A volta do protetor de tela

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Protetor de tela para TV

A primeira vez que eu me deparei com um recurso protetor de tela foi com o uso de uma das primeiras versões do Windows. O recurso, chamado na época de “screen saver”, consistia em substituir a imagem estática parada na tela do monitor depois de um determinado período de tempo, por outra na forma de algum tipo de animação.

Durante muitos anos, a habilitação deste recurso permaneceu como padrão na instalação do sistema, mesmo quando ele se tornou desnecessário.

O objetivo, naquela época, era o de evitar a queima prematura do fósforo no tubo de imagem (CRT). Com o tempo, entretanto, os monitores de tubo se tornaram mais resistentes e o screen saver pareceu não ser mais necessário.

Coincidência ou não, todos os últimos monitores de tubo que eu usei nunca exibiram sinais de queima desigual de pontos sem o uso do protetor de tela.

O perigo da queima do fósforo no tubo de imagem é tornar desigual ou sem uniformidade a luminância na área onde a imagem é formada, produzindo manchas na maioria das vezes que não mais desaparecem. O problema se refere ao aumento da retenção de partes da imagem, mas tornando-o permanente, e foi por isso denominado de “burn-in”.

Usuários de TVs de plasma foram flagelados com a queima desigual de pixels na tela, arruinando o painel permanentemente. Eu mesmo entrei no grupo dos que padeceram com isso, e por conta de não querer passar de novo, decidi abandonar em definitivo o uso deste tipo de tela.

Um amigo meu, fã de plasma, que não o fez, viu na sua casa telas com inserção de um sinal de meio tom de cinza nas laterais, toda vez que uma imagem 4:3 fosse exibida. Mas, no seu último modelo utilizado esta barra cinza havia sumido, porque a indústria havia descoberto um algoritmo de deslocamento de sinal pixel a pixel, que impedia a queima desigual dos mesmos.

Embora a possibilidade de queima desigual seja potencialmente um problema sério em qualquer tipo de tela, ele é muito menos provável em telas LCD. Isto foi rapidamente constatado, ainda quando o backlight era construído com lâmpadas fluorescentes de cátodo frio, e as chances de queima diminuíram mais ainda com a introdução do LED no lugar daquelas lâmpadas.

Isto é tão verdadeiro que um dos argumentos de venda da Samsung hoje em dia é garantir contra queima do painel (“burn-in”), coisa que nenhum outro fabricante se propôs a fazer. Só que o objetivo deles na propaganda é claramente uma forma de ataque tecnológico contra a proposição de tela construída com OLED, como já comentado aqui na coluna.

A tecnologia OLED foi quem propulsionou a volta dos protetores de tela. Pelo sim, pelo não, e ainda com o óbice de não oferecer nenhuma garantia contra defeitos provocados pelo burn-in, a LG, principal fabricante de telas OLED, implementou um protetor de tela compulsório ao usuário. Eis um vídeo postado no YouTube mostrando esta proteção:

https://youtu.be/Q5gXX7Its5o

A proteção é disparada em cerca de dois minutos, quando da exibição estática de algum aplicando rodando na TV (Netflix, YouTube, etc.). Independente disso, a LG postou uma página, assegurando que o burn-in é uma ameaça que não vai intimidar o usuário.

A segurança com a qual a LG se dispôs a desmistificar o assunto se baseia em alguns aspectos técnicos da formação de uma tela com zonas de queima, a saber:

Em primeiro lugar, a retenção de partes da imagem anterior na imagem atual não é necessariamente queima de pixels. Na realidade, em uma tela OLED, a retenção é causada por uma variação na voltagem (desvio da tensão nominal) do transistor responsável pela alimentação do pixel. O transistor de filme (TFT), usado há anos em telas LCD, é suscetível de sofrer pequenas variações de tensão ao longo do tempo, provocadas por fatores diversos, como temperatura, por exemplo.

O transistor TFT torna a matriz da tela eletricamente ativa (AMOLED), com o imediato controle de desligamento de cada subpixel. Em situações onde ocorre retenção de imagem, o simples desligamento da TV apagará qualquer vestígio de imagem retida.

Além disso, nas áreas sem imagem, como, por exemplo, aquelas provocadas pelo ajuste da relação de aspecto do programa exibido, ou seja, qualquer imagem fora de 1.77/1.78:1, as barras pretas são formadas com o desligamento completo do pixel, e na área onde a imagem se forma, um controle automático de brilho impede, teoricamente, que haja um desbalanceamento ou desgaste entre os demais conjuntos ativos de pixels na tela.

