Dolby Surround em CD, um formato que nunca deu certo

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Os discos com Dolby Surround aparecem na década de 1990 para simular o Dolby Stereo aplicável em música, dentro de casa, mas o resultado foi pobre e o formato depois abandonado.

 

O Dolby Surround foi criado depois que foi observado que o Dolby Stereo de 4 canais era mantido integralmente nas trilhas de dois canais das mídias oferecidas, como ovideodisco e o videocassete, e poderia ser reproduzido dentro de casa. O formato era passivo (circuito sem alimentação elétrica) e incluído principalmente em aparelhos de TV, como uma grande novidade para a reprodução de trilhas de cinema.

Notem que existe uma diferença matricial entre o Dolby Stereo e o som quadrafônico, já existente nesta época. Neste, o som de 4 canais é mixado para os canais esquerdo e direito frontais e esquerdo e direito surround. Já no Dolby Stereo, um dos canais surround é trocado por um canal central, de modo a emular as trilhas do CinemaScope, 3 canais na tela e um surround:

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O circuito do Dolby Surround deveria obedecer a matriz do Dolby Stereo na reprodução, mas na prática a sua resolução mostrou-se limitada, e assim pouco tempo depois foi desenvolvido o Dolby ProLogic, com o mesmo objetivo, em um circuito ativo alimentado por processador, incluso nos A/V receivers do início do home theater dedicado.

A Dolby custou a liberar o Dolby Surround para codificação em CDs, mas a RCA e outras insistiram e eles acabaram cedendo. Em plena década de 1990, eu tive chance de colecionar alguns desses discos, lançados em 1993:

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Ainda nesta mesma época, eu consegui achar a trilha do filme Sete Homens de Ouro, lançada em selo italiano CAM, com Dolby Surround:

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As primeiras críticas pessoais

Quando eu consegui esses discos, era impossível achar um decodificador adequado, mas anos depois, eu construí o meu primeiro home theater, já com Dolby Digital e Dolby ProLogic. Aí começou a decepção: não ouvi Surround algum, porque não tinha mesmo. E até hoje, com o decodificador Dolby Surround moderno, na realidade um upmixer de 2.0 para 5.1, o surround continua sem efeito. O que sobra é uma relativa ampliação lateral dos canais frontais, mostrando um pouco a mais de ambiência do que a reprodução estereofônica convencional propriamente dita.

Eu usei circuito Hafler muitos anos, com a ajuda de um amplificador de 2 canais classe A, com dupla saída de caixas acústicas. O resultado com trilhas Dolby Stereo em vídeo disco foram muito bons. Na verdade, muita gente que era apologista do Hafler afirmava que este sistema era muito melhor do que os decodificadores passivos do Dolby Surround. E era mesmo!

Notem que eu fiz questão de mostrar acima a ilustração da trilha dos Sete Homens de Ouro com Dolby Surround, porque a matriz original do filme é MONO, e com isso o estéreo do CD é simulado. O que é um absurdo inaceitável, em termos técnicos.

A única experiência positiva que eu tive com Dolby Surround foi a do disco da Delos “Surround Spectacular”, de 1995. Trata-se de uma edição com dois discos, um deles com testes e outros com as mixagens Dolby da música do catálogo deles. Tempos depois, a Delos esqueceu o Dolby Surround e lançou várias trilhas em Dolby Digital em DVD, agora em formato 5.1, uma delas com a conhecida Abertura de 1812.

Conclusões

Parecia promissor, mas não tinha como dar certo. Alguma coisa deu muito errado, porque as trilhas em Dolby Stereo do cinema têm canais surround bastante ativos, mas o Dolby Surround doméstico não.

No disco “Moon River” do Henry Mancini, cuja capa é mostrada acima, o conteúdo é o mesmo do elepê “Mancini In Concert”, recentemente remasterizado pela Dutton Vocalion. Comparando as duas versões, a do Dolby Surround mostra uma dispersão com mais dinâmica, porém com menos foco em muitas sessões da orquestra. O piano, por exemplo, soa distante e sem impacto auditivo. No disco da Vocalion, a presença da orquestra traz de volta a dinâmica original das sessões de gravação e o foco nos instrumentos que ficou faltando na versão Dolby.

Surround em PCM com CD não deu certo, mas funcionou muito bem nos videodiscos. Outros codecs foram tentados, como o Circle Surround, mas este último exigia um decodificador apropriado, talvez por isso não foi para a frente. O Circle Surround reproduzido com decodificador Dolby ProLogic ou similar, apesar de ser declarado compatível, também não reproduz um som convincente.

A Telarc também se aventurou com Dolby Surround, na década de 1990, lançando o Switched on Bach 2000, com a participação da Wendy Carlos, a pioneira em gravações clássicas com o sintetizador Moog:

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A Telarc tentou sugerir que a reprodução era “4D”, mas o que se ouve fica muito aquém disso. O que é mais triste é saber que Wendy Carlos, cujo Switched on Bach da década de 1960 trouxe um impacto grande, até mesmo para os colecionadores de música clássica, tentou readaptar os arranjos originais de uma forma desinteressante.

Quando eu conheci o Sylvio Rabello (ex-Philips/CBS), eu soube que ele havia conhecido a Rachel Elkind, produtora do então Walter Carlos, e trouxe o elepê para o Brasil. O disco feito aqui, prensado na RCA, soava muito bem, e o CD, masterizado posteriormente, ainda muito melhor. Por causa disso, a versão 2000 é uma decepção, e desmerecedora dos créditos que Wendy Carlos ganhou com seu trabalho pioneiro.

Eu teria continuado a usar Hafler, mas pulei direto para o Dolby Digital, que mudou tudo, inclusive a formatação digital 5.1 dos filmes, que o tomaram como referência. O Dolby Surround ficou, merecidamente, na saudade. Não foi um bom formato, como poderia ter sido. Aliás, bons formatos de áudio morreram com o tempo, e eu às vezes fico pensando que estou reclamando sozinho neste universo de colecionadores de disco! [Webinsider]

 

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Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Olá Paulo
    Este tema carrega muitas controvérsias, vale tecer uma opinião mais apurada.Desde a tentativa pioneira (na década de 60) do sistema Phase 4 Stereo, tanto para o vinil, e mais tarde para o CD, a experiência para o audiófilo deixava a desejar, e o resultado era de um som com uma cena ou panorama mal definidos.
    Gostos a parte; o resultado geral não agradava a ouvidos mais apurados.
    Passado o tempo (na década de 80), com minha vivência como técnico matrizador, eu diria que o sucessor desse formato (tema desta materia), não vingou na produção músical, pela criatividade exacerbada dos produtores que participavam das mixagens da cena gravada de forma descabida, durante a finalização da fita Master. Eu pude conferir raríssimas obras bem mixadas de forma coerente no formato Dolby Surround.Diante disso tudo só nos resta na atualidade conferir mostras musicais ao vivo em teatros, ou salas de espetáculo como na Sala São Paulo.Te desejo boas festas e um novo ano de muita saúde.Abraços

    1. Oi, Rogério, eu entendo o seu ponto de vista. Teoricamente, nós deveríamos reproduzir um disco Dolby Surround com um decodificador apropriado, o que, aparentemente, não ó caso do ProLogic e similares. Mas, que eu me lembre, foram poucos os aparelhos com este tipo de recurso, por isso é que eu usei o Hafler, do qual tenho boas memórias.

      Feliz Natal e muito obrigado pela sua leitura, comentários muito bons, pelos quais agradeço.

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