A educação a distância é o processo de ensino e aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e temporalmente, na definição de Moran, em 1994.
É uma modalidade de ensino que supera os obstáculos criados pela distância e pelo tempo. Mas, diferente do que muitos pensam, não é recente.
Existem diversos registros quanto ao seu início, contudo é possível apontar para a Suécia em 1829, no Instituto Líber Hermondes, com 150.000 usuários.
E a Faculdade Sir Isaac Pitman foi a primeira escola por correspondência na Europa, em 1840, no Reino Unido,
Assim, as primeira experiências remontam ao início do século XIX e ganharam impulso mundial. Hoje o ensino a distância, ou EAD, é um poderoso instrumento de ensino que utiliza recursos tecnológicos inovadores como apoio e transforma as práticas de ensino.
No Brasil ainda estamos caminhando nesta modalidade, com muito espaço para avançar. Olhando para trás, pesquisas indicam que o EAD surgiu no Brasil em 1904, quando as Escolas Internacionais, representação de uma organização norte-americana, lançaram alguns cursos por correspondência.
E a partir de 1930 ganhou mais ênfase, com enfoque e atuação alternativa para o ensino profissionalizante.
É possível que as primeiras experiências sobre o tema não tenham apresentado registros, mas entre os dados registrados temos as seguintes informações distribuídas no tempo:
1904
O Jornal do Brasil registra, na primeira edição da seção de classificados, anúncio que oferece profissionalização por correspondência para datilógrafo.
1923
Um grupo liderado por Henrique Morize e Edgard Roquette-Pinto criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro que oferecia cursos de Português, Francês, Silvicultura, Literatura Francesa, Esperanto, Radiotelegrafia e Telefonia. Tinha início assim a Educação a Distância pelo rádio brasileiro.
1934
Edgard Roquette-Pinto instalou a Rádio–Escola Municipal no Rio, projeto para a então Secretaria Municipal de Educação do Distrito Federal. Os estudantes tinham acesso prévio a folhetos e esquemas de aulas, e também era utilizada correspondência para contato com estudantes.
1939
Surgimento, em São Paulo, do Instituto Monitor, o primeiro instituto brasileiro a oferecer sistematicamente cursos profissionalizantes a distância por correspondência, na época ainda com o nome Instituto Rádio Técnico Monitor.
1941
Surge o Instituto Universal Brasileiro, segundo instituto brasileiro a oferecer também cursos profissionalizantes sistematicamente. Fundado por um ex-sócio do Instituto Monitor, já formou mais de 4 milhões de pessoas e hoje possui cerca de 200 mil alunos.
Juntaram-se ao Instituto Monitor e ao Instituto Universal Brasileiro outras organizações similares, que foram responsáveis pelo atendimento de milhões de alunos em cursos abertos de iniciação profissionalizante a distância. Algumas dessas instituições atuam até hoje.
Surge a primeira Universidade do Ar, que durou até 1944.
1947
Surge a nova Universidade do Ar, patrocinada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Social do Comércio (Sesc) e emissoras associadas. Seu objetivo era oferecer cursos comerciais radiofônicos. Os alunos estudavam nas apostilas e corrigiam exercícios com o auxílio dos monitores. A experiência durou até 1961, entretanto a experiência do Senac com a Educação a Distância continua até hoje.
1959
A Diocese de Natal, Rio Grande do Norte, cria algumas escolas radiofônicas, dando origem ao Movimento de Educação de Base (MEB), marco na educação a distância não formal no Brasil. O MEB, envolvendo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Governo Federal utilizou- -se inicialmente de um sistema rádio-educativo para a democratização do acesso à educação, promovendo o letramento de jovens e adultos.
1962
É fundada, em São Paulo, a Ocidental School, de origem americana, focada no campo da eletrônica.
1967
O Instituto Brasileiro de Administração Municipal inicia suas atividades na área de educação pública, utilizando-se de metodologia de ensino por correspondência.
A Fundação Padre Landell de Moura criou seu núcleo de Educação a Distância, com metodologia de ensino por correspondência e via rádio.
1970
Surge o Projeto Minerva, um convênio entre o Ministério da Educação, a Fundação Padre Landell de Moura e Fundação Padre Anchieta, cuja meta era a utilização do rádio para a educação e a inclusão social de adultos. O projeto foi mantido até o início da década de 1980.
1974
Surge o Instituto Padre Reus e na TV Ceará começam os cursos das antigas
5ª à 8ª séries (atuais 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental), com material televisivo, impresso e monitores.
1976
Criado o Sistema Nacional de Teleducação, com cursos através de material instrucional.
