A restauração de Oklahoma, parte II

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Há alguns meses atrás o Webinsider publicou um texto mostrando o projeto de restauração do primeiro filme Todd-AO, com o título Oklahoma, baseado na peça musical do mesmo nome.

Agora, uma vez de posse de uma cópia do lançamento norte-americano em Blu-Ray é possível fazer uma apreciação sobre o resultado deste trabalho. E vou logo adiantando: não podia ter sido melhor!

Colecionadores, estudantes da história do cinema e cinéfilos ficarão satisfeitos em saber que um filme importante como este, cujo negativo de câmera estava praticamente inutilizável, foi bem recuperado e preservado para a posteridade através de um trabalho de laboratório bastante competente.

Segundo um press-release publicado no site do Studio Daily, cerca de nove anos atrás a Fox pediu ao laboratório da FotoKem uma inspeção do negativo de câmera e a tentativa da sua recuperação. Mas, segundo os especialistas, este tipo de negativo tende a desbotar as cores de forma desigual. Dependendo do grau de descoloração, a sua recuperação se tornará muito difícil ou até impossível, sem falar nos custos.

À época, diante do estado adiantado de desbotamento, foi então solicitada a cópia do negativo anteriormente feita para um interpositivo (IP). Normalmente, o estúdio cria um interpositivo para depois gerar um internegativo (IN), que é usado para as cópias positivas em película usadas para exibição. Mas, neste caso, a criação do IP foi feita para preservar o pouco de integridade que ainda existia no negativo de câmera.

Uma vez recorrendo a este IP, a FotoKem criou um arquivo com a varredura dos fotogramas em scanner Imagica de 8K de resolução. A resolução alta é recomendável, por se tratar de um fotograma de 65 mm de bitola, que será usado para a restauração. A varredura ocorre após a passagem do filme em um tanque de lavagem (“wet gate”), o que produz a remoção da maioria das contaminações que estão ali impregnadas. O restante dos danos físicos será retirado com programas específicos.

Uma vez digitalizado, o filme pode então ser submetido aos programas de recuperação. Tudo irá depender do resultado observado na inspeção do filme em ambiente digital. No caso específico de Oklahoma notou-se o descoramento da informação fotográfica retida no amarelo, e ainda o centelhamento (“flicker”) da imagem, e a variação intermitente de intensidade de cores em partes da fotografia, chamado pelos técnicos de “color breathing”.

Fora a limpeza habitual de riscos e correção de pontos onde o negativo foi danificado, a retirada de grãos ficou restrita a cenas específicas, e mantida no mínimo possível. Este procedimento é saudável, para se evitar corromper a estrutura normal da película, retirando junto com os grãos partes da imagem original.

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Foto cortesia do site in70mm.com.

 O resultado final da limpeza e balanceamento de cores e outros detalhes é posteriormente transferido a um intermediário digital (DI) com 4K de resolução. Deste são retiradas as cópias para os cinemas e para as mídias.

Abaixo, é reproduzida a mesma cena mostrada no texto anterior, a partir do DVD anamórfico, mas desta vez com a visão correta e superior em definição contida na edição em Blu-Ray:

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Note-se a clareza da imagem e o balanço perfeito na reprodução das cores. Mesmo nas cenas onde houve tomada em interiores, com a iluminação feita em estúdios, o resultado é simplesmente espetacular, como mostrado abaixo:

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A versão em CinemaScope, que não havia representado problemas quando da edição em DVD, foi transcrita para Blu-Ray com um refinamento exemplar, aparentemente sem grandes transtornos de limpeza do negativo.

 Apreciação

A edição em Blu-Ray apresenta Oklahoma em sua versão de cinema original, que teve filmagem em 30 quadros por segundo. Para evitar a conversão de cadência, a FotoKem preferiu transcrever o filme em 1080i, a partir de 30 qps no scanner.

