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A evolução de qualidade dos home theaters tem sido diretamente proporcional à evolução da qualidade das matrizes de vídeo feitas para as mídias em uso. Historicamente, a necessidade de uso de novas mídias (vídeo disco, vídeo cassete, etc.) impulsionou fabricantes de telecine para desenhar novos métodos de transferência de película para vídeo.

A indústria de cinema, por seu lado, foi saindo da montagem de planos em película, feita nas moviolas, depois progredindo para mesas de edição sofisticadas do tipo “flat-bed”, e finalmente para a edição digital, feita em estações de trabalho criadas para este fim, como por exemplo, o sistema Avid ou o Final Cut Pro, listados nos créditos dos filmes atuais.

Os métodos digitais de edição de negativos em película não se tornaram úteis por acaso: anteriormente, a edição física consistia em colar (literalmente) pedaços de filme em sequência, tornando o processo de reedição, se necessário, bastante complicado. O processo de colagem era, portanto, linear. O que os métodos digitais permitiram foi a edição não linear e não destrutiva do negativo. Uma vez em ambiente digital, qualquer plano pode ser testado e remontado, ao gosto do diretor. Não é surpresa alguma que os chamados “cortes do diretor” e assemelhados estejam hoje disseminados nas mídias domésticas.

Uma etapa importante neste último processo de transição foi a criação do Intermediário Digital (ou DI, baseado na sigla em língua inglesa). A criação do DI obrigou o aperfeiçoamento dos telecines digitais e dos scanners para filmes de cinema.

A varredura dos scanners de película pode ser feita continuamente, nos processos onde a qualidade da imagem não é crítica, ou de forma intermitente, para imagens em vídeo com resolução alta. Neste último, a varredura do fotograma é feita quadro a quadro, mais lentamente e com maior precisão na captura.

Até pouco tempo atrás, o nível de resolução chegava até 4 K (4 mil linhas de resolução), mas hoje em dia ela atinge 8 K e deverá aumentar em um futuro próximo.

A captura com resolução de 8 K é particularmente útil para negativos de 65 mm. Uma das primeiras transcrições de filme 70 mm para vídeo com 8 K foi a do documentário Baraka, já comentado aqui na coluna e disponível em mídia Blu-Ray.

 As diferenças nos processos de transcrição

Aumentar a resolução da transcrição não é suficiente para se conseguir o melhor resultado da imagem em vídeo. Mesmo sem nunca ter visto de perto ou comparado resultados de fontes de filme diferentes, o usuário poderá comprovar o que eu afirmo. Via-de-regra, as mídias em disco de melhor qualidade derivam da transcrição do negativo de câmera, e muitas vezes o estúdio coloca esta informação nos créditos da mídia.

O uso do negativo de câmera não é tão simples assim. Um número significativo de negativos de câmera precisa ser preservado do desgaste físico. Existem casos documentados, como o do negativo CinemaScope de “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, da M-G-M, usado sem cuidado na confecção da cópia em 70 mm do filme, e que quase arruinou a recuperação e preservação do mesmo.

O estúdio, para evitar isto, lança mão de alternativas, como por exemplo, criar um interpositivo, diretamente do negativo de câmera. Do interpositivo podem ser feitas cópias de proteção, ou então um internegativo, este último capaz de gerar cópias de distribuição para as salas de cinema.

Entretanto, o uso de interpositivo como fonte de película para a transcrição de filme para vídeo tem demonstrado resultados duvidosos. Um caso em tela foi mostrado no uso de um interpositivo para a edição em Blu-Ray do filme “Rock-A-Bye-Baby” (no Brasil, “Bancando a Ama Seca”), dirigido por Frank Tashlin para a Paramount, e fotografado no processo VistaVision.

O uso do interpositivo parece esmaecer o chamado detalhamento (“low-level detail”), resultando em uma imagem com nitidez inferior. E em se tratando de negativos de alta resolução, como o do VistaVision (35 mm) e principalmente dos filmes em 70 mm (65 mm), esta ausência de detalhe é crítica.

É possível que o espectador casual, desavisado, ou pouco exigente, não vá notar nada, mas o problema não escapa ao entusiasta em home theater ou ao conhecedor de cinema. O fotograma a seguir é capturado da edição em Blu-Ray da obra prima de David Lean “Lawrence da Arabia”. O filme faz uso constante de planos gerais, e em vários deles é possível ver pessoas ou objetos distantes com impressionante nitidez:

image001

 

A experiência em vídeo correta destas magníficas tomadas não seria possível ser preservada há pouco tempo atrás. Sabendo disto, a Columbia (Sony) segurou o lançamento em Blu-Ray, até que as condições técnicas ideais de transcrição fossem conseguidas. E este trabalho é mostrado nos créditos de restauração, ao final do filme:

image003

 

O intermediário digital resultante de uma matriz de alta qualidade se presta para um monte de aplicações distintas. Entre elas, o da melhor fabricação possível de qualquer mídia doméstica, particularmente as de alta resolução, como o Blu-Ray. Ou então, cópias para cinema em 4 K, que podem hoje serem projetadas em várias salas com equipamento digital.