1979
A Universidade de Brasília, pioneira no uso da educação a distância, no ensino superior no Brasil, cria cursos veiculados por jornais e revistas, que em 1989 é transformado no Centro de Educação Aberta, Continuada, a Distância (CEAD).
1981
Fundado o Centro Internacional de Estudos Regulares (CIER) do Colégio Anglo Americano que oferecia ensino fundamental e médio a distância. O objetivo do CIER é permitir que crianças, cujas famílias mudem-se temporariamente para o exterior, continuem a estudar pelo sistema educacional brasileiro.
1983
O Senac desenvolveu uma série de programas radiofônicos sobre orientação profissional na área de comércio e serviços, denominada “Abrindo Caminhos”.
1991
O programa “Jornal da Educação – Edição do Professor”, concebido e produzido pela Fundação Roquete-Pinto tem início e em 1995 com o nome “Um salto para o Futuro”, foi incorporado à TV Escola (canal educativo da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação) tornando-se um marco na educação a distância nacional. É um programa para a formação continuada e aperfeiçoamento de professores, principalmente do ensino fundamental e alunos dos cursos de magistério. Atinge por ano mais de 250 mil docentes em todo o país.
1992
É criada a Universidade Aberta de Brasília, acontecimento bastante importante.
1995
Criado o Centro Nacional de Educação a Distância.
A Secretaria Municipal de Educação cria a MultiRio (RJ), que ministra cursos do 6º ao 9º ano através de programas televisivos e material impresso. Ainda em 1995, foi criado o Programa TV Escola da Secretaria de Educação a Distância do MEC.
1996
Criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED) pelo Ministério da Educação, dentro de uma política que privilegia a democratização e a qualidade da educação brasileira.
É neste ano também que a Educação a Distância surge oficialmente no Brasil, sendo as bases legais para essa modalidade de educação estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, embora somente regulamentada em 20 de dezembro de 2005 pelo Decreto n° 5.622 (BRASIL, 2005) que revogou os Decretos n° 2.494 de 10/02/98, e n° 2.561 de 27/04/98, com normatização definida na Portaria Ministerial n° 4.361 de 2004 (Portal do Ministério da Educação, 2010).
2000
É constituída a UniRede, Rede de Educação Superior a Distância, consórcio que reúne atualmente 70 instituições públicas do Brasil comprometidas na democratização do acesso à educação de qualidade, por meio da educação a distância, oferecendo cursos de graduação, pós-graduação e extensão.
Nasce o Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ), com a assinatura de um documento que inaugurava a parceria entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Secretaria de Ciência e Tecnologia, as universidades públicas e as prefeituras do Estado do Rio de Janeiro.
2002
O CEDERJ é incorporado a Fundação Centro de Ciências de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (Fundação CECIERJ).
2004
Vários programas para a formação inicial e continuada de professores da rede pública, por meio da EAD, foram implantados pelo MEC. Entre eles o Proletramento e o Mídias na Educação. Estas ações conflagraram na criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil.
2005
Criada a Universidade Aberta do Brasil, uma parceria entre o MEC, estados e municípios, integrando cursos, pesquisas e programas de educação superior a distância.
2006
Entra em vigor o Decreto n° 5.773, de 09 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino, incluindo os da modalidade a distância (BRASIL, 2006).
2007
Entra em vigor o Decreto no 6.303, de 12 de dezembro de 2007, que altera dispositivos do Decreto n° 5.622 e estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 2007).
2008
Em São Paulo, uma Lei permite o ensino médio a distância, onde até 20% da carga horária poderá ser não presencial.
2009
Entra em vigor a Portaria nº 10, de 02 julho de 2009, que fixa critérios para a dispensa de avaliação in loco e deu outras providências para a educação a distância no ensino superior no Brasil (BRASIL, 2009).
2011
A Secretaria de Educação a Distância é extinta.
O quadro hoje
Entre as décadas de 1970 e 1980, fundações privadas e organizações não governamentais iniciaram a oferta de cursos supletivos a distância, no modelo de tele educação, com aulas via satélite, complementadas por kits de materiais impressos, demarcando a chegada da segunda geração de educação a distância no país.
Somente na década de 1990 a maior parte das instituições de ensino superior brasileiras mobilizou-se para a educação a distância, com o uso de novas tecnologias de informação e comunicação.
O ensino a distância cresce rapidamente para acompanhar uma nova sociedade respaldada em informação e com necessidade de novos conhecimentos. Sociedade que demanda cada vez mais novas habilidades e conhecimentos por parte da força produtiva, para lidar com novos produtos, novos mercados, novos interesses por parte da população e novas profissões.
A educação presencial somente não dá mais conta dessa demanda.
