Acidente nuclear em Fukushima é divisor de águas

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11 de março de 2011. A Terra do Sol Nascente estremece por causa de um dos maiores terremotos já registrado. Horas depois, o mar invade a terra e ceifa a vida de dezenas de milhares de pessoas. As águas bravias do tsunami marcaram indescritivelmente a história daquele povo.

E o destino – vamos assim chamar – quis selar a sorte dos nipônicos com mais um grande mal: a radiação. A central nuclear de Fukushima I também foi afetada pelas tormentas. E não aguentou, talvez por falta de planejamento, pela intensidade da catástrofe ou por algo mais.

Agora não importa. Aconteceu.

Os núcleos dos reatores 1, 2 e 3 entraram em fusão completa. Césio 137, Iodo 131, Xenon 133, Urânio 325 e diversos outros elementos nocivos irradiaram profusamente na atmosfera, plutônio foi encontrado em níveis inaceitáveis no solo.

Esses fatos, todos conhecem. A mídia convencional até os divulgou durante dias após o ocorrido. Houve tristeza e comoção, porém essas foram logo substituídas pelo interesse no casamento real e alguns factóides sobre celebridades.

Enfim, a humanidade é assim mesmo, não é?

O mal silencioso

Podemos ler ou assistir jornais nacionais e de diversos outros países. Nada muito alarmante é divulgado. Há apenas pequenas notas sobre gado contaminado, criancinhas com máscaras e com contadores Geiger pendurados nos pescoços e algo sobre a água encanada de Tóquio estar contaminada. Ufa! As coisas devem estar se ajeitando por lá! O pior já deve ter passado…

Infelizmente não.

Quanto dura a vida de um humano? 70, 80, 90 anos em um panorama favorável? Pois bem, a radiação é infinita em relação à nossa existência. A meia vida de alguns dos contaminantes é de milhões de anos. Ou seja, esse é um problema que afetará gerações longínquas, se elas existirem.

Mas, vamos voltar ao presente. Ou melhor, um pouco ao passado.

Vocês se lembram de Chernobyl? Esse nome é um fantasma na mente das pessoas, mesmo daqueles que nem haviam nascido na época. E esse fantasma assombra até hoje.

Aquela região está deserta – ou mais corretamente – morta. É impossível ficar lá por mais de 20 minutos! Aliás, ir até lá, independente do tempo, já é um risco. Detalhe: o problema aconteceu em somente um reator, em Fukushima são pelo menos três.

Em Chernobyl foi construído um sarcófago e esse encerra boa parte da radiação. No Japão tudo ainda está ao ar livre, ao sabor do vento e das chuvas! E está tão grave que a nuvem radioativa já chegou aos EUA e até a Europa!

E isso, a mídia não fala… Afinal, é invisível! Não é como o caso do vazamento de petróleo no Golfo do México. A mancha escura cobriu milhares de quilômetros quadrados no oceano e chegou às praias. É algo visível, mensurável a olho nu.

E foi gravíssimo! Mas acreditem amigos, muito menos letal do que acontece lá do outro lado do mundo.

Não quero ser alarmista, tão pouco explorar fatalidades, mesmo porque sou descendente de japoneses e admiro o povo e sua cultura, mas ainda veremos aquela ilha deserta.

Mudar a tecnologia é questão de sobrevivência

Leucemia, câncer de tireóide, má formação fetal… Esses são apenas alguns males advindos da radiação. E como já disse a Dra. Helen Caldicott, expert no assunto: “A radiação é insegura em qualquer dose”.

Se uma tomografia computadorizada já pode trazer riscos, imagina a quantidade emanada por três reatores? Não é preciso ser nenhum estudioso para saber a resposta.

“Ah, mas eu estou no Brasil, longe do Japão!”

Sinto dizer: não há lugar nenhum do mundo imune, seguro. A radiação não se dissipa como um pouco de fumaça, ela perdura por milhares de milênios. E os ventos, as chuvas, as marés a fazem circular pelo globo. Então esse problema não é só dos japoneses.

Aliás, nós temos Angra! E que o universo e os técnicos a conservem em plenas condições.

Mas, fica a pergunta: é possível substituir integralmente a energia nuclear?

Não sou físico ou engenheiro, mas afirmo: o impossível não existe quando se tem esforço, capacidade e vontade de evoluir. Infelizmente vivemos em um modelo econômico estritamente monetário, quando o ideal seria pensar em recursos, ou melhor, no valor desses.

E a vida é um recurso precioso, correto? Então, acho justo investir em novas tecnologias, menos arriscadas, menos poluentes e como fatidicamente vimos, menos destrutivas.

E se para isso for preciso mudar nosso modo de vida, cometer menos exageros e extravagâncias, se for necessário consumir com mais equilíbrio e reaproveitar mais, certamente é um preço pequeno a ser pago.

