A perda de relevância do Twitter no Brasil

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Há três anos eu escrevi e publiquei em formato digital, com o apoio luxuoso do Marcelo Tas, um dos primeiros manuais em português sobre como pessoas e negócios poderiam usar e tirar proveito do Twitter.

Mas desde praticamente aquela época a minha dedicação a essa ferramenta vem caindo a ponto de ela ter hoje uma função específica e limitada na minha vida. Esse post é uma tentativa de entender e racionalizar o motivo dessa mudança.

Na mesma época do lançamento do manual do Twitter, Mark Zuckerberg esteve no Brasil e a assessoria de imprensa do Facebook convidou alguns blogueiros para papear com ele. Estive no evento – aqui a “prova” – e a única coisa que eu me lembro de ter perguntado a ele – e com jeitinho – era se o Facebook pretendia adotar um funcionamento parecido com o do Twitter. Porque para mim era claro que o Twitter era o supra-sumo da comunicação digital e portanto o adversário do Facebook no Brasil era o decadente Orkut, nunca o Twitter – aqui o meu post. Zuckerberg respondeu que não e hoje eu vejo que a escolha foi acertada.

No manual, eu comparava o Twitter a uma praça pública (onde todo mundo está junto) enquanto o Facebook era uma espécie de condomínio (porque há um limite físico imposto para as pessoas se encontrarem). O problema principal do Twitter é que, no final das contas, a gente precisa mais de um teto do que de uma praça. Mas como isso é mais uma frase de efeito do que uma resposta, vou apresentar os meus argumentos pessoais para estar usando o Facebook cada vez mais e de forma mais intensa.

Estar onde as pessoas estão

No Twitter estão a maior parte das pessoas ativas no meu campo de atuação. Mas elas também estão no Facebook, junto com todo o resto de pessoas conhecidas minhas que não se sentiram motivadas para abrir uma conta no Twitter. Eu tenho hoje 41 anos e a maior parte dos meus colegas de escola ou de faculdade usam o Facebook regularmente. E junto com eles, várias pessoas bem mais velhas, inclusive octogenárias, que abraçaram essa ferramenta com o mesmo (ou maior) fervor que dedicamos ao Twitter quando ele apareceu.

Quem lê tanta notícia?

O Twitter é um ótimo filtro de conteúdo, principalmente (para mim) para notícias relacionadas às novidades tecnológicas provenientes do Vale do Silício, a Meca da nossa indústria. O problema em relaçao a isso é que eu já tenho coisas demais para ler e prestar atençao e o Twitter amplifica a minha frustração em relaçao à minha incapacidade de estar por dentro de tudo. É interessante que não me sinto menos informado se eu escolho ignorar essa catarata de conteúdo. (Mas, por via das dúvidas, estou usando dois serviços – tipo este do próprio Twitter – que me mandam por e-mail o conteúdo que mais circulou entre as pessoas que eu sigo.)

Ter menos auto-censura

Uma parte importante para mim, pelo menos, em relaçao ao Twitter, era falar com uma parcela relativamente pequena de pessoas que eu conheço pessoalmente e com as quais eu me identifico. O problema é que, na medida em que a gente cultiva uma audiência, passa a se preocupar com o que “as outras pessoas vão pensar” se eu disser isso ou aquilo. A minha voz sempre alcançou relativamente pouca gente, mas, ao mesmo tempo, eu me vi “corporatificando” esse canal. Se eu quisesse falar qualquer coisa mais pessoal ou tola, acabava me censurando. O Facebook tem uma solução melhor acabada para resolver essa questão. Falo com públicos diferentes definindo blocos de contatos diferentes tipo “melhores amigos”, “família”, etc. (Está longe de ser ideal, mas, até onde eu entendo, é sensivelmente melhor do que o Twitter nesse quesito.)

Independente do motivo, tenho ouvido cada vez mais recorrentemente, em conversas com outros profissionais desse mercado, sobre a perda da relevância do Twitter. Dizem que as pessoas estão seguindo mais gente e prestando cada vez menos atençao na conversa. E isso representa um problema sério porque, até onde eu sei, o “feijão-com-arroz” do monitoramento de internet hoje se limita a ver o que as pessoas estão falando no Twitter.

Isso é feito com maior ou menor sofisticação, mas é feito fundamentalmente porque a conversa via Twitter é pública, o que não é verdade para o Facebook.

Só o Facebook tem acesso real a tudo o que está acontecendo lá dentro e o tema dos direitos de uso (quem pode fazer o que com as informações compartilhadas) é um assunto delicado para a empresa. Me lembro de duas situações em que a empresa levou a cabo modificações nesse documento e, por causa disso, teve que gerenciar crises por conta da revolta de usuários preocupados com sua privacidade.