Uma outra estratégia consiste ainda em pequenas modificações sistematicamente efetuadas na alimentação dos transistores TFT, provocando um reset elétrico em todos eles e resultando em uma resposta uniforme pixel a pixel. Caso haja alguma retenção de imagem ela desaparece automaticamente.

Finalmente, seguindo uma estratégia usada nas últimas telas de plasma, diminutos deslocamentos da imagem são processados sem que o usuário perceba. Embora o recurso possa ser desabilitado, é recomendável deixa-lo ativo, já que ela protege a tela como um todo.

Se a retenção persistir, a LG oferece um software com o nome de “Atualização de Pixels” (“Pixel Refresher”), que pode ser ativado a qualquer momento ou, de preferência, quando a TV for desligada. Em qualquer das duas opções, a TV só poderá rodar este programa depois de desligar completamente. O atualizador de pixels procede uma completa reciclagem de todos os pixels na tela, levando cerca de uma hora ou mais para completar a tarefa. Analistas na Internet comentam que não se deve lançar mão deste recurso, a não ser em casos extremos, mas não explicam por que.

Burn-in em telas LCD com imagens estáticas de computador

Até agora, eu pessoalmente nunca vi a retenção de imagem ou burn-in (quando a mancha fica permanentemente fixada na tela) em monitores LCD. Mesmo nas chamadas TVs monitores o problema não aparece. Eu usei uma durante anos, sem retenção alguma.

Entretanto, quando eu montei um monitor profissional Dell UP3216Q para o meu trabalho diário, eu notei que o aparelho vem com um software interno chamado “LCD Conditioning”, cujo objetivo é exatamente apagar imagens retidas, reciclando eletricamente todos os pixels.

Curiosamente, aconteceu que logo que eu liguei o monitor eu percebi ter sido premiado com uma lista vertical colorida e fixa, bem no meio da tela. O suporte da Dell ameaçou criar um caso federal quando da minha reclamação, mas no final, depois de uma longa démarche de negociações, me mandou um técnico, que imediatamente declarou o óbvio: neste tipo de problema a solução é trocar a tela.

O pixel formado com a ajuda do cristal líquido pode apresentar basicamente dois tipos de problema: o cristal líquido não responde, ainda que temporariamente, ao estímulo elétrico que o obriga a abrir ou fechar a passagem de luz vinda do backlight em direção aos filtros RGB. Ou então não responde permanentemente ao mesmo estímulo elétrico.

Na prática, um pixel ou um subpixel se não responder eletricamente ele pode ficar “empacado” em uma determinada cor, mostrando aquela lista vertical que eu vi, se for o caso de uma fileira inteira afetada. Ou então, se o dano for permanente, é bem provável se ver pontos pretos ou uma lista preta vertical na tela toda.

Somente os pixels (ou subpixels) empacados temporariamente podem ser reciclados, através de pulsos elétricos repetidos. Eis aí porque o programa LCD Conditioning da Dell não teve absolutamente nenhum efeito sobre a lista colorida que eu encontrei.

A propósito, uma coisa que eu aprendi, caros leitores, é que não adianta discutir com o suporte técnico de nenhuma empresa, e por sinal este da Dell costuma ser de muito boa qualidade. A solução muitas vezes é recorrer aos órgãos de proteção ao consumidor. Felizmente neste incidente, eu não precisei chegar a tanto, mas confesso que a minha paciência esteve várias vezes no borderline do insuportável!

Outra coisa que sempre me chamou a atenção, principalmente quando algum problema envolve aspectos técnicos da tecnologia, é a prevalência de um princípio que diz que tudo o que não se conhece assusta. De fato, o desconhecimento da coisa técnica é massificada na sociedade. Até meus amigos mais próximos odeiam ler manual, um deles diz que é a primeira coisa que ele joga fora. Talvez por isso, o que se nota é que é cada vez mais raro encontrar manual dentro da embalagem de algum produto que se compra atualmente.

Na minha opinião, o desconhecimento pode ser prejudicial, na construção de mitos, o que, a meu ver, deveria ser sempre evitado.

Creio eu que ninguém ligado a este hobby poderia imaginar que o fantasma do burn-in, ou do efeito da retenção da imagem temporariamente, pudesse afligir de novo o consumidor. E como não se pode ignorar o alto custo do consumo de novas tecnologias, este receio é cercado de justificativas.

No caso específico das telas OLED, eu acho pouco provável que o desdobramento técnico não venha a eliminar permanentemente este risco. Mas, não custa nada ficar atento. [Webinsider]

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/09/06/oled-ou-qled-a-suposta-guerra-entre-as-tvs-coreanas/

Leia também:

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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