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A possibilidade de qualquer pessoa publicar conteúdo em ambientes digitais informativos, no estilo Slashdot, OhmyNews, Wikinews ou Indymedia, já consolidou um modelo de interação, embora muita gente ainda não entenda de um jeito objetivo que modelo é esse.

O jornalismo open source é uma tentativa polêmica de caracterizar a produção e publicação de notícias de modo colaborativo. Polêmica porque, ao dar o nome de “jornalismo” a uma prática aberta a qualquer pessoa, provoca alergias aos defensores mais fervorosos da legitimidade do profissional de imprensa.

Mas o jornalismo open source não surge com a intenção de desregulamentar nenhuma profissão, ao contrário: a meta é fortalecer as bases dialógicas de uma imprensa cuja função essencial é aperfeiçoar o potencial crítico do público.

O termo, ainda questionado, une a análise diária referente ao “jornalismo” com a abertura do código–fonte de softwares – “open source”. Mas o que pode ser o “código–fonte” de um noticiário online? A resposta é simples – as ferramentas de publicação.

Se as notícias, assim como os softwares, eram exclusivamente produzidas e publicadas por uma empresa que as transformava em produtos comercializáveis no estilo “eu falo, vocês escutam”, agora sua elaboração passa a ser de domínio público. Produzidas a n mãos, as notícias, assim como os softwares, mostram o resultado de um trabalho em conjunto, não mais sujeito a uma hierarquia institucional, mas unicamente comprometido com o interesse pessoal de voluntários.

Se no sistema de trabalho “bazar” de Eric Steven Raymond, o processo de criação é protagonizado coletivamente por hackers, aqui são os interagentes que assumem essa posição, a fim de quebrar licenças restritivas que a mídia de massa impunha ao público até então impossibilitado de interferir com imediatismo na mensagem midiática.

Se os bugs são o ponto frágil do desenvolvimento do software livre, informações falsas ou incorretas são o câncer de qualquer notícia. Porém, assim como nas comunidades que trabalham com software livre, os boatos são como bugs, facilmente detectáveis por estarem expostos ao olhar de um grande grupo de pessoas.

A semelhança vai além: se na filosofia open–source a correção é tão importante quanto a identificação dos erros nos programas, o jornalismo open source possibilita que a comunidade, além de apontar uma falsa informação, corrija–a imediatamente ou, no mínimo, alerte futuros leitores sobre aquela incorreção.

Ainda assim, a comparação entre notícias e softwares é delicada já que, apesar de ambos serem produtos intelectuais, desempenham funções sociais diferentes. O que se compara entre software open source e jornalismo open source são os modelos de produção e não seus produtos.

É como equiparar a abertura do código–fonte dos softwares com a acessibilidade a ferramentas de publicação de notícias. Isso faz com que as notícias produzidas em modelo “bazar” possam ser, inclusive, comercializadas. O que é proibido é o impedimento ao ato de publicar. Isso evidencia o porquê deste tipo de jornalismo aproximar–se mais da filosofia disseminada pela Open Source Initiative do que pela Free Software Foundation.

Por que interagir?

Comunidades de hackers da informação são como tribos de desenvolvedores de software livre – têm uma reputação a zelar. É isso que faz com que o noticiário online produzido coletivamente tenda a apresentar melhor qualidade que a programação massiva. O envolvimento dos interagentes é guiado, sobretudo, por um interesse pessoal que faz com que os (bons) resultados obtidos pelo seu trabalho seja a melhor recompensa. Agregado ao sucesso vem o respeito pela comunidade, que fala de perto à reputação de ada interagente junto ao grupo.

Confiar que todos os internautas agem de modo coerente e benéfico em sistemas onde o anonimato é permitido, porém, seria ingenuidade. O perigo de mau uso da ferramenta aberta para destruir conteúdos úteis existe, mas este é um risco necessário se o jornalismo ambiciona um caráter dialógico.

E se há algo inato ao ser humano que o leva a interagir é justamente a tendência – e a necessidade – de dialogar. É isso que faz com que muitas notícias publicadas no Slashdot, por exemplo, provoquem uma conversa de 200, 400 comentários disparados pelos leitores–autores.

As discussões travadas a partir de enfoques distintos em sites noticiosos evidenciam uma das necessidades que deram origem ao jornalismo open source. Assim, a produção conjunta de notícias atende a demandas fundamentais de focalizar interesses particulares na avalanche de informações do ciberespaço. Dá também vazão à vontade de comentar os fatos, despertada em um público exposto a ângulos de análise diferentes – e muitas vezes contrários.

O jornalismo open source dá chance de cada um pensar diferente – e sobretudo, dar visibilidade midiática a essa diferença.

Jornalismo open source tem recebido alguns sinônimos no jargão da internet. Participatory Journalism, Citizen Journalism ou Grassroots Journalism compartilham a idéia de que jornalismo é uma prática comunitária, feita para o público e pelo público. Ora, se jornalismo é o conhecimento do cotidiano, nada mais justo que deixar que os cidadãos contem suas histórias do dia–a–dia. [Webinsider]

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Avatar de Ana Maria Brambilla

<strong>Ana Maria Brambilla</strong> (anabrambilla@gmail.com) é jornalista, mestre em comunicação e autora do blog <strong><a href="http://www.anabrambilla.com/blog" rel="externo">Libellus</a></strong>. No Twittter é <strong><a href="http://twitter.com/anabrambilla" rel="externo">@anabrambilla</a></strong>

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