A arte de adiar a vida (todos procrastinando)

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Você já procrastinou alguma vez na vida? Calma! Procrastinar é uma palavrinha feia que, na prática, significa adiar os compromissos e tarefas do trabalho, do dia-a-dia, pessoais ou da família. Deixar para amanhã. Ou para até quando não der mais tempo.

Tudo aquilo que até então era importante torna-se prioridade zero na vida da gente, conforme a aproximação da data limite para a solução ou providência a ser tomada, não sem antes passar pelos níveis de “importante”, “urgente”, “urgentíssimo”.

O correto seria que resolvêssemos as coisas que precisamos resolver enquanto elas ainda são apenas importantes.

Para entender como funcionam estes níveis é fácil. O que ontem era importante, hoje é urgente, amanhã será urgentíssimo e assim por diante. Em cada um deles a pressa em se fazer aquilo que se pretende, acaba aumentando consideravelmente. E ao final de tanta correria, a pressa passa e que fica é uma solução incompleta, remendada, que se tivesse sido pensada com mais tempo, enquanto ainda era apenas importante, seria bem melhor. Curioso, não?

Em boa parte da nossa profissional, bem como na pessoal, lidamos assim com as nossas atividades. É assim com quem é pessoa física, é assim com quem é pessoa jurídica.

O Brasil está repleto de motivos para a prática nada saudável da procrastinação. Um deles é a crença de que tudo só funciona depois do carnaval, o que imprime certa letargia às atividades do início do ano. Passado o carnaval, o pânico se instala, principalmente nas empresas. De repente, tudo o que estava travado, parado, esquecido, congelado, passa do nível “importante” para o último nível, aquele do “se não fizermos isso hoje, morreremos todos”, o nível da prioridade zero absoluta. A transformação das pessoas envolvidas beira a sandice e a velocidade com que Dr. Jekyl, o médico, se transformava em Mr. Hide, o monstro.

A crença de um somada à crença de outro, e de outro acaba por estabelecer nesse período entre o Ano Novo e o Carnaval uma espécie de efeito manada inverso: como ninguém se mexe, porque eu devo me mexer? Mais uma prova de que sentimento afeta pensamento que afeta a ação.

O Brasil procrastina por natureza. Deixa para amanhã tudo aquilo que já poderia ter sido feito durante a semana passada. O correto do ditado seria “ter sido feito hoje”. Porém hoje o tempo – a maior vítima desse adiamento crônico – foi ocupado com alguma sobra do mês anterior. Ou do ano passado, vai saber.

Cada feriado prolongado que surge acaba se tornando um motivo. Em ano de Copa do Mundo e de eleições, outros grandes eventos, a crença do adiamento torna-se quase que ad-aeternum. O que não foi resolvido no início do ano fica pra depois do Carnaval, pra logo em seguida ficar pra depois da Copa do Mundo, para então entrar na fase de adiamento em função das campanhas eleitorais e das eleições propriamente ditas, quando grande parte das empresas enfia o pé no freio, com receio do que possa vir por aí.

Enfim, melhor esperar o próximo ano, caindo novamente na fase pré-Carnaval, reforçando a crença das pessoas que sim, realmente nada funciona antes disso. E na prática, nem depois. O escritor Monteiro Lobato resumiu bem isso quando afirmou que o Brasil é “um país de muita iniciativa e pouca acabativa”.

É possível mudar isso? Se pensarmos coletivamente, através de um decreto ou projeto de lei, é evidente que não. Daí a necessidade de alterarmos as crenças que carregamos dentro de nós, mudando nossa relação com o tempo e ajustando a necessidade de tomarmos decisões na hora certa.

Do contrário, corremos o risco de transformar cada novo ano, pela lógica da nomenclatura da Organização das Nações Unidas, no Ano Internacional da Procrastinação. O ano do deixa isso pra amanhã. O ano do adiamento incondicional de decisões. Insistindo nessa crença, continuaremos perdendo oportunidades, negócios, clientes, amores.

Quando adiamos tudo, conjugando o péssimo verbo do procrastinar em boa parte da nossa vida, acabamos promovendo um daqueles piores tipos de delegação: a delegação ao tempo. O que não nos damos conta é que, na falta da nossa decisão, alguém sempre acaba decidindo tudo em nosso lugar, muitas vezes quando elas ainda se encontram no nível de “importante”.

E é provável que, na maioria das vezes, este alguém acaba optando justamente pela forma como nós menos gostaríamos que as coisas acontecessem. Quando adiamos tudo, a única probabilidade que criamos é a de nos odiarmos para sempre. [Webinsider]

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Eduardo Zugaib (falecom at eduardozugaib.com.br) é profissional de comunicação, escritor e palestrante motivacional. Sócio-diretor da Z/Training - Treinamento e Desenvolvimento.

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