Como você se relaciona com o tempo?

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As pessoas são guiadas e movidas pelas suas emoções. A inteligência racional, lógica e sensata comumente atua, na verdade, como ferramenta subordinada às “causas do coração”, servindo meramente para planejar e justificar comportamentos e escolhas.

Como disse Dale Carnegie, somos seres essencialmente emocionais. Por esta razão, técnicas e apelos racionais não geram mudanças de comportamento. O lado emocional busca o prazer imediato e a fuga da dor, enquanto nossa razão sabe que algumas coisas chatas e desagradáveis precisam de atenção.

Como exemplo disso, citemos o tabagismo. Fumantes não deixam o hábito, apesar dos avisos e argumentos bastante coerentes e racionais dos médicos e do governo, pois o cigarro proporciona um alívio de tensão, pelo efeito da nicotina, por permitir uma ausência rápida e justificável do trabalho ou por dar ao fumante tímido um lugar para colocar as mãos.

Além disso, o cigarro ainda provê ao fumante certo status, principalmente entre adolescentes. Com tantos benefícios emocionais, fica difícil promover uma mudança comportamental por meio da racionalização.

Geralmente, os fumantes somente abandonam o vício quando mais maduros. Amadurecer é melhorar a compreensão de si mesmo, permitindo ao indivíduo encontrar meios mais inteligentes de lidar com suas emoções. Somente isso é capaz de transformar comportamentos.

Pelo mesmo motivo, as técnicas de gerenciamento do tempo falham, pois definem métodos racionais para lidar com um problema tipicamente emocional: a falta de disciplina. No começo, as técnicas são seguidas à risca, mas poucos dias depois, as vaidades e instabilidades do coração assumem o comando novamente, acabando com qualquer disciplina.

Bem, se quisermos lidar melhor com tais vaidades, devemos amadurecer nossa visão do tempo, assim como no caso do tabagismo. Quero dizer que sua relação com o tempo é passível de análise, reflexão e amadurecimento, sendo possível desenvolver sua percepção e encontrar formas diferentes e mais saudáveis de se relacionar com ele.

Cada indivíduo percebe o tempo de forma diferente, dando importância para perspectivas temporais distintas. Philip G. Zimbardo, professor de psicologia da universidade de Stanford e autor do livro “O Paradoxo do Tempo”, identificou padrões na forma como nos relacionamos com o tempo.

Se as pessoas fazem escolhas baseadas na perspectiva temporal predominante em suas psiques e tais escolhas seguem padrões, então a forma como um indivíduo encara o tempo pode revelar muito sobre ele.

Uma pessoa que valoriza o futuro, geralmente prioriza os estudos e o trabalho, mas deixa de se divertir e usufruir do único tempo que de fato existe, o presente. Orientados para o futuro podem cometer o erro de sacrificar família, amigos e até o sexo para atingir o sucesso.

Os que valorizam as memórias positivas do passado, procuram manter tradições, rever fotografias, reunir a família e cultivar um sentimento de nostalgia. As memórias positivas servem de alicerce para a auto-estima. Entretanto, se predominam memórias negativas sobre o passado, o comportamento seria evitar tais memórias ou passar longos períodos em devaneios, recriando as situações negativas.

As perspectivas temporais são as formas como interpretamos o tempo. Aprendemos e moldamos nossa perspectiva através da influência dos pais e da sociedade. Pesquisas mostram que famílias das classes média e alta têm uma visão predominantemente futurista, enquanto famílias pobres valorizam o presente.

Sociedades instáveis, afetadas por guerras ou crises financeiras, também tendem a desenvolver a valorização do presente. A valorização do presente é a conseqüência natural do futuro incerto e da luta pela sobrevivência no hoje. Já a valorização do futuro é conseqüência da estabilidade, da segurança e das promessas de vantagens maiores, obtidas através do tempo.

Obviamente, não temos somente uma perspectiva temporal, mas um conjunto delas, onde algumas se sobressaem. Contudo, poucas pessoas têm consciência de qual perspectiva predomina em seu comportamento, gerando problemas em diversas áreas de suas vidas.

Tornar-se consciente do próprio comportamento é o primeiro passo para poder melhorá-lo e equilibrá-lo. Como em quase tudo na vida, o equilíbrio entre as diversas perspectivas é a alternativa que traz satisfação e realização. Somente após este alinhamento entre perspectiva temporal racional e emocional, as técnicas de gerenciamento do tempo podem funcionar efetivamente.

Os padrões identificados por Zimbardo são:

Passado positivo

Quem tem esta perspectiva predominante vê o passado com otimismo. Possui ligação emocional com objetos e a casa onde mora. Não gosta de mudanças. Seus amigos o vêem como afetuoso, emotivo, simpático, feliz e autoconfiante. Quase nunca fica ansioso, deprimido ou agressivo. Gosta de rever filmes e de ouvir músicas antigas. Costuma promover encontros familiares e entre amigos. É prudente em relação às finanças e prefere investimentos de baixo risco. Heranças são conservadas.

Passado negativo

Quem tem esta perspectiva predominante pensa freqüentemente nas coisas que deveria ter feito ou deveria ter dito. Vê o passado com pessimismo, dor e arrependimentos. Deseja que seus filhos não passem pelas mesmas experiências dolorosas que teve de enfrentar. Tem poucos amigos próximos. Costuma ser deprimido, retraído e ansioso. Tenta manter-se ocupado, para tirar a mente das memórias. Apesar de tantas características negativas, isso pode significar para o indivíduo uma força que o impulsiona a mudar sua realidade. É importante ressaltar que a perspectiva temporal pouco tem relação com os fatos em si, mas sim com a forma como o individuo os interpretou. Mesmo fatos negativos podem ser lembrados de uma ótica positiva e vice-versa.

Presente fatalista

Crê que o controle de sua vida está nas mãos do destino ou de outras pessoas ou instituições. É ansioso, depressivo e pessimista. Não costuma pensar nas outras pessoas. É resistente às outras ideias. Acredita que seu futuro não depende de suas ações. Podem fazer parte da vida de um fatalista o consumo de álcool, cigarro e drogas.

Presente hedonista

Valoriza festas, encontros com amigos e os prazeres da vida. É aventureiro, faz as pessoas rirem, é espontâneo. Costuma assumir dívidas sem pensar muito. Com frequência, estoura o cartão de crédito. Gosta de estar na moda. Tem um belo carro, apesar de isso comprometer boa parte de seu salário. Adora comer e beber e não se importa muito com a saúde. Álcool, cigarro e outros tipos de drogas podem fazer parte da vida de um hedonista. Geralmente não faz exercícios físicos, dando preferência para alternativas milagrosas de saúde ou emagrecimento.

Futuro

Costuma planejar suas atividades e estabelecer metas. Assim como o presente hedonista, o futurista também quer satisfação imediata, mas sempre abre mão dela para colher benefícios futuros. É coerente