Guilherme Bova
Há algum tempo escrevi o artigo A personalidade gringa no design brasileiro (veja ao lado) e alguns leitores indagaram muito sobre o que seria “identidade nacional”. Tomo este como um breve esclarecimento aos que, como eu, estão nesse barco mas não sabem onde o barco está.
Identidade nacional no design brasileiro. Essa expressão poderia tornar–se uma sigla, INDB, de tão recorrente. Primeiramente, identidade nacional não existe nem aqui nem na China (literalmente). O que foi abordado no artigo citado acima era muito mais um apontamento de problemas do que de soluções, mas a expressão “identidade nacional” foi mal compreendida ou mal colocada.
Em todos os países do mundo (salvo raras exceções) a cultura do povo varia de acordo com a região, clima, hábitos, tradição, história etc. No Brasil, essa variação é vasta. Basta olharmos para os povos do Sul do país e depois para o Nordeste. Nosso país chega a um ponto onde a própria língua (DNA de uma cultura) sofre variações consideráveis de acordo com a região. Como falar de uma única identidade nacional no design quando a própria cultura é plural e não singular?
Um primeiro caminho seria não se preocupar em criar algum tipo de identidade “só pra gringo ver”. O valor do design brasileiro deve ser encontrado aqui e permanecer aqui. O reconhecimento internacional deve ser uma conseqüência e não a premissa do processo.
Um segundo passo é evitar os estereótipos. O produto (independente da mídia a que pertença) deve ser competente, ou seja, cumprir com as necessidades do cliente e/ou do usuário. Pensando nisso, o visual deve carregar esta preocupação também. Cada projeto exige uma solução.
A utilização de uma paleta de estereótipos regionais (como padrões de textura indígenas da região da Amazônia, por exemplo) não cabe em qualquer projeto e nem deve. Este tipo de característica regional é importante como repertório, devendo ser digerida e direcionada ao campo do conhecimento para ser utilizada de forma sábia. O que nos leva ao próximo passo.
O terceiro passo é a pesquisa de campo e o levantamento de referências para repertório pessoal e conseqüentemente profissional. Isso pode ser feito simplesmente por tirar registros fotográficos (ou colher imagens espalhadas pela rede, livros etc.) de padrões de textura, muros, pessoas, natureza, roupas ou qualquer outro tipo de situação que te chame a atenção de alguma maneira.
Obviamente, como tudo na vida, é preciso ser criterioso e atento; muitas vezes não enxergamos boas referências por elas estarem em nosso cotidiano, e talvez estas sejam as mais importantes de todas. Lembrando que essas referências não se restringem apenas ao nosso país ou nossa cultura, quanto mais conhecimento o designer possuir em diversas áreas (artes, antropologia, tipografia, entre outros) mais recursos e ferramentas ele terá para resolver problemas projetuais.
Por último, a preocupação maior aqui deve ser quanto a qualidade e valor do projeto de design desenvolvido no Brasil. Se o projeto tem características de gravuras do Nordeste ou de rendas do Sul do país, não importa. O que importa é o conhecimento destas características para que seu uso e apropriação sejam feitos de forma autoral e bem pensada, resultando assim em um produto de qualidade para todos nós brasileiros. [Webinsider]
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
Mais lidas

O áudio esotérico ainda está por aí!
abril 14, 2025


David Lean, o maior cineasta de filmes épicos que já vi
abril 8, 2025

Jack Reacher: dos filmes ao seriado
abril 4, 2025

Preservando o som quadrafônico
março 31, 2025

DRM: a luta contra a proibição de cópias continua
março 27, 2025
Mais conteúdos

O custo de fingir que tem um negócio de sucesso
abril 17, 2025

O áudio esotérico ainda está por aí!
abril 14, 2025


David Lean, o maior cineasta de filmes épicos que já vi
abril 8, 2025