para quem pretender trabalhar como freela. Não é à toa que começamos nosso Mini–Curso–Guia com este tema. Quem, ao entrar ou “recém–sair” da faculdade não se deparou com dúvidas do tipo: mas o que eu poderia ser neste mercado? Como começar a me preparar? Quais serão as tendências do meu segmento?

São perguntas importantes, mas o que tenho visto por aí é que precisamos, antes de tudo, farejar os grandes fluxos do mercado a que vamos servir. Isso porque você viverá sempre no agora. Ninguém nunca vai viver no futuro. Pode parecer uma dedução boba, mas é crucial. O lance é entender não o quando, mas qual será o agora. Ou vários, em cada grande momento de sua vida profissional.

O que você estará fazendo, ou devendo fazer, em um ano? Em cinco? Dez?

Há dez anos atrás, o mais digital que eu conseguia ser, enfim, era na ponta dos dedos. Tinha apenas uma leve impressão digital. Quem imaginaria que os jornais seriam atualizados minuto a minuto? Ou que estúdios de ilustração e agências de propaganda estariam conectados a seus fornecedores (fotolitos, finalizadores digitais, editoras, gráficas) por conexões dedicadas, trafegando dados, imprimindo à distância, finalizando em tempo real o layout que ainda nem foi aprovado? Ou que o mundo dos átomos daria lugar ao mundo dos bits, numa escalada avassaladora e sem fim? O autor do livro que estou indicando na Vitrine Carreirasolo, pensou. Negroponte pensa antes, sempre.

No mundo de hoje, onde o deus Tempo morreu, ter um agora alguns anos adiantado é a melhor forma de sobreviver. E para isso não existe fórmula mágica, que não um trabalho diário e incansável, uma postura aberta à novidade e uma curiosidade patológica.

Questione sempre para onde está indo sua profissão nesta escala – 1, 5 e 10 anos. Daqui a um ano, você tem que saber fazer o que há cinco começará a ser novidade. Daqui a dez anos você tem que estar pronto para apontar as tendências para quem está chegando, e assim sucessivamente. A todo ano, recicle seus valores, suas ambições, descarte o que não serve mais, aceite o que é novo com o mesmo espírito de quem está começando. Aliás, você está começando.

Cabeça na lua e os pés no chão

Não caia na asneira, contudo, de ser um gênio prodígio fracassado, ou aquele que nunca foi, ou o que eternamente espera ser… projetar e antever o futuro profissional é difícil e, sobretudo, não funciona isoladamente. Tenha por prática diária o posicionamento profissional, mas não esqueça que as contas estão aí e os prazos de seus clientes, sempre apertados, também. Portanto, vamos lá, pés no chão. Daqui a cinco anos você tem que ser diretor de mini–animações para um canal infantil da Noruega? Ótimo. Torço para você ganhar uma Palma de Ouro. Contudo, não se esqueça de entregar os SWFs que aquela videolocadora está esperando, ok? Não deixe de terminar a monografia, ou sua mala–direta.

Para finalizar

O Mini–Curso–Guia do Carreirasolo, em seu primeiro artigo, aborda as questões que resumimos aqui de forma mais ampla, inclusive com depoimentos de profissionais de mercado, sugestões de livros e textos e análise de tendências do mercado web. Você pode dar uma olhada numa versão ampliada deste artigo, dar sua opinião e ajudar a complementá–lo. Vai lá no Carreirasolo.

E agora, para finalizar mesmo, o depoimento que colhi do Vicente Tardin, o editor do Webinsider, sobre o que faria se estivesse começando hoje. Ele disse assim:

“Escolha um tema ou assunto que você goste realmente. Leia tudo sobre o assunto, já que você gosta. Encontre outras pessoas com interesse semelhante, converse com elas (hoje há as listas de discussão, os fóruns). Se você gosta realmente do assunto, trabalhar não vai ser um pé no saco. Porque você vai trabalhar o resto da vida, então que seja em algo que você goste e reverta para você.

Daí escreva sobre o assunto regularmente. Tente publicar em algum lugar, e tente ser pago por isso. Se não conseguir que paguem, desencane. Faça um blog, um site, mas faça direito. Mantenha atualizado. Mas só com coisas úteis, que você leria e não acharia bobagem. Seja crítico com você mesmo: tente enxergar o que você acharia daquele conteúdo se estivesse no lugar do leitor.

Tenha desejo suficiente para levar o projeto adiante, sempre. Com o tempo isso vai ser percebido e você vai ser convidado a escrever em vários lugares. Mas não vá para qualquer um. Escolha os melhores. Se for para a grande imprensa, que seja pago. Grátis, só para onde vale realmente a pena – lugares com os quais você se identifica e que possam emprestar relevância e qualidade a seus escritos.

E, muito importante, escreva sempre com sinceridade e alma. Se for para escrever bobagem, melhor não escrever nada e esperar um momento mais favorável. E siga o lema da bandeira do estado do Espírito Santo: “Trabalha e Confia”.

Ah, sim. Divirta–se também, faça coisas que você tenha vontade. Aprenda a tocar guitarra, se der na telha. E tenha uma namorada bacana que goste de você e vice versa.” É isso.. [Webinsider]