A moda dos anos 70 como referência cultural

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Durante a década de 1970, surgiram distintos grupos de pessoas e de ideologias que possuíam no vestir uma maneira de reconhecerem-se como um grupo.

A moda é uma forma de expressão cultural essencialmente coletiva. Através das mensagens transmitidas por ela, os indivíduos mantêm uma comunicação não-verbal que pode ou não ser intencional.

Por meio do vestuário as pessoas afirmam-se como parte do coletivo, como iguais aos demais, mas é através das roupas que elas buscam a individualidade, buscam ser diferentes dos demais.

União e isolamento

Duas tendências sociais são essenciais para o estabelecimento da moda e, caso uma delas esteja ausente ou falte numa sociedade, a moda não se formará. A primeira dessas tendências é a necessidade de união; a segunda é o anseio pelo isolamento.

A moda, como fenômeno cultural, propicia que um grupo seja capaz de identificar-se e diferenciar-se dos demais, constituindo-se e atuando como grupo cultural, pois é a interação social, por meio da indumentária, que constitui o indivíduo como um membro do grupo.

Podemos citar como exemplo o movimento cultural/social dos punks. Para que uma pessoa seja vista como integrante do movimento pelos demais punks, e pelo restante da sociedade, é necessário que ela se vista como um punk.
Vestir uma determinada roupa é como vestir uma identidade social; que comunicará sobre as características de quem a veste. A moda e a indumentária funcionam como um elo para as relações sociais das pessoas.

Essa comunicação se dá através dos objetos que compõem a moda, como as roupas e os acessórios. Esses objetos podem ser considerados signos, pois são usados para representar pensamentos e opiniões, mesmo que de forma inconsciente, pois mesmo que a pessoa que veste a roupa não tenha a intenção de comunicar algo, ela estará comunicando através de sua vestimenta.

Porém o significado de determinado elemento sofre modificações, dependendo do contexto (espaço/tempo) em que está inserido, portanto é impossível afirmar com certeza o significado de uma roupa; e também o quê quer comunicar quem a usa.

Podemos dizer o que ela significa e/ou comunica naquele momento e local, mas não se pode afirmar o que ela significará em outros momentos ou locais, pois essa significante não é fixa.

O mercado da moda

A moda do ponto de vista mercadológico é de natureza efêmera, pois opera em constante busca de inovações, adequando-se às mudanças e aos anseios da sociedade. Ela funciona de maneira cíclica, baseada em tendências (cores, tecidos, cortes, épocas…) para cada coleção. Uma tendência só se torna moda quando se difunde entre os indivíduos, pois a moda tem caráter coletivo, mesmo quando se busca a individualidade.

Normalmente as grifes lançam duas coleções ao ano, a coleção outono/inverno e a coleção primavera/verão. E é essa efemeridade que diferencia a moda da vestimenta, a moda possui funções além do vestir-se; ela está ligada à mensagem que o indivíduo deseja transmitir com determinada roupa, e também está ligada à necessidade de inovação, de mudança e de sedução do outro em que as sociedades pós-modernas estão inseridas.

A moda dos anos 70 no mundo e no Brasil

Pode-se dizer que na moda a década de 1970 começou no final da década de 1960, mais especificamente em 1968, quando jovens norte-americanos protestaram contra a guerra do Vietnã (1958-1975) e colocaram flores nos canos dos revólveres dos policiais norte-americanos.

Nasceu aí o Flower Power (Poder da Flor), um dos slogans do movimento hippie.

Em 1969 houve o festival de Woodstock, que foi um dos grandes responsáveis pela difusão e popularização dos conceitos de vida dos hippies para os jovens de todo o mundo.

E assim delineou-se uma nova atitude e uma nova moda para o início da década de 1970. A partir desses fatos, a juventude impõe-se na sociedade e defende suas ideologias.

Diferente de seus pais

Quer outro modo de vida, diferente do de seus pais. É contra a guerra e o modelo social vigente; e isso se reflete na moda, que se tornou muito diversificada, com vários estilos, mas sempre com o aspecto da juventude e do conforto.

Seguindo essa ordem de jovialidade, nesse período o jeans começou a ser muito usado, e vários tipos de roupas eram confeccionados nesse tecido. Nesse período também surgiram os tecidos sintéticos e maleáveis, que possibilitaram a fabricação de roupas justas ao corpo.

Na década de 1970 houve a consolidação do estilo hippie e indiano de vestir-se. A moda da década de 1970 também foi influenciada por movimentos artísticos da época.

Esse período possuiu vários movimentos sociais marcantes, entre eles podemos citar o da volta à natureza, que tinha como prioridade uma vida simples, com dietas saudáveis. E também o uso de roupas de tecidos de fibras naturais e rústicas.

Outro movimento foi o feminista, pelo qual as mulheres lutavam por mais autonomia e por ocupar cargos que antes eram destinados apenas aos homens.

E a moda acompanhou essa luta, tornando o corte das roupas femininas mais masculinizado. Foi o início das roupas de corte unissex.

E ainda no final da década de 1970 surge o movimento glam associado às discotecas, que apresentava uma moda alegre, com roupas de tecidos sintéticos, brilhantes, com cores vivas e estampas psicodélicas, algo prático para dançar e ainda vinha acompanhada de calçados de plataforma.

A partir da década de 1970 a moda tornou-se mais livre, no sentido de que os estilistas não forneciam mais os looks completos, como os das décadas anteriores que forneciam até o penteado a ser usado com determinada roupa.

