Continuando a série de artigos sobre Scrum, fizemos três perguntas rápidas a Juan Esteban Bernabó, CEO da Teamware, empresa pioneira em consultoria e treinamento em Scrum e métodos ágeis no Brasil.
– De que forma o Scrum pode se adaptar a diferentes tipos e tamanhos de projetos de desenvolvimento?
– Na verdade, na nossa experiência com grandes implementações de Scrum, o que tem que ser adaptado é a organização a Scrum e não Scrum a organização.
Equipes em Scrum são pequenas, de cinco a nove pessoas, multidisciplinares, que trabalham normalmente juntas fisicamente. Para a maior parte dos projetos em TI este tamanho é suficiente, tomando em consideração que equipes em Scrum aumentam a produtividade comparadas com equipes tradicionais em uma escala de 200% a 400% só pela remoção de desperdício causado pela engenharia faseada.
Ou seja, uma pequena equipe de sete pessoas na verdade pode chegar a produzir o que nominalmente é produzido por um grupo de 14 à 28 pessoas.
– Qual é, na sua opinião, o principal benefício que uma empresa ganha ao adotar Scrum em seus projetos?
– Se bem adotado, permite à organização começar a ter uma métrica da capacidade que tem em converter demandas funcionais em produtos prontos, o que permite que se possa melhorar a predictibilidade de entregas de produto.
Além disso, organiza e disciplina a forma como demandas entram em projetos e o diálogo necessário entre as partes para organizar da melhor forma possível o trabalho. E como ponto principal inicia um processo de melhoria contínua que permite que gargalos sejam identificados na organização identificando desperdícios que em outro tipo de metodologia passariam desapercebidos.
Tem que lembrar que Scrum é baseado fortemente no mesmo paradigma (Lean, Just In Time) que a Toyota tem utilizado para se destacar em qualidade e produtividade dos seus concorrentes no mercado automobilístico, e que tem iniciado uma revolução em outras áreas além da manufatura, como logística, gestão hospitalar, gestão de projetos complexos de construção civil.
– Em quais pontos o gerente de projetos deve redobrar seu cuidado ao adotar o Scrum?
– Na mudança de paradigma. Os gestores de projetos tradicionais foram treinados em uma série de práticas que partem de uma série de pressupostos. Eles estão ligados à engenharia faseada (fase de requisitos, fase de construção etc.) e também pressupostos sobre processos empurrados, que são baseados em empurrar previsões no sistema de produção e muitos desses pressupostos caem por terra quando se aplica engenharia simultânea, onde o as disciplinas são realizadas simultaneamente por uma equipe multidisciplinar, e quando se transforma o sistema de gestão de empurrado para puxado, que está baseado em responder às demandas o mais rápido possível e não em tentar prever a demanda com antecipação.
Assim como Lean tem tido problemas na sua adoção na manufatura, por requerer uma mudança na filosofia/paradigma de gestão, Scrum também requer esta mesma mudança, e cuidados devem ser tomados para fazer esta mudança de forma correta. Não se trata de ferramentas, e sim de mudar a forma como se pensa e os pressupostos sobre gestão, que normalmente estão intimamente arraigados no mindset dos gestores e executivos de uma empresa.
É muito difícil de dentro da organização conseguir transformar o pensamento do primeiro escalão da organização; assim recomendo trazer alguma consultoria que tenha experiência em auxiliar organizações em este tipo de mudança organizacional, além de saber como implantar dentro das equipes.
De outra forma se terá uma organização partida – parte dela funcionando de forma puxada e parte dela funcionando de forma empurrada criando conflitos no nivel médio. [Webinsider]
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Guilherme Schneider
Guilherme Schneider (@guilhermebarcha) é executivo na área de consultoria e tecnologia da informação e mantém um blog pessoal.