A imagem é lida pelo reprodutor de mesa no valor nominal de 29.970 Hz (por favor, leia a Nota mais abaixo). Na saída HDMI normal (sem upscaling) de um Blu-Ray player a imagem é transmitida em 1080p 60 Hz, tornando o sinal compatível com qualquer tela de TV. Fazendo-se um upscale para 4K, a saída HDMI passa a transmitir uma imagem em 2160p 30 Hz, com excelentes resultados.

Nota: Em termos de vídeo, o número de quadros por segundo se refere à formação de um quadro completo na unidade de tempo, em varredura progressiva, e este valor é expresso em Hz.

O som original é transcrito em DTS HD MA de 7.1 canais, mas não existe praticamente nada importante na reprodução dos canais surround, apenas um pouco de ambiência. Nota-se uma mixagem na maioria das falas dos diálogos, mas nada de muito preocupante. A maior parte do som está localizada nos canais frontais, e não fica claro o porquê do uso de sete canais na codificação da trilha. A orquestração e a dinâmica estão corretamente preservadas, mas o nível de amplitude geral é um pouco baixo, obrigando o usuário a aumentar o volume master significativamente.

A versão em CinemaScope é transcrita em um disco separado. Na edição em DVD anterior, não se nota nada de anormal na imagem, e o Blu-Ray apenas acrescenta a qualidade que o DVD não tem. O som, por outro lado, é transcrito em DTS HD MA de 4.0 canais, bem mais realista para este tipo de projeto.

Não há dúvida, para o fã de cinema ou entusiasta, de que o som do filme Todd-AO é muito superior ao da versão em CinemaScope. Ambas as trilhas são derivadas de filme magnético, mas no final o avanço da perfuração do filme 70 mm na janela do projetor (5 em vez das 4 do 35 mm) faz a película passar mais rápido nas cabeças leitoras e por isso a reprodução aumenta em dinâmica e fidelidade na sala de cinema. Resultados idênticos são agora observados dentro de casa.

A conversão de filme em película para vídeo a partir do interpositivo costuma dar resultados não condizentes com a resolução do Blu-Ray, mas neste caso a imagem supera todas as expectativas, mesmo do usuário mais exigente e, na minha opinião, superou todas as outras transcrições semelhantes, lançadas em passado recente.

Sendo este um esforço que beneficia o resgate da história tecnológica do cinema, a presença deste set no mercado brasileiro deveria ser obrigatória, mas a Fox local ainda não se pronunciou a respeito. A empresa costumava ter uma ótima interface com o consumidor, mas de uns tempos para cá ela não responde a qualquer mensagem. Lamentável!

Oklahoma em Todd-AO estreou no já destruído Rivoli Theater, com o uso dos projetores Philips DP-70 encomendados especificamente para este tipo de filme. A cópia digital em tela curva foi exibida recentemente na Europa, no Schauburg, local que abriga todos os anos sessões de cópias de filmes 70 mm para os aficionados. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Oi, Fabio,

    Existem, a meu ver, dois problemas com as telas curvas:

    O primeiro é o tamanho. A tela para ser curva e alcançar o ideal do ângulo de visão pretendido ela deve ser muito grande, e o exemplo disso são os formatos 70 mm antigos, tipo Cinerama 70 ou Dimensão 150.

    O segundo é que nenhum filme moderno foi projetado para este tipo de tela. A tela curva, infelizmente, se encerrou com o 70 mm, nos cinemas que exibiam cópias retificadas.

    Agora, acontece que as pessoas veem e gostam. Aliás, um amigo meu comprou uma tela dessas e adorou. E eu sou partidário da liberdade de escolha. Ou seja, se você viu e gostou é o que importa.

    Eu, por outro lado, uma vez provocado para sugerir uma escolha entre tela curva e plana estaria sendo hipócrita se fizesse uma recomendação desse tipo.

  2. Uma perguntinha (se eventualmente já foi respondida em outra ocasião/artigo, peço desculpas): Recomendarias aquelas novas TV com a tela curva? Vi numa loja e me chamou atenção a beleza da imagem, mas evidentemente, na loja, as condições para se fazer uma avaliação não podem estar mais distantes das ideais…

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