Avanços da tecnologia dos CDs que o tempo não perdoou

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Até hoje eu noto que pouca gente soube ou tomou conhecimento de que o CD de música como o conhecemos teve desde a sua concepção original previsão para muito mais do que simplesmente reproduzir música com competência.

Uma série de informações, colocadas em formato de dados, poderiam ser armazenada, e para tal vários parâmetros de formatação foram desenvolvidos, capazes de serem lidos por drives de CD nos computadores do início da década de 1990.

Para que o leitor tenha uma exata noção do tipo de avanço conseguido à época, eu vou me permitir resgatar um pouco da minha própria experiência de trabalho:

Quando eu comecei a fazer pesquisa no laboratório, uma das primeiras coisas que o meu então chefe de departamento e orientador me ensinou foi ir para a biblioteca pesquisar a literatura. Eu tive o privilégio de trabalhar como assistente do Prof. Paulo da Silva Lacaz, um dos maiores, senão o maior, bioquímico que eu conheci, e dono de uma cultura invejável. Logo no início dos trabalhos, ele me acha no departamento e me diz: “Vamos para a biblioteca”. E lá ele me mostra os livros do Index Medicus. Cada livro era enorme, uma verdadeira bíblia, contendo mês a mês todos os trabalhos publicados na área de medicina, incluindo bioquímica humana, que era o nosso campo de trabalho na época.

Para pesquisar um assunto, era preciso achar o tópico nas páginas do Index Medicus, anotar a referência completa em um papel e depois tentar com a bibliotecária uma esperança de que houvesse uma assinatura daquele periódico ou então tentar conseguir em Manguinhos ou outra biblioteca de fora. Tudo isso, é claro, tomava um tempo enorme e muitas vezes sem o sucesso desejado.

 Entra o CD-ROM

O CD-ROM é uma dessas variações de armazenamento de dados capazes de incluir um enorme banco de dados, e com a possibilidade de ter dentro dele um programa capaz de gerenciar esta massa de dados de maneira organizada, facilitando enormemente a pesquisa, se for bem feita.

Tanto assim que, quando eu cheguei em Cardiff, em meados do início de 1990, um dos meus orientadores me levou para conhecer a biblioteca do pré-clínico, que ficava no térreo do nosso prédio. E ao perguntar sobre o Index Medicus, a bibliotecária me perguntou de que ano, e volta com um disco CD-ROM. Os primeiros drives eram só de leitura, e eram lentos, mas não lentos o suficiente para empacar este tipo de pesquisa. E aí, pela primeira vez, eu tinha nas mãos um disco com todas as informações bibliográficas de um ano inteiro, e não mais de um mês, como nos livros anteriores. O programa gerenciador tinha mais de uma forma de pesquisa, baseada em palavras-chaves. É claro que o usuário tinha que saber o que era uma palavra-chave, e notem que até hoje a gente usa este tipo de chave, só que com o nome de “tag”.

A quantidade de informações sobre referências de trabalhos publicados era tão grande, que eu me obriguei a escrever um programa em ambiente dBase, para saber se eu já tinha posse de uma dada publicação, antes de ir buscá-la na biblioteca.

A diferença entre a pesquisa nos livros e no disco parecia um milagre. Entrando com a palavra-chave o resultado era quase instantâneo, e notem que naquela época os microcomputadores de plataforma IBM ainda usavam os chips Intel 8086, pouco depois substituídos pelo Intel 80286. Na prática, não fazia muita diferença, porque o barramento dos drives de CD era um verdadeiro gargalo. E mesmo que assim não o fosse, quem já havia passado pelo tédio de pesquisar em livros mensais acharia tudo aquilo rápido demais!

Bancos de dados tomaram enorme impulso nos primeiros anos da microinformática e eu conheci pessoas que viviam escrevendo sistemas, a maioria em linguagem dBase, como forma de se sustentarem. O leitor que não passou por isso pode assim mesmo imaginar que a diferença na base de pesquisa não é só a velocidade, mas a precisão: quem folheia um livro inteiro pode cochilar e perder uma referência importante. Com o CD-ROM isto é quase impossível, a não ser que o sistema seja mal escrito!

Nas bibliotecas britânicas, ainda houve o cuidado de se estabelecer uma ligação em rede com um sistema da época chamado Janet, que opera até hoje pela Internet. Pelo sistema, era possível saber em que biblioteca se podia achar cópia dos trabalhos de interesse. E quando isso não acontecia, o estudante podia acionar a bibliotecária, que se encarregava do assunto.

A propósito: o Index Medicus se tornou parte integrante da nossa pesquisa on-line, exceto que com outro nome (Medline/PubMed) e patrocinado pelo National Institutes of Health (NIH) norte-americano.