Traduzindo: o “tesouro” das conversas que a sociedade tem consigo mesma está de mudança de uma savana onde tudo é mais ou menos visível para um pântano com vegetação densa. Já não vai dar para vender qualquer coisa que preste por qualquer dinheiro nesse campo do monitoramento. O jogo mudou de fase e a dificuldade aumentou.

E mesmo o que era a outra grande vantagem do Twitter – a possibilidade de se falar com públicos vastos – já está satisfatoriamente resolvida com o serviço de páginas do Facebook.

Para onde estamos indo

Pessoalmente acho que o Facebook seja uma plataforma de comunicação mais completa do que o Twitter, que ficou em segundo plano. Não estou sugerindo com isso que o Twitter vá desaparecer ou que já não tem utilidade para o mercado. Ele continua sendo importante para pessoas importantes, grandes formadores de opinião que estabeleceram uma relação de sinergia com suas audiências. Eles não deverão abandonar essa plataforma tendo conquistado ali o status de serviço de informação.

Essas personalidades inverteram o jogo da mídia: em vez de dependerem dos veículos para falar publicamente, agora são os veículos que disputam suas declarações pelo Twitter. Fora que, diferente da página do Facebook, o perfil no Twitter dá a impressão (que pode ser mais ou menos verdadeira) de se estar próximo ou mais próximo aos nossos ídolos. A página do Facebook ainda tem aquele cheirinho de plástico e produto de limpeza das corporações. Lá continuamos com a sensação de sermos mais um na multidão.

A minha principal conclusão sobre esse assunto é meio óbvia, mas talvez importante de ser dita publicamente: há uma oportunidade de negócios esperando quem encontrar modelos de monitoramento para extrair valor da informação que circula no Facebook.

E o interessante é que a solução para isso provavelmente será menos tecnológica e mais metodológica. Terá a ver com estar de fato presente na ferramenta e atuando na vida das pessoas – ao contrário de antes, quando esse monitoramento consistia em se ter acesso a certos serviços e ficar como um voyeour observando a vida a distância. [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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11 respostas

  1. Olá, Juliano, grande artigo. Achei Interessante você colocar no papel o que de fato temos sentido trabalhando com planejamento digital em agência. Noto a perda da força do Twitter no meu uso pessoal e no foco da comunicação digital. E isso também se manifesta no interesse dos clientes.

    E me preocupa um pouco tanto foco no Facebook, pois Zuckenberg adora surpreender a gente com suas mudanças. Incusive na questão do monitoramento, que é fundamental e pede uma solução, coisa que o próprio Facebook ainda não conseguiu nos dar.

  2. Compartilho as mesmas impressões que você expôs no seu texto.

    Adiciono uma: a de que as pessoas prefiram se relacionar (e se expor) em suas redes sociais a se informar.

    Os humanos gostam de exprimir suas convicções para suas redes sociais mais próximas, como as de amigos, de colegas… também gostam de analisar as convicções morais dos outros e comparar tais opiniões com as suas.

    Em outras palavras: o FB permite o desenvolvimento de conversações coletivas entre próximos sobre temas de interesse em comum. O twitter também permite conversações, mas é formatado de uma maneira mais dialógica, entre duas pessoas. Enfim… o twitter é melhor para a difusão de informações, mas o FB é melhor formatado para o relacionamento e a exposição. Acontece que, na minha visão, de um modo geral, as pessoas preferem se relacionar a se informar.

    Tenho ainda outra impressão: o FB tem mecanismos que privilegiam as atualizações relevantes e as tornam mais perenes em relação ao fluxo do tempo. No twitter, uma atualização relevante é levada pela correnteza do fluxo cronológico, carregada junto com as atualizações irrelevantes; já no FB, os algoritmos recuperam atualizações bem “rankeadas” (rank baseado em likes, shares e comentários) e tornam tais atualizações persistentes em relação ao tempo, pois os mantém em destaque no topo da timeline. Isso reforça a possibilidade de uma pessoa manter a sua visibilidade perante seus pares em suas redes sociais; mais ou menos como ocorre naquela frase: “quem não é visto, não é lembrado”. É lá, no FB, onde as pessoas estão, então é lá onde eu devo me mostrar (ou mostrar minha opinião, ou observar as opiniões relevantes dos outros).

    Vejo um problema nisso tudo (e isso me faz sentir uma certa culpa por abandonar aos poucos o twitter): o cerceamento da informação na web. Ou, alguns diriam, o esmorecimento da própria web: um ambiente idealizado, por ser aberto, livre, na lógica do open-source… um sonho da humanidade que foi devidamente concretizado, mas que parece estar se desfalecendo. Por quê? Talvez porque as páginas da web (com seus blogs e seus wikis) não souberam criar mecanismos de relacionamento e exposição de forma integrada a seus conteúdos.

  3. Opa Juliano,

    O argumento de que o as pessoas no twitter seguem muitos perfis de tal forma que não podem se engajar nas conversas é válido também para o FB, com o agravante que no FB a quantidade de informações gerada é bem maior pois não há limite de caracteres.

