Pesquisa etnográfica no design aplicado a negócios

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eleanor_daviesA necessidade do profissional de design de interação “pensar fora da caixa” foi assunto recorrente no IxDA 2010. A palestra inaugural do evento, por Dave Malouf, fundador e vice-presidente da Interaction Design Association, debruçou-se sobre a necessidade de transportar experiências pessoais mundanas para a rotina de trabalho do designer.

Seguindo esse mote, a pesquisadora Eleanor Davies nos deu um panorama bastante rico dos rumos que o Design pode chegar, em termos de pesquisa etnográfica, a fim de traduzir oportunidades em contextos sócio-econômico diversos em Design aplicado a negócios, produtos e serviços.

E contribuiu com uma reflexão importante, segundo a qual mais vale pensar de fora para dentro, ou seja, transformar a experiência de vida a partir do cruzamento de culturas e inspirações pertinentes a um determinado contexto, para a vida profissional. E o mais importante de tudo: compartilhar esse conhecimento com o restante da equipe, sob o fim comum de se criar efetivamente um projeto inovador.

Eleanor Davies é uma designer britânica que possui vasta experiência em Design Estratégico e Etnografia, além de ser palestrante em Empreendedorismo Social em escolas de Design e inovação. Formada em Engenharia, Mestre em Design Industrial e de Inovação pela Royal College of Art de Londres, com especialização em cultura do consumo e impacto social.

Pela Frog Design, onde trabalha atualmente, Eleanor conduz pesquisas em Design e geração de conceitos para ajudar a um ampla gama de clientes a enfrentar os desafios em um mundo repleto de frequentes mudanças. Seu trabalho a tem levado a fazer todo o trajeto do ciclo de origem dos produtos e de seus usuários na Europa, Estados Unidos, Rússia, México e Índia.

Tive a oportunidade de conversar com ela no Interaction South America 2010, evento anual de Design que aconteceu em Curitiba no início do mês, na Universidade Positivo, e dessa conversa surgiu a breve entrevista que transcrevo abaixo, sobre seu fascinante trabalho como pesquisadora em Design.

– Por que é tão importante viajar o mundo e colher referências para enriquecer seu trabalho como pesquisadora na área de Design?

– A metodologia ideal de pesquisa, ou pensada para ser aplicada em qualquer projeto, é determinada pelo objetivo e natureza de cada projeto. Em alguns casos, viajar é vital para o sucesso do projeto, e isso acontece primeiramente por duas razões. A primeira é a “informação”. Como designers, somos cada vez mais desafiados a criar produtos ou serviços que irão chegar a muitas esquinas ao redor do globo. E para entender as necessidades únicas dessas esquinas, seus contextos precisam ser compreendidos em sua totalidade. E é aí que uma viagem de pesquisa para diferentes locais pode ser usada para extrair pontos-de-vista que possam ser comparados e contrastados.

Os contextos são documentados, então essas perspectivas são compartilhadas com os clientes e também com o time de designers.

A segunda razão de viajar é a “inspiração”. É geralmente menos tangível e mais difícil de mostrar o real valor dessa metodologia para clientes ou colegas de trabalho.

Entretanto, trata-se de uma metodologia geralmente mais valiosa e de certa forma mais natural no processo de Design, pertencendo não apenas ao pesquisador. Seu sucesso é demonstrado por histórias e experiências de gerações de designers, que se inspiravam simplesmente por sair do contexto no qual se encontravam – ou zona de conforto – para ganhar uma nova perspectiva no problema de Design, assim como também na vida, de uma forma geral.

Navegar pela internet oferece exatamente o efeito oposto – o vasto volume de conhecimento ao alcance dos nossos dedos é até agora ditado e editado por buscas, filtros e reviews e elevado a um grau onde é mais frequentemente difícil descobrir algo novo online do que o seria, por exemplo, simplesmente por pegar um caminho diferente para ir ao trabalho todas as manhãs!

Na minha opinião, uma combinação ideal é fazer uma viagem de pesquisa e combiná-la com dados colhidos em campo, numa longa viagem que possibilite também uma redescoberta pessoal. Dessa forma podemos nos transformar ao mesmo tempo em “informação” e “inspiração”, em nosso dia-a-dia como designers.

– Na sua apresentação, você falou muito sobre tabus e a necessidade de discuti-los, a fim de colocá-los para fora, no processo do “fazer” Design em uma equipe de profissionais. Você concorda que a melhor forma de fazer Design é quebrar tabus, traduzindo-os em necessidades emocionais, no sentido de atrair a atenção de mais e mais pessoas para seu projeto final?