 O CD interativo

A ideia por trás do CD Interativo (CD-i) era a de permitir criar uma interface gráfica que conquistasse a participação do usuário na busca de informações. O sistema foi desenvolvido pela Philips, e teve ramificações em diversos níveis. Mas os players de mesa não vingaram, e a Philips teria tomado um enorme prejuízo, encerrando o projeto. Por outro lado, a interatividade vingou, e em formas de aplicativos usados em ambiente Windows, por exemplo. Alguém se lembra dos discos da Microsoft, como Cinemania ou Encarta?

image001

 

Aí em cima pode-se ver a capa da última edição do Cinemania, com a data do seu lançamento no título. O aplicativo rodou bem até o ambiente Windows XP, se a memória não me trai, e depois disso foi abandonado. Um equivalente moderno próximo é o do site do IMDb (Internet Movie Database), que segue o mesmo tipo de banco de dados.

Já o Encarta se propunha a ser um substituto atualizável de uma enciclopédia eletrônica. Este chegou a durar mais, mas a Internet também o derrubou de vez. Variações desta noção de enciclopédia se tornaram obsessão de construtores de banco de dados, partindo da premissa de que um CD-ROM pode guardar muita coisa. Bem, hoje em dia nem tanto, haja visto o site do Wikipedia! Mas, a gente não pode se esquecer de que se trata de armazenamento de informações comprimidas e, portanto, mais fáceis de achar espaço de memória em uma mídia que nunca passou de 800 MB.

De qualquer maneira, é de se admirar que o projeto do Encarta tenha durado tanto. Se o colecionador procurar, ainda será capaz de acha discos à venda por aí!

 O CD com fotos

Uma das vertentes do CD-i foi encontrada em um produto da Kodak, com o nome de Photo CD, criado com o objetivo de facilitar o arquivamento e/ou transporte de material fotográfico em mídia ótica. Em princípio, seriam beneficiados usuários domésticos e profissionais do ramo. Bastava levar os negativos para uma loja ou quiosque da Kodak, e depois o disco era retornado ao usuário com as fotos. A seguir, se novas fotos fossem adicionadas, o disco deveria ser levado de volta para a gravação das mesmas.

image003

 

image005

 

Até hoje, eu noto que persiste uma certa confusão a respeito do formato usado pela Kodak. As imagens são salvas com a extensão “.pcd”, e para a sua reprodução é preciso um programa capaz de decodificá-las. Na época, os players de CD-i eram capazes de fazer isso e reproduzi-las em uma tela de TV. Em computadores, se eu quiser vê-las novamente, é preciso ter a mesma coisa. O Irfanview (gratuito) e congêneres fazem isso com competência. Durante o advento dos primeiros leitores de mesa para DVD era possível ler a especificação “Photo CD” como mídia compatível, mas passava longe disso. Na verdade, estes aparelhos foram desenhados para reproduzir CD-ROM com imagens Jpeg.

Embora o rótulo do CD da Kodak falasse em “Photographic Quality Images”, na prática nunca foi bem assim. Olhando-se as especificações de resolução e o tamanho dos arquivos (4 MB e acima) é quase impossível acreditar em equivalência de uma tela de HDTV.

O Photo CD foi substituído pelo Picture CD, com o mesmo objetivo de salvaguardar um rolo de filme 35 mm fotográfico, embora o formato já seja em Jpeg. Mas, convenhamos, qualquer um pode fazer disco semelhante em casa, a não ser que ele ou ela não disponha de um scanner para negativos ou diapositivos 35 mm. Em última análise, bastaria mandar revelar estes negativos, fazer cópia em papel e digitalizar a imagem.

 O tempo não perdoa

Muita gente que eu conheço acha o CD-R uma mídia obsoleta, mas em princípio ele é ainda o meio ideal para armazenamento de informações a longo prazo, sem risco de perda. Algumas marcas de CD-R usavam no início corantes de má qualidade, mas outras não, e são estas que estão aí por mais de duas décadas sem exibir qualquer perda de informação gravada.

Os adeptos da memória sólida às vezes não encontram desculpas para drives que pararam de ler ou gravar, de um momento para o outro. Portanto, tudo é de fato uma questão de saber se o processo de fabricação é confiável, em um ou outro caso.

Nos notebooks modernos, especificamente nos modelos ultrafinos, não há mais espaço para alocar um drive interno. Mas, neste caso é imperativo formatar um drive USB, de modo a fazê-lo dar partida no sistema quando necessário, e neste drive ter uma cópia instalável de programas ou do próprio sistema operacional.

O tempo se encarregou de tornar obsoletos avanços importantes do passado, que tanto nos facilitaram o dia a dia do trabalho, as pesquisas e as trocas de informações. O CD/DVD-ROM, no entanto, ainda resistem como mídia de distribuição de programas ou sistemas.

Nos primeiros anos da década de 1990 as redes de computadores internacionais tomaram enorme impulso, obrigando a criação de servidores de mídia cada vez mais poderosos. Esses servidores são hoje necessários para o oferecimento dos serviços de “nuvem”, cujo objetivo principal é exatamente o mesmo daqueles anos do aparecimento do CD-ROM: fazer backup de dados de interesse do usuário.

Embora o armazenamento de arquivos na nuvem seja interessante para se acessar informações ou arquivos em locais remotos, o processo em si carece de acesso à Internet. O problema é que em um país como o nosso, este acesso está longe, mas muito longe, do desejado, principalmente fora dos grandes centros. E aí o obsoleto entra em cena: basta levar no bolso um drive CD/DVD/Blu-Ray e plugá-lo em uma porta USB decente, e está tudo resolvido. Não deixa de ser uma ironia, na frente de uma nova tecnologia, cujo avanço colossal aparentou ter colocado tudo em plena obsolescência! [Webinsider]

Leia também:

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

5 respostas

  1. O nosso Brasil vai entrar o ano de 2019 com planos metas e sonhos
    não é o governo que trata o seu povo é o tempo que tem que ser renovado
    para aquele que inda acredita que o nosso país vai sair da corrupção
    manter aquilo que ja foi luta e acarreta a novas socializações
    vai crescer culturalmente e principalmente socialmente

    fico aqui com minhas esperanças aguçadas junto com meu empenho social acreditado
    que minha ideia de fim de guerra pra sempre e principalmente a consciencia
    de um Brasil que ja cresce ao ser Brasil e ama o povo e luta pela ordem e progresso

    bom ano gente estamos chegando em mais um fim de ano que seja de alegrias
    humanidade fraternidade e amores maiores seja então um ano bem vindo ja me antecipando

  2. Em princípio, não deveria haver nenhuma diferença marcante no equilíbrio da resposta de frequência do sinal DTS da fonte. O processo de conversão, entretanto, é feito em várias etapas, e com base nas informações de metadados contidos no som codificado, e assim é possível acontecer algum erro de processamento, que acabe derivando um som de qualidade inferior.

    No caso da TV, como você observou, ela tem decodificador próprio, e nada impede que a conversão para analógico não passe pela conversão em PCM primeiro.

    Se você me permite, o correto seria você investir em um decodificador externo decente. Aliás, muitos dos que se queixam de problemas tanto em Dolby quanto DTS se esquecem que o pós-processamento é pedra angular na qualidade do som obtido.

  3. Olá Paulo.

    Olha, saindo do assunto mas entrando em outro, Até leigo no mesmo em se tratando de áudio, “DTS e Dolby”, não vou entrar nem na questão do áudio HD desses mesmos, me deparei com uma dúvida e a mesma veio nas mais frustantes, rodei um filme em DTS mas setando o áudio de saída em PCM, já que o meu sistema de som não suporta o codec DTS para tal, Ou seja, o áudio totalmente estridente e sem os graves acentuados, Até minha tv que suporta o áudio DTS soou infinitamente melhor e com graves do que o sistema de som que não é dedicado ao DTS, Acho eu que a mistura do som desapareceu por completo depois que foi passado pelo som PCM mesmo via HDMI, Te pergunto, é algo errado ou é assim mesmo ?

  4. Olá, Leeosvald,

    Tem certeza de que foi neste texto?

    Eu andei lendo recentemente a situação da pirataria e as mesmas pessoas se queixando, mas continua sendo unânime a proposta de lançar gravações em CD, e eu te confesso que não sei mais por quê.

    Nós, audiófilos mais antigos, sabemos da importância que houve na aquisição de CDs em tempos remotos, e que de tempos para cá se tornaram verdadeiros itens de colecionador, como por exemplo, os discos da RealTime, e a causa é a ausência de novas prensagens. Este problema não atinge somente os CDs. Eu vi versões em mono de gravações conhecidas, prensadas em SACD, na faixa de uns quinhentos dólares, um preço que eu encaro como fictício, e só deve encontrar algum respaldo nas mãos de algum fanáticos por detalhes na reprodução do áudio.

    Como você, eu reconheço alguns méritos do MP3, mas eu, se puder evitar, passo ao largo. O MP3 nunca teve como objetivo o áudio de alta resolução e sim a portabilidade (leia-se Internet, na maioria das vezes). Às vezes não se consegue ouvir diferença, mas isto é na maioria das vezes, fruto de limitações da gravação da fonte. Em gravações demandantes estas limitações não existem, e é nisso que, em se tratando de portabilidade, o Flac se encaixa, porque a compressão que ele traz é feita de maneira a não causar perda de qualidade no sinal da fonte.

    O fato do sinal ter nível mais baixo no arquivo Flac não tem nada a haver com o codec em si. A referência de pico de sinal digital é 0 dB (100% no nível de normalização). A faixa dinâmica elevada torna alguns sons muito baixos, ao contrário do sinal comprimido (MP3 e outros) que não consegue evitar algum tipo de perda.

  5. Olá Paulo, nesse seu artigo de CD, me deparei com um tal de codec Flac de 24Bits/96 de resolução de áudio, escutei em um fone de ouvido que acredito ser o mais próximo de se ouvir todos os instrumentos de uma musica, e pasme, peguei um MP3 de 320Khz, e sinceramente claro com o fone de ouvido, deu pra ouvir os mesmos instrumentos, mas enfatizo que o som em Hi-Res é mais baixo do que o MP3, vamos dizer assim um pouquinho mais puro, mas nada que dispense o MP3, mesmo com perdas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *