Ultra High Definition, Ultra HD ou simplesmente 4K, é o formato de tela que está caminhando a passos largos para ser o padrão “de fato” de como a gente deve assistir TV ou fazer uso da tela para reproduzir filmes.
Com uma quantidade de pixels suficiente para preencher qualquer tela de tamanho agigantado, o formato 4K tem levado fabricantes a se aventurar em um mercado até então pouco explorado: o das telas acima de 70 polegadas. E com isso eliminando, talvez até em definitivo, o uso de projetores nas instalações para home theater.
Até recentemente, a ultra alta definição existia nos laboratórios de autoração, como forma de transcrever com a maior fidelidade possível películas de 35 mm. Anteriormente, os telecines digitais usavam, e com enorme competência, diga-se de passagem, transcrições com 2K de resolução, mais do que suficientes para cobrir o negativo 35 mm. Em conversões de filme para vídeo mais ousadas usa-se 8K como referência, e não se iludam, que eles virão por aí nas telas também, em qualquer ponto do futuro, independente de serem necessários ou não.
A boa nova nas atuais telas LCD de 4K é a de que nada do material 1080p @ 24 qps, padrão dos discos Blu-Ray, encontrará obsolescência! Até pelo contrário: quem já tiver a chance de assistir a um filme em Blu-Ray na tela 4K ficará encantado com a qualidade do processo de adaptação por upscaling que é exibida. O upscaling é um processo de remapeamento de pixels compulsório, realizado na TV pela necessidade de se adaptar a imagem nativa da fonte de sinal para a quantidade maior de pixels da tela nova, mas o que se observa é que quanto maior for a qualidade do sinal da fonte melhor será a adaptação da imagem convertida.
O futuro nos reserva surpresas desagradáveis!
Atualmente, qualquer aparelho reprodutor de Blu-Ray ou servidor de mídia de boa qualidade poderá ser conectado a uma TV 4K, com grande chance de reprodução impecável em qualquer porta HDMI.
Quando o Blu-Ray entrar na era 4K esta situação poderá (e possivelmente deverá) mudar radicalmente:
Para proteger seus interesses financeiros Hollywood tornou mandatória a introdução do protocolo de proteção versão 2.2 do famigerado HDCP (High-bandwidth Digital Content (Copy) Protection) nos leitores de Blu-Ray 4K. O HDCP 2.2 exige hardware diferente dos atuais, o que significa que qualquer equipamento anterior com outra versão de HDCP não poderá ser atualizado por firmware. Alguns dos atuais receivers e processadores e aparelhos de TV 4K já estão sendo equipados com portas HDMI dando suporte a HDCP 2.2, mas a quantidade das mesmas é, no momento, exígua (uma ou duas por aparelho).
Notem que para um conteúdo 4K protegido seja reproduzido com a quantidade de pixels nativa a trajetória de conexão dos equipamentos envolvidos deverá ser compatível com o HDCP 2.2, caso contrário a imagem será reduzida em definição para vídeo standard. Na prática, isto obriga que player, receivers e TV tenham portas HDMI com HDCP 2.2 e que os cabos HDMI passem somente por estas portas.
Agora, imaginem a situação de quem já comprou a sua TV 4K, que não tem portas protegidas! Não há, que se possa perceber, contorno para este problema. Se isso não é um desserviço ao disco Blu-Ray então eu não sei mais o que é. E não é típico das pessoas que impõem este tipo de proteção? Eles mandam, a indústria obedece e o usuário final é quem paga a conta!
Mais uma proteção burra!
A proteção de conteúdo não é novidade. No passado processos como Macrovision (videocassete e DVD) e CSS (DVD) se espalharam que nem praga nas mídias compradas no comércio. E todas essas proteções, sem exceção, foram derrubadas por diversos métodos.
O HDCP foi inventado para as conexões por HDMI e depois se espalhou para as conexões DVI e DisplayPort. A inexistência de HDCP em qualquer equipamento com estes tipos de conectores é conhecida: um computador, por exemplo, pode ter uma placa de vídeo com HDCP e trabalhar com um monitor comum (DVI sem proteção). O sistema operacional rodará e será exibido na tela. Quando o usuário tentar reproduzir um conteúdo protegido, a imagem do monitor ficará escura. A propósito, o AnyDVD foi o primeiro dos programas utilitários que conseguir contornar este problema, tirando esta proteção “on the fly”, isto é, durante a reprodução da mídia.
Qualquer equipamento mais recente contendo portas HDMI vem sendo usado sem maiores preocupações quanto ao processo de conexão neste particular. Mas, com o aparecimento do protocolo de proteção 2.2 a coisa muda de figura.
A versão 2.2 dá maior controle ao proprietário do conteúdo. Até a distância da transmissão de sinal ficará por conta deste controle. Por exemplo, sinais vindos da Internet, poderão ser controlados de tal forma que, em não encontrando conexões protegidas, eles serão automaticamente desligados!