Nos anos 70 busca-se um estilo pessoal de vestir. E nesse período as revistas de moda começam a ter um papel inovador, fornecendo informações sobre bom senso na moda, e não mais dizendo como as pessoas devem ou não se vestir.

No Brasil

A moda no Brasil nesse período segue a moda mundial, com seus variados estilos, como o hippie, indiano e das discotecas, que aqui foi muito difundido pela telenovela Dancing Days, que possuía a temática disco.

Joffily* (1999) diz que a telenovela brasileira influencia a moda e o comportamento das pessoas. Se uma tendência é explorada por uma personagem, ela será copiada pelos telespectadores e pelas indústrias da moda.

A TV lança moda pelo fato de o veículo alcançar várias camadas sociais. E as novelas apresentam núcleos sociais diversos. Da alta burguesia aos setores populares, usando os padrões estéticos desses segmentos sociais.

Os temas das novelas sempre lembram, ideologicamente, os caminhos da ascensão social, numa identificação com os anseios da maioria dos espectadores. […] A TV é uma vitrine gigante, agressiva e invasora. Coloca o figurino num ícone e entra na casa de milhões de pessoas. (COLMAR apud JOFFILY, 1999, p. 56-57).

Nesse período também acontece a liberação sexual, o uso de biquínis e do topless, também das miniblusas e das minissaias, a mulher se veste de maneira feminina e livre.

No entanto, aqui no Brasil, muitas vezes a moda teve o caráter de protesto contra a ditadura militar, que estava em vigor desde 1964.

A moda foi influenciada pelo desejo de livre expressão que a população possuía.

Como principal exemplo dessa moda de protesto podemos citar a estilista Zuzu Angel, que procurou mostrar para o mundo, através de suas criações, o momento sombrio que o país enfrentava, associando o discurso político à moda e promovendo um desfile-protesto, em 1971, no consulado do Brasil em Nova Iorque, onde denunciou a morte de seu filho pelos militares.

Ela valorizou a riqueza da cultura popular brasileira, através de roupas com bordados e rendas típicas do país. Também com o uso de tecidos naturais em suas coleções, ela retratou uma época através de suas cores e estampas.

“A estilista Zuzu Angel foi uma transgressora. Numa época em que a moda era importada de Paris, ela foi na contramão ao criar roupas originais e com toques de brasilidade” (REVISTA MANEQUIM, 2006).

A moda brasileira também sofre influencias dos movimentos artísticos do período, entre eles estão a bossa nova, o tropicalismo, e as músicas de protesto.

Mas, sobretudo a moda da década de 1970, tanto no Brasil, quanto no mundo, priorizou o jovem e seus anseios. Ela tornou-se alegre, colorida, rebelde e até mesmo debochada perante o modelo de vida estagnado que a sociedade da época queria impor.

O fato é que a década de 1970 foi palco de uma imensa diversidade de comportamentos, tendências culturais e estilos de vida, além da valorização do individualismo.

E se por um lado a produção cultural foi marcada pelo clima de terror que caracterizou a década, provocando a autocensura e a introspecção, por outro lado apresentou manifestações significativas de resistência e, principalmente, de busca de novas linguagens e novas formas de criação.

E sem apresentarem uma característica única do processo cultural, estas experiências formaram um mosaico que refletiu as transformações da sociedade brasileira na época e um intenso esforço de resistência, de criatividade, de inovação em contrariedade ao obscurantismo do regime governamental e aos padrões ideológicos dominantes.

Como já foi dito anteriormente, a moda não apenas reflete o momento social e a época em que está inserida, a moda é parte constituinte das identidades dos grupos sociais. E a moda da década de 1970 não apenas refletiu os acontecimentos, mas fez parte das mudanças sociais e ideológicas ocorridas no período. [Webinsider]

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Referências bibliográficas

BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro, RJ. Rocco, 2003.

BRAGA, João. História da Moda. 4° edição. São Paulo, SP. Anhembi Morumbi, 2004.

HARBERT, Nadine. A Década de 70: Apogeu e crise da ditadura militar brasileira. 2° edição.São Paulo, SP. Ática, 1994.

HONNEF, klaus. Pop Art. Lisboa, Portugal: Paisagem, 2004.

JOFFILY, Ruth. O Brasil tem Estilo? .Rio de Janeiro. RJ. Senac Nacional, 1999.

LAVER, James. A Roupa e a Moda: Uma história concisa. São Paulo, SP. Companhia das Letras, 1989.

LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: A moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo, SP. Companhia das Letras, 1989.

MANEQUIM. Edição 561 agosto de 2006.

MOUTINHO, Maria Rita; Valença, Máslova Teixeira. A Moda do Século XX. Rio de Janeiro,RJ. Senac Nacional, 2000.

VICENT-RICARD, Françoise. As Espirais da Moda. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1989.

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Dayane Cabral Ziegler (dayanecabral@gmail.com) é bacharel em Desenho Industrial – Programação Visual pela UFSM. Atualmente cursa pós-graduação em Design para Estamparia, onde pesquisa design de estampas para produtos têxteis da grife da UFSM.

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6 respostas

  1. Ótimo artigo!!!
    Eu já havia feito um trabalho sobre isso numa das disciplinas do Paulo. Acho que foi um dos momentos mais marcantes no que se refere a moda como identidade, ou moda como expressão e comportamento…enfim.
    Abraço!!!!!!!!!!!!!!

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