Paulo Guimarães
A menos que você seja um Washington no mercado, já deve ter passado por isso.
Os trabalhos precisam sair e o seu servidor intracraniano dá meio que uma travada, se negando a processar criativamente aquelas informações do “bife mal passado”. Você dá uma disfarçada, tenta um ctrl + alt + del e reinicia o córtex operacional na marra. Tudo fica meio negro, confuso com flashs rápidos de céus azuis à la microsoft.
Você respira fundo. E quando já tá quase lá, vem o tráfego com aquela vozinha insuportável cobrando o material. Você conta de um até dez mentalmente e diz com a maior calma: “no job diz que as peças devem estar prontas até hoje, não especifica o horário”. Ela diz: “mas você já está com esse job na mão há décadas….”
Você conta de um até dez mentalmente e diz com a maior calma: “peguei esse job ontem pela manhã e ainda estou preparando a massa para fritá–lo e passar para o delivery até o fim do expediente”. Ela desiste. Você volta a se concentrar. E tem uma idéia genial: larga tudo e vai dar uma espairecida, tomar um café, jogar um pouco de papo fora, vê se aquela atendimento maravilhosa está precisando de algum cartão de aniversário caprichado para a sobrinha que vai fazer 15 anos, etc.
Você respira fundo, mais uma vez, e pensa o quanto a vida pode ser bela – que o diga Roberto Bennini. Até que numa encruzilhada da agência você dá cara a cara com o mais mal encarado dos seus chefes. E ele? Ele te cobra o job, atropelando o tráfego sem dó nem piedade em alta velocidade.
Você imediatamente cria uma saída técnica para o problema, uma idéia que resolve, que garante o empate e fala abstratamente sobre o que pensa para o job, dando um bela enrolada verbal no chefe menos apreciador do seu genial dote criativo.
Ele não se convence com a explicação e convoca nova reunião de brainstorm para sanar dúvidas e mal entendidos sobre a real necessidade de comunicação do cliente. Você desacredita a necessidade de tal extremo, mas ele a exige. Na reunião, algumas farpas parecem apontar para sua incapacidade de assumir o job.
Comentários graciosos surgem daqui e dacolá. O diretor de arte começa a querer surfar uma ondinha na sua praia, o atendimento detalha verbalmente o que nem de longe era mencionado no briefing, o chefe ironiza sua falta de agilidade para coisa tão banal e a mídia só pensa em te limitar para idéias muito “descoladas”. É justamente nessa hora, prestes à fatídica síncope cardíaca, que você assume o controle de suas forças sobrenaturais concedidas pelo Deus de todas a religiões e grita internamente: eureca, mil vezes eureca!
Você liga todas aquelas informações atabalhoadas e todas aquelas ironias se transformam em combustível para uma idéia matadora, armada até os dentes de pertinência, viabilidade financeira, identidade com a filosofia do cliente e tudo mais de valor agregado por todos os lados possíveis e imagináveis.
Os rostinhos daqueles que queriam comer seu fígado ao alho e óleo minutos antes se iluminam e você percebe até um olhar estranhamente erótico do seu chefe. “Tá me estranhando, Rapá?”, você pensa.
Mas o que fica realmente marcado no seu inconsciente naquele momento é a mágica da sacada, do insight, da idéia matadora, da originalidade aguda do miocárdio e, claro, da luz que surgiu no fim do túnel. E essa mágica, amigo, não tem preço. [Webinsider]
Redator de idéias travadas em busca de emoção
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