Dados do Censo 2014 comprovam o elevado crescimento da educação a distância nesses últimos anos. Os dados mostram aumento da quantidade de alunos e resultados muito favoráveis em relação ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) e também quanto a empregabilidade.
Frente a este cenário torna-se necessário um olhar mais profundo sobre a qualidade que esses cursos promovem, onde há milhares de alunos envolvidos.
Há no Brasil hoje, diversas instituições e entidades que oferecem cursos nesta modalidade, nos mais variados modelos e metodologias de estudo. Ainda segundo dados do Censo 2014, os cursos superiores a distância tiveram um aumento de 2.588,5% e os cursos presenciais tiveram no mesmo período um aumento de 66,9%, conforme podemos constatar no gráfico:
Evolução de matrículas no período de 2003 a 2014
Segundo o diretor da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), Carlos Longo, atualmente pouco mais de 200 instituições atuam no segmento e outras 100 já pediram autorização ao MEC para oferecer o serviço, bem como a tendência é o número de alunos de EAD dobrar nos próximos cinco anos.
Evolução do número de matrículas em cursos de graduação, segundo a modalidade de ensino – Brasil – 2003 a 2014. Fonte: ABED Associação Brasileira de Educação a Distância.
Considerações finais
A oferta de cursos formais e informais através da modalidade de educação a distância cresce globalmente.
As experiências brasileiras nessa modalidade de educação, governamentais e privadas, foram muitas e representaram nas últimas décadas a mobilização de grandes contingentes de recursos.
Embora avanços importantes tenham acontecido nos últimos anos, ainda há um grande caminho a percorrer para que a educação a distância possa ocupar um espaço de destaque no meio educacional, em todos os níveis, vencendo, inclusive, o preconceito de que os cursos oferecidos não possuem controle de aprendizado e não têm regulamentação adequada.
Está rompendo barreiras, criando um espaço próprio e complementando a modalidade presencial. A educação a distância oferece oportunidades que pelo modelo presencial seriam difíceis ou impossíveis de atingir.
Contudo também nos remetem a uma reflexão sobre a necessidade em focar no aprendizado do aluno e ser este o principal objetivo e ideal de qualquer instituição de ensino e órgão regulador.
Para que isto aconteça de forma eficaz, as instituições precisam ter professores e tutores competentes, equipes técnico-administrativas de apoio e instalações compatíveis com as necessidades desse aprendizado e que suportem a qualidade necessária para esta plena expansão.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria Nacional de Educação Básica. Educação à Distância: integração nacional pela qualidade do ensino. Brasília: 1992.
______. Resolução CNE/CES n.1 de 03 de abril de 2001. Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação. Diário Oficial da União. Brasília, 9 de abril de 2001, seção 1, p.12
______. Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União. Brasília. 23 de dezembro de 1996. LITWIN, Edith. O Bom livro na Educação à Distância, Das Tradições à Virtualidade. In: LITWIN, Edith. (Org.). Educação a Distância: temas para o Debate de uma Nova Agenda Educativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
MORAN, J. M.. Novos caminhos do ensino a distância. In: CEAD, Rio de Janeiro, SENAI, ano I, n. 5, out./Nov/dez, 1994.
FERREIRA, R. A Internet como ambiente da Educação à Distância na Formação Continuada de Professores. Universidade Federal do Mato Grosso. Dissertação de Mestrado: Cuiabá, 2000. Online. Disponível na Internet. In: http://cev.ucb.br/qq/ruy_ferreira/tese.htm
Acesso em: setembro 2016
HERMIDA, J. F.. Artigo A educação à distância: História, concepções e Perspectivas. Universidade Federal da Paraíba (UFPB).Online. Disponível na Internet. In: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/art11_22e.pdf Acesso em: setembro 2016
ALVES, L.. Artigo Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mundo . Universidade Federal do Rio de Janeiro. Online. Disponível na Internet. In: http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2011/Artigo_07.pdf Acesso em: setembro 2016
ABED Associação Brasileira de Educação a Distância A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. DESAFIOS PARA A QUALIDADE. Censo 2014. Online. Disponível na Internet. In: http://www.abed.org.br/arquivos/Educacao_a_distancia_desafios_para_a_qualidade.pdf
[Webinsider]
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Leia também:
http://br74.teste.website/~webins22/2016/11/27/praticas-pedagogicas-como-estrategias-do-conhecimento/
http://br74.teste.website/~webins22/2016/08/17/agentes-inteligentes-encurtam-caminho-no-ensino/
Rosana Cestari
Rosana Cestari é psicóloga, docente no ensino superior, pós-graduada em marketing, pós-graduada em metodologia e didática do ensino e mestranda em Educação.
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