O verdadeiro valor está nas coisas mais simples. Concordam?

Veja mais na crítica social: Dead Island – uma realidade que ninguém quer contar

[Webinsider]

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Eduardo Massami Kasse (@edkasse) é escritor, palestrante e analista de conteúdo. Subeditor do Webinsider. Mais em onlineplanets.com.br e eduardokasse.com.br.

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8 respostas

  1. Olá, Eduardo.
    Estou fazendo um trabalho escolar e este texto me ajudou muito. Já virei sua fã. Desejo-te sucesso.
    Enfim, eu espero que muitas pessoas leem este artigo e passam a pensar um pouco mais nesses tipos de coisas. A mídia nos passa informações, entretanto passam de forma que nos faz pensar ser um caso banal, que os japoneses são excepcionalmente capazes de sair dessa situação.
    Quero muito que você continue a escrever assuntos assim para que possa orientar-me nos trabalhos que terei de encarar pela frente.
    Parabéns!!!

  2. Sr. André.

    Você desconhece o que aconteceu em Chernobyl. Meus pais moravam a cerca de 40km de Pripyat, cidade onde ocorreu o acidente. Eles já morreram de cancer, e minha irmã, sofre deste mal até hoje.

    Eles não contaram nas estatísticas oficiais, infelizmente.

    Vou fazer de tudo para impedir que este mal entre neste país tão lindo que nos acolheu.

  3. Chernobyl, o pior acidente nuclear da história, causou 47 mortes. Em mais de 60 anos desde o início da exploração da energia nuclear para geração de energia elétrica (desde 1945), 32 acidentes nucleares mataram 93 pessoas. Nem um terço da mortalidade de um único acidente da aviação comercial ( considerando a média dos dez piores desde 1977).

    Por esse prisma, haveria muito mais motivo para se cercear a expansão de tão útil meio de transporte do que impedir a geração de eletricidade por reatores. Pior, o número de mortes em acidentes nucleares chega a ser irrisório se comparado ao que resulta do mero uso de carvão para gerar eletricidade: 30 mil por ano nos EUA e 350 mil por ano na China.

    No acidente de Fukushima, tão alardeado na mídia, conforme ilustra o seu texto, não houve – até o momento – nenhuma morte associada a uma dose fatal de radiação.

    No Brasil, o melhor argumento antinuclear é lembrar que o país tem o privilégio de ainda dispor de imenso potencial hidrelétrico na Amazônia, capaz de expandir a oferta de eletricidade por muitos anos. Todavia, os que incansavelmente repetem essa verdade nunca demonstram preocupação com os custos e benefícios para a sociedade da completa artificialização das bacias amazônicas. Nem mesmo consideram os custos socioambientais das hidrelétricas já em operação para justificar o veredito de não competitividade da energia gerada em Angra.

    Em outras palavras, esse ótimo argumento antinuclear é muito suspeito para quem dá importância à conservação da ecossistêmica amazônica. Se no planejamento energético houver debate público transparente e democrático, poderá emergir consenso de que alguns reatores nucleares mais próximos dos centros de consumo venham a poupar parte dessas longínquas bacias, que constituem inestimável patrimônio socioambiental. Importante dizer que a radioatividade (seja a nssa aqui em Angra ou a de Fukushima) em 175 anos cai a um bilionésimo do seu valr inicial.

    Depositá-los em rochas que estão a centenas de metros da superfície certamente pode ser a melhor saída até que o reprocessamento disso se torne viável economicamente ou uma inovação radical no âmbito da energia (seja solar ou por fusão atômica), torne obsoletos os atuais dilemas energéticos.

  4. Viviane, muito obrigado pelo comentário!

    É isso mesmo. Infelizmente o maior mal enfrentado pelos japoneses agora é algo que irá matar e debilitar sem sequer ser visto. E o pior: com pouquíssima divulgação da mídia convecional ou apoio governamental.

    É vital repensar o padrão energético e buscar soluções menos arriscadas e degradantes, como energia eólica, solar, das marés, das fontes termais…

    Grande abraço e prosperidade sempre!

  5. Oi Eduardo,

    Apesar do tema difícil, achei muito oportuno seu texto e vale muito para reflexão. Temos mesmo que parar para pensar em tudo que você escreveu. Você mencionou Angra e, claro, me passou imediatamente pela cabeça que sendo o povo japonês reconhecidamente mais organizado do que nós, imagine se acontece algo parecido aqui. Enfim, é importante que as pessoas tenham consciência desse mal silencioso e acima de tudo que tenhamos capacidade de repensar a geração de energia via usinas nucleares. Os alemães parecem estar evoluindo no assunto e o resto do mundo deve correr também.

    Valeu! Gosto de ler textos assim no Webinsider.

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