Se dentro em breve as mídias domésticas em 4 K se tornarem factíveis, todo o esforço do estúdio encontrará resultados importantes na produção de matrizes tecnicamente competentes.

Na sala de vídeo doméstica nós temos hoje capacidade para conseguir a melhor imagem possível também, desde que instalando telas de boa qualidade e reprodutores com chipsets avançados.

Em suma, creio que este será o caminho a ser seguido, nas etapas evolutivas da qualidade da imagem do filme em vídeo. E até onde nós iremos caminhar, eu sinceramente não sei, mas é possível que a resposta venha bem antes do que se imagina. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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4 respostas

  1. Olá, Rogerio,

    A situação financeira dos estúdios é justamente a oposta: os filmes fracassam na receita da bilheteria ou não têm espaço de exibição, e assim os estúdios tentam compensar tudo isto com o lançamento em mídia. Houve um momento recente, anos atrás, que a mídia quase saía junto com o lançamento em cinema, e houve casos onde a indústria começou a forçar a barra no DRM com mais força, para evitar que o filme fosse visto no exterior antes do seu lançamento local.

    Mas, você está certo quanto à divulgação de detalhes: ela só aparece, quando aparece, em sites credenciados, como o Blu-Ray.com, hidefdigest e outros poucos, que recebem o disco para análise e crítica.

    Eu estou com planos de tocar um pouco neste assunto de novo, enfocando uma nova tranca em disco, forçada no ano passado, mas que felizmente ainda não deu em nada. É sempre o consumidor final quem paga por esta briga com a pirataria.

    E, finalmente, acho que tem muita gente que faz master de qualquer maneira, Blu-Ray inclusive. Fica claro que ninguém da empresa olhou aquilo antes de lançar no mercado, e novamente quem continua pagando a conta é o consumidor, que não tem (até teoricamente teria) como pedir o dinheiro de volta.

  2. Olá Mestre Paulo:
    Achei sua matéria extremamente interessante, afinal os estúdios sempre procuram divulgar nos extras as técnicas que foram empregadas em suas filmagens. Mas como numa sala secreta, sempre escondem ou não informam detalhes do processo de transcrição destes negativos ou películas para as mídias disponíveis como DVD’s e Blu-Ray. Esse tema sempre me intrigou, afinal tudo o que vemos em mídia dependem diretamente do processo utilizado, e sua matéria revelou os vários meandros deste processo. Ocorre que na maioria das vezes (acho que até por custo), não empregam os melhores (e mais caros) processos de transcrição. Sabe Paulo tenho uma opinião a respeito desse assunto (aliás queria saber sua opinião); você não acha que as empresas cinematográficas só se preocupam com a crítica voltada para os filmes nas salas de cinema, e não tem a mesma preocupação com o público dos Home Theater’s ? Afinal os cinéfilos domésticos não dão o mesmo retorno financeiro (comprando filmes)que o público que paga caro para assistir suas produções nas salas de cinema ?
    Um grande abraço.

  3. Olá, Leeosvald,

    Concordo totalmente contigo, mas parece que esta prática de usar telecinagem ultrapassada acabou, no que tange a Blu-Ray.

    Em edições de DVD, continua uma tristeza, e a gente nunca sabe quando vai comprar um abacaxi difícil de descascar pelo cinéfilo. Por mais que eu goste e apoie os estúdios lançadores independentes, fica difícil aceitar a mesma desculpa, do tipo “a master já chegou para a gente assim”, a propósito de qualquer reclamação sobre a qualidade do disco deles.

  4. Olá Paulo.

    E mais uma vez um excelente artigo.
    Olha,na minha opinião o que está faltando, em alguns filmes que são relançados para o Blu-ray, é a falta de uma nova restauração e masterização do mesmo, Do que adianta um formato competente, se o master digital usado está errado em vários aspectos.

    Um exemplo digno foi o do E.T, eu vi e me deslumbrei com tanta nitidez e cores exatas.
    Deve ser por causa do apelo popular que esse título tem.

    Mas enfim, tem outros vários títulos interessantes que merecem ser restaurados e arquivados agora. por que fiquei sabendo a pouco tempo,que masters antigas em HD do inicio de 2000, estão sendo usadas no Blu-ray,acho isso uma falta de respeito a nós amantes da sétima arte, alias desde o finado HD-DVD estão fazendo isso.

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