A diferença entre preço e valor é grande e subjetiva

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No dicionário — e muitas vezes na linguagem coloquial — valor é entendido como sinônimo de preço. Mas a diferença é brutal.

Preço é o que tiram de você por comprar algo. Valor é o que te acrescenta quando você adquire algo.

Valor é pessoal, é relativo ao sujeito, é subjetivo. Valor tem a ver com relevância.

E isso não pode ser medido pela descrição que está na caixa do produto.

Por exemplo, a não ser que você esteja de regime, não se mede o valor de um alimento pela quantidade de calorias.

Nos últimos anos tivemos bons exemplos disso. Talvez um dos mais famosos seja o PS3 versus Wii.

Na descrição da caixa, o PS3 é muito melhor que o Wii. Mais rápido, rende mais polígonos, tem alta resolução, tocador de blu-ray, etc. O Wii, bem, o Wii era apenas divertido, mas o sucesso de vendas esmagou o PS3.

Por ter foco no consumidor, experiência e design, a Apple é uma das empresas que melhor consegue demostrar essa diferença. Ironicamente, foi com o iPhone que a discussão começou. Alguém disse que as pessoas só compravam o aparelho porque idolatram a Apple.

Uma afirmação que eu acho idiota mas que costumo escutar com certa frequência. Também é fácil perceber que a própria mídia (generalizando, o que é um erro) também não costuma entender a diferença entre preço e valor.

Quando o iPhone foi lançado, imprensa e especialistas não demoraram para massacrá-lo. A comparação mais feita na época foi com o Nokia N95. A câmera do iPhone era pior, seu bluetooth não trocava arquivos, não tinha rádio FM, não gravava vídeo, não tinha GPS, não enviava MMS, seu alto falante era fraco perto do N95. Em resumo, era uma bosta por um preço mais caro.

Uma das mais famosas comparações que viralizaram na web foi com uma pedra, e o iPhone quase perdeu.

Apesar de ainda ser comum ver gente que não entende os lançamentos da Apple, está cada vez mais difícil criticá-la pelo seu lado tangível: o preço de suas ações, o caixa bilionário e o topo do ranking.

Voltando ao iPhone. Ele tinha vantagens que não estavam descritas em sua caixa. Aliás, a beleza da subjetividade é que não é preciso escrever nada em sua caixa. O iPhone era fácil de usar e entre diversas outras vantagens, fazia parte de um ecossistema cuja experiência transformou o aparelho no primeiro smartphone interessante (e viável) para a maioria das pessoas.

Dos que não compreendem esta diferença, é muito comum escutar que os usuários estão comprando um produto Apple por estar na moda ou qualquer outro motivo fútil. Se a maçã tem algum peso na criação de valor, também não deveria ser criticado ou desdenhado. Foi um valor criado pelo histórico de experiências que estes consumidores tiveram com a marca. Confiança não se pede, se conquista. O mesmo que diz Mr. Catra em relação ao bumbum.

Estamos na onda da experiência — outro conceito que mereceria ser discutido aqui mas que transformaria este texto (já longo) em um livro —; serviços e produtos se confundem a ponto de muitos defenderem que não existe diferença entre os dois: tudo é serviço.

O preço do iPhone não muda sem a App Store, mas muda seu valor. O serviço muda o produto. Usando um exemplo do mundo dos games, o Live mudou o valor do xBox.

Dizer que as pessoas compram um iPhone porque tem uma maçã em sua capa é, antes de tudo, agressivo, pois chama seus compradores (que não são poucos) de idiotas.

Em segundo lugar, é preconceituoso por categorizar as pessoas de uma forma tão banal.

Terceiro, ignora os fatos. Não é preciso botar adjetivos (revolucionário, inovador, etc.), basta mostrar a mudança de rota dos outros fabricantes (hardware, software ou serviço). Cópia ou inspiração, o mercado está seguindo o caminho da Apple.

E quarto, demonstra a incapacidade de entender algo básico para qualquer pessoa de negócios ou comunicação: a diferença entre preço e valor. [Webinsider]

Texto publicado originalmente no Coxa Creme.

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Ricardo Cavallini é profissional de comunicação interativa, autor do livro O marketing depois de amanhã.

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2 respostas

  1. Muito bom este texto. O conceito por trás de algo é mais forte do que a própria “caixinha” e o valor, de forma lógica, muda. O problema sempre foi a tentativa de impor “valores” para as pessoas quando se discorda, hora ofendendo a opinião alheia, hora caracterizando muitos consumidores de anencefalos por preferência a produto x. A própria “imprensa” promove isto, talvez, para vender mais ou pelo patrocinador no rodapé da pagina ser y.

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