Esta semana alguns poucos veículos de imprensa divulgaram e comentaram sobre a nova regra da Comissāo Europeia, que obriga gigantes de tecnologia como Facebook, Google, Twitter e Microsoft a apagarem qualquer “discurso de ódio” encontrado em suas redes sociais em menos de 24 horas.
O que em um primeiro momento pode parecer uma boa ideia, abre um precedente extremamente perigoso que pouca gente está discutindo: quem definirá o que é “discurso de ódio”?
A definição vaga do termo é o aspecto mais assustador dessa regra, que não diz claramente o que, para a Comissāo da Uniāo Europeia, pode ser considerado “discurso de ódio”.
Mas quem decide?
Nāo é necessário ser muito criativo para imaginar que regras como essa ferem diretamente a liberdade de expressāo e sāo uma censura direta ao conteúdo de redes que atingem bilhões de pessoas diariamente.
O Google anunciou recentemente que lançará um novo aplicativo de mensagens que vai “sugerir” ao usuário temas para iniciar conversas ou como responder determinada mensagem recebida, de acordo com algoritmos e inteligência artificial. Os gigantes da tecnologia nāo só controlarāo o que você poderá ler, mas também o que e como você pensará.
Curadores de conteúdo do Facebook recentemente confirmaram que recebiam orientaçāo direta da empresa para diminuir a relevância ou simplesmente esconder conteúdos de cunho conservador do feed de notícias.
Verdade seja dita, sabemos que quando assinamos os termos e condições de uso dessas plataformas, aceitamos usar “gratuitamente” os serviços abrindo māo de nossa privacidade e concordamos que poderāo analisar as informaçōes que publicamos ou lemos nessas redes, permitindo que nos enviem “publicidade direcionada” dentre outros.
Mas será ético e correto que se use esses mesmos termos para definir quais conteúdos podemos ver e publicar?
Desde que Snowden trouxe à luz as informações sobre o monitoramento executado pela NSA e outras agências governamentais, soubemos que a qualquer momento nossos dados e privacidade poderiam estar sendo invadidos em nome de um “bem maior”, como ameaças terroristas e questões de segurança, e mesmo com toda a repercussão do caso, aceitamos esta premissa e não demandamos com firmeza o fim do monitoramento dessas mesmas redes ou o fechamento das agências que o executam.
Mas agora aparentemente estamos entrando em um outro nível de controle, onde empresas e governos começam a usar os mesmos recursos tecnológicos que usamos em nosso dia a dia para definir o que é certo ou errado que podemos ver, dizer e nos informar.
Creio que, dessa vez, nāo podemos simplesmente sentar e assistir tudo novamente impassíveis. [Webinsider]
http://br74.teste.website/~webins22/2013/03/02/privacidade-que-bicho-e-esse/
Guilherme Schneider
Guilherme Schneider (@guilhermebarcha) é executivo na área de consultoria e tecnologia da informação e mantém um blog pessoal.