– Eu acho que uma forma de transformar tabus em necessidades humanas é como olhar para nossa infância. Como crianças temos menos inibições e aprendemos as coisas pela primeira vez. Há menos expectativa em entender ou preencher normas sociais, e chamar à infância é um bom método para atingir isso.

Mas como o diálogo entre as classes sociais se divide, quebrar temas em escolhas é um outro método que funciona bem – para criar um exercício em que fatores são simplificados e as escolhas precisam ser feitas. Ainda que a realidade possa ser cinzenta ou enevoada, a criação das opções “preto” e “branco” servem para abrir um diálogo que no mínimo servirá para esclarecer com muita precisão o quão complexo o assunto é.

– Como você faz para traduzir sua pesquisa de design em processo de Design Thinking para sua equipe, no intuito de criar um novo produto, seja ele um site, uma ilustração ou qualquer outro tipo de projeto? Como funciona isso para você no dia-a-dia de trabalho na Frog Design? Você sempre sabe por onde começar ou é sempre uma surpresa – como uma “Caixa de Pandora” onde você não faz a menor ideia do que irá encontrar, do começo ao fim?

– Acredito que a tradução da pesquisa em Design sofreu muitas mudanças recentemente, e existe uma grande oportunidade. Assim como no processo de pesquisa, essa tradução pode mudar de acordo com o contexto. A pergunta crucial é: o que tentamos traduzir e para quem?

O ideal, assim como o processo de “informar” e “inspirar”, é que deve haver o maior número possível de designers da equipe envolvidos durante a pesquisa de campo, assim como o cliente.

Não será possível trazer todo mundo à bordo na viagem, mas a respeito disso muitas coisas podem ser registradas: vídeo-documentários, anotações, mapas e outros recursos interativos poderão ser usados e compartilhados com o restante da equipe.

Tenho pensado em métodos de como lidar com a pesquisa qualitativa de forma mais empática e emocional – comparada com a pesquisa quantitativa – através de métodos de visualização da informação. O segredo está na narrativa, ou em fazer o trabalho qualitativo e quantitativo “conversarem” e caminharem juntos. É também importante ressaltar que a pesquisa tem o seu papel no todo, e com ela chegamos ao ponto, em alguns projetos, em que podemos mudar a fonte original da inspiração para chegarmos à concepção do Design e da inspiração propriamente ditos.

– Qual cultura mexeu mais com você, na sua jornada como pesquisadora em Design, e por que?

– A Índia foi mais aberta no sentido de me forçar a questionar mais profundamente a respeito das nossas necessidades como designers e pesquisadores em mercados emergentes. Senti que meu trabalho no México me permitiu começar a responder a algumas delas, e dessa forma pude me engajar em um nível mais profundo com designers e professores locais. Foi aí que surgiu a ideia de ver os designers como facilitadores e iniciadores de uma conversa, algo que casa com o conceito que compartilho em Peopleandpesos.com.

Em termos de pesquisa, adoro conduzir estudos na Inglaterra – o que me permite refletir a respeito da cultura na qual cresci e também revelar contrastes entre grupos e indivíduos pertencentes à essa sociedade em particular.

– Qual conselho você daria a uma pessoa que esteja começando uma carreira como designer, mas ainda não sabe ao certo qual assunto irá focar por estar envolvido em muitas coisas ao mesmo tempo?

– Inovação é um termo que vejo ser empregado com muita frequência para sugestionar “negócios criativos”, mais do que para relevar algo verdadeiramente novo. Tomando isso como definição, eu realmente acredito na inovação como sendo tremendamente importante para os designers e também vital para entender o mundo dos negócios no qual você se identifica como designer.

Encontrar pessoas que são confortáveis em se transmudar em diversos papéis durante o processo de Design é útil – para aprender como e onde eles se encaixam. Eu acho que existe um perigo de sentir-se atropelado pelo ritmo da mudança – e sob esse aspecto, um entendimento fundamental do processo e da comunicação é essencial – assim como a humildade e a aceitação de que pode não ser possível tornar-se um expert em Design da forma mais tradicional, como era possível anos atrás.

Para ver os vídeos da palestra de Eleanor Davies na íntegra no IxDA 2010, acesse o blog da Gonow. [Webinsider]

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Laura Loenert é jornalista e editora do site 3DPrinting.

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