As portas 2.2 receberão sinais de qualquer equipamento sem este tipo de proteção, e sem interferir na conexão, desde que o conteúdo emitido não esteja protegido. Se a proteção existir, o receptor do sinal terá cerca de 20 ms para responder se a porta é protegida, caso contrário a conexão é cortada. Mesmo em equipamentos protegidos este tempo terá que ser obedecido, mas a eletrônica se for local não haverá, em princípio, motivo para preocupação.
Este exagero de proteção só dará dor de cabeça ao usuário doméstico não ambientado com os processos de cópia ou desinteressado pelos mesmos. Dentro de um computador, da mesma forma como anteriormente, a cópia de material 4K será acompanhada da necessária quebra da proteção. E isto nos mostrará novamente a fragilidade deste processo. O usuário doméstico que é neófito no assunto não conseguirá fazer uma cópia, mas na prática pouco importa, porque os sites de compartilhamento farão isso no lugar dele.
O HDCP 2.2 é totalmente voltado para o conteúdo em 4K, mas usará quem quiser. Resta saber se o usuário final será informado sobre isso!
HDMI versão 2.0
Não faz tanto tempo assim, que eu publiquei uma coluna sobre HDMI 1.4, descrevendo uma série de aperfeiçoamentos e recursos. Agora, o consórcio HDMI adota a versão 2.0 com especial atenção à demanda de reprodução de vídeo em 4K.
A versão anterior ainda assim será capaz de conduzir sinal em 4K de maneira eficiente. O que muda são algumas restrições que a versão anterior poderá não ser capaz de realizar, motivo pelo qual os atuais equipamentos 4K já são providos com software 2.0.
Na versão 2.0 estão previstos suportes à reprodução de vídeo com as seguintes resoluções, previstas nas normas BT.2020:
– 2160p, 10/12/16 bits, 24/25/30 Hz, RGB 4:4:4
– 2160p, 8/10/12/16 bits, 50/60 Hz, RGB 4:4:4/4:2:0 e YCbCr 4:2:0/4:2:2
Observação: 2160p se refere a 4K (3840 x 2160 pixels) em varredura progressiva. Os valores em bits se referem ao color depth, os valores em notação x:x:x à compressão de cor, e a varredura da tela é indicada em Hz.
Na versão 1.4 o suporte a 4K tem limite em 2160p, 24/25/30 Hz, RGB 4:4:4/8 bits e RGB 4:2:2/12 bits.
O suporte a 4K com varredura de até 60 Hz dá à versão 2.0 a capacidade de reproduzir 3D em 4K com eficiência. Além disso, recursos internos das TVs como a reprodução simultânea de várias fontes (Multiview, por exemplo) se torna exequível, e eles hoje já são uma realidade.
No que concerne a atualizações dos atuais equipamentos dotados de HDMI 1.4 não há garantias de que possam receber uma nova versão de firmware para aceitar a versão 2.0, mas se tiverem cabe ao fabricante oferecer esta atualização.
Finalmente, quero deixar claro ao leitor que nada muda no cabeamento existente. O usuário poderá continuar usando os mesmos cabos, em equipamentos dotados da nova versão. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
8 respostas
Parabens pelo artigo! Fiquei com uma duvida. Estou pensando em adquirir um notebook (Acer C690) e ele possui saida HDMI com suporte ao HDCP. Isso significa que nao conseguirei usa-lo em minha smartv que nao tem suporte HDCP na entrada HDMI?
Eu sou leiga nesse assunto, mas estou com uma dúvida quanto a uma tbm box que adquiri. No caso na descrição dessa diz que a porta hdmi é 2.0(compatível com jocoso 2.2). No caso para eu não ter problemas com o funcionamento de aplicativos como o Netflix eu precisaria de uma tbm tbm com porta hdmi 2.0?
Oi, Eloyeng, o objetivo da coluna é este mesmo, da minha parte eu te agradeço pela leitura.
Muito interessante sua explicação. Obrigado por compartilhar.
Olá, Antonia,
Eu não faço análise de equipamentos, mas por acaso a minha última coluna fala de projetores high end que eu vi funcionando, como parte de uma palestra dada pela Epson. Você pode ler o texto nesta página: http://br74.teste.website/~webins22/2015/08/21/avancos-da-epson-na-tecnologia-de-projetores/
O mercado de projetores tem situações diferentes aqui e na América. Eu te aconselho primeiro decidir em que classe de projetor você quer investir, e depois dar uma olhada no mercado e comparar preços, antes de tomar qualquer decisão. Note que quando eu falo em classe, é porque existem projetores de diversos tipos, e que são separados por aplicações e por recursos.
boa tarde Professor,
fui atraída pelo seu texto e depois de lê-lo até o final senti a necessidade de perguntar:
– qual projetor para home theatre comprar , para quem espera uma excelente imagem e manipula as várias formas de linguagens digitais?
Muito obrigada pela atenção
Antonia
Prezado amigo,
Agradeço muito o seu comentário, e espero que tenha lhe ajudado mesmo.
A coluna do Prof Paulo nos ensina de forma didática os meandros da tecnologia de áudio e vídeo. Recorro a ela sempre que estou com dificuldades nesta área , como foi agora na orientação para compra de um novo equipamento.
Parabéns Dr. Paulo e muito obrigado por dispor seu tempo e enorme conhecimento à disposição dos aficionados.