    Um segundo ponto que você não menciona é que no twitter pessoas que não tem perfil podem ler o que passa por lá, no FB muita gente usa a configuração padrão que exige um loguin na rede para ter acesso ao conteúdo.

    Eu não nem entendo nada de mídias sociais, mas jamais depositaria o conteúdo que eu gero dentro de redes privadas como FB ou o Gplus (que é tecnicamente muito melhor que o FB), fico bobo como os “especialistas e mídias sociais” incentivam esta bobagem para as empresas!

    abs

  4. Parabéns pela reflexão. Dois pontos me pareceram relevantes para um comentário: a)quando vc diz que “corporativizou” o Twitter, censurando determinados comentários, no Twitter também é possível restringir a comunicação usando listas (tudo bem que não pegou).
    b) Sobre a oportunidade de negócios com o monitoramento das informações no Facebook, se existe tal possibilidade, ela já não é usada pelo próprio Facebook, quero dizer, eles não abririam a possibilidade (também por conta dos problemas com a privacidade) para outras startups investirem em monitoramento.

    1. oi ana, eu é que agradeço pelos comentários.

      a) sobre as listas – na verdade, a lista nao resolve o problema porque voce, pelas listas, nao pode impedir que um determinado conteudo apareça publicamente; a lista serve para a gente organizar grupos de informantes, nao para direcionar mensagens. pelo menos é o que eu sei.

      b) imagino que o facebook tenha todo o interesse em tirar proveito dessas informaçoes e que faça isso. eu mencionei as limitaçoes legais de se fazer isso comercialmente, na medida em que uma parte dos usuarios nao aprova ter seu conteudo monitorado. por isso eu especulei sobre a possibilidade de se fazer isso com pessoas e nao máquinas e de uma maneira estruturada e consistente a partir de metodologias de pesquisa.

      ficou mais claro?

  5. Acho que pra voce ser legal na rede social voce nao precisa ser vulgar ou futil e isso que vejo no facebook eu prefiro twieeter por um simples detalhe voce pode ter uma oportunidade de interagir com pessoas que voce admira e ve so pela tv e tambem voce so fala o necessario simples assim no face eu vi ate crianca de 9 anos com conta la

  6. Ah, Juliano, uma ressalva importante: achei temerário usares TUA experiência nas redes para classificar o Twitter como algo em decadência, inclusive puxando para o título. Acho que só em um momento em todo o texto tu mencionas, vagamente, a opinião de mais gente.
    De qualquer forma, cumprimentos pela exposição da opinião.
    Abs.

    1. caro juliano (meu xará), obrigado pelo comentário. na verdade, tive a ideia de escrever esse texto depois de ouvir várias pessoas do mercado manifestarem sua preocupação sobre a queda na relevancia do twitter.

      o que eles dizem é que sentem que, em geral, o usuário do twitter está seguindo mais pessoas e, por isso, está menos engajado e participante nas conversas. achei isso importante de ser notado; uma conversa que está brotando e tomando forma dentro das agencias.

      para discutir esse tópico, falei sobre essa experiencia de deixar de usar o twitter a partir da minha perspectiva. é a informaçao que eu tenho hoje: por que essa rede passou a ocupar uma função secondária na minha vida. logo na minha, considerando que eu fui um defensor engajado do uso do twitter.

      e ainda deixo claro nos parágrafos finais que o twitter não está acabando; que ele tem motivos fortes que o mantém atado à vida de milhares de pessoas.

      é isso. obrigado pelo comentário que é crítico sem ser agressivo; não é muito comum aqui na rede ;-).

  7. Boa reflexão, Juliano.
    O que ainda me encanta no Twitter é o seu regramento, aquilo que ele estabelece como premissa para o compartilhamento de seu capital social (seguidores, influência, amplitudo etc.): a relevância. Li em algum lugar o uma boa figura para tudo isso, o KISS, que significa Keep It Significant and Shareable. Twitter é isso.
    Abs,
    Juliano Rigatti

  8. Discordo categoricamente!
    Pra mim, o que vai terminar daqui à alguns anos vai ser o Facebook, principalmente pq o Twiiter sim, conecta a vida de uma pessoa a outra. O Facebook na minha opinião conseguiu ser pior do que o Orkut. De fato parece mais um Orkut bagunçado. Claro, o sonho de muitos é que ele fique sendo a única plataforma, entenda-se como muitos, o povo que quer controlar a vida das pessoas como se fossem marionetes.
    Nem mesmo com propaganda em massa, e até com a ajuda de um filminho o Facebook não me convenceu, na verdade só deixou mais exposto que havia mesmo o tal interesse dos muitos, como já mencionei.
    Sempre gostei mais do Twitter por ser mais direto, e milhões pensam como eu.

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