Duas ou três coisas que se pode fazer com os upmixers modernos

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Trilha sonora de Jurassic Park em mixagem moderna

Jurassic Park em novas mixagens modernasTodo colecionador de filmes tem uma noção razoável de como soam as trilhas sonoras dos filmes constantes em sua coleção. E em consequência de sua presença nas salas de cinema e das repetidas reedições dos mesmos filmes, sabe também como as trilhas sonoras específicas evoluem.

Nos últimos avanços realizados pela implementação de chipsets que abrangem os novos codecs para áudio 3D foi prevista a programação de algoritmos para o aperfeiçoamento das trilhas sonoras com formatos mais antigos, desde trilhas com codecs “legacy”, quanto com codecs de alta resolução. E tal fato já foi explorado e explicitado várias vezes no passado recente desta coluna.

Não existem, pelo menos até eu tenha tomado conhecimento, maiores detalhes sobre como estes algoritmos funcionam. Em tese, qualquer aperfeiçoamento de trilha sonora é baseado nos chamados “cues”, que são pistas, indicações ou sinais que apontam para a execução de alguma rotina do decodificador.

Alguns desses sinais são óbvios, como, por exemplo, a alteração de fase de um mesmo som, reproduzido em canais diferentes. Sinais fora de fase são encontrados espalhados ou sem identificação espacial no ambiente onde o som é reproduzido. São, portanto, passíveis de serem usados para efeitos sonoros diversos, como a reverberação ou eco, dependendo do grau de desfasamento.

Mas, quando se trata de aumentar ambiência usando canais dispostos para a dispersão na parte superior da sala, que é fundamentalmente a base do som tridimensional, as indicações (“cues”) não são tão óbvias assim, e eu creio que é bem possível que o tratamento técnico das trilhas seja escondido de propósito, para evitar ajudar a concorrência.

Talvez por conta disso, DTS Neural:X e Dolby Surround, dois algoritmos que eu testo todo dia, não podiam ser mais diferentes, e o resultado do funcionamento de ambos é, na minha percepção, totalmente imprevisível.

Os resultados dos aprimoramentos são quase sempre uma surpresa

Em 1993, um cinema próximo da nossa casa em Cardiff inaugurou a reprodução de som DTS 5.1, e nós fomos lá para conferir. O filme era o então super badalado “Jurassic Park”, que lançou o codec.

Depois disso, eu tive na minha coleção a versão em Laserdisc, com som Dolby Stereo (ou Dolby Surround, se quiserem), em PCM, excelente, por sinal. Bem mais tarde apareceu o DVD com Dolby Digital 5.1 e finalmente a edição Blu-Ray com DTS HD MA 7.1.

Jurassic Park foi um filme que primou e ganhou prêmios pela excelência dos efeitos sonoplásticos. O som do dinossauro T. Rex, por exemplo, ganha especial dimensão não só pela localização espacial, mas principalmente pela gama espectral escolhida, uma mistura inteligente de sons de alta e baixa frequência, dando ao mesmo tempo sensações de terror e de apreensão (sons agudos), com sensação de peso (sons graves), já que o animal é grande.

A trilha de Jurassic Park, aperfeiçoada com a ajuda do DTS Neural:X, é uma revelação aos ouvidos. As cenas de tempestade soam com intenso realismo. Nota-se o aumento da ambiência, mas nunca de forma artificial. Talvez por ter sido remixada em 7.1 canais, uma quantidade apreciável de sons se desloca para a parte de trás da sala, e em alguns momentos tem-se a sensação de animais correndo ao nosso redor.

Sinceramente, eu não conseguiria arrumar uma explicação convincente para o aprimoramento específico desta trilha. Em outras trilhas DTS HD MA o resultado é um som plano, praticamente sem aprimoramento nenhum.

No lado do Dolby os resultados são igualmente imprevisíveis, mas quando a remixagem dá certo o conjunto todo soa com uma clareza invejável, incluindo diálogos ou o deslocamento destes pelo ambiente circunvizinho.

Um bom resultado com Dolby TrueHD que eu anotei algum tempo atrás foi o da trilha do filme Tron, da década de 1980, remixado na edição em Blu-Ray.

Não creio que a formatação em 5.1, 6.1 ou 7.1 faça tanto esta diferença, durante o processamento desses algoritmos, seja Dolby ou DTS. E também não acredito que o ancoramento para a reprodução de som tridimensional esteja encerrada em sons “fora de fase”, como o foi no Dolby Stereo.

A imprevisibilidade de resultados tem, por outro lado, um aspecto bastante positivo: uma vez tirando a expectativa de aprimoramento fora, e não mais se importando com o processamento em si, quando bons resultados aparecem, o prazer auditivo aumenta intuitivamente!

A adoção de tais algoritmos, quando ativadas no chamado modo automático de escolha do decodificador, pode parecer paternalista, mas é uma maneira do fabricante chamar a atenção do usuário para um recurso que vem como bônus da atualização de programação do equipamento caro, que o ajudou a montar um sistema 3D.

Cabe ao usuário tomar a decisão de aceitar ou não o aperfeiçoamento imposto no momento da reprodução. Esta prerrogativa garante o direito, digamos assim “democrático”, ou de livre arbítrio, se quiserem, para aquilo que o usuário achar melhor para si próprio.

Um conselho a todos, se me permitem: quem de fato gosta de cinema em casa com boa qualidade, pouco importa se o som do sistema é 2.0, 5.1, 6.1, 7.1 ou 3D, o que é fundamental é que a instalação e os ajustes sejam feitos da melhor forma possível, para que quem assiste e ouve tenha a noção mais exata das intenções dos cineastas e técnicos.

Até hoje, todos os codecs, sem exceção, são projetados de modo a manter retro compatibilidade com os que o precederam. Assim, uma trilha 3D pode ser reproduzida em qualquer equipamento não 3D com absoluta fidelidade, a única restrição sendo a ausência de recursos específicos. Se o usuário não se importa com esta perda ele não estará alijado do prazer de assistir seus filmes em casa. [Webinsider]

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Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2016/05/24/base-da-trilha-sonora-digital-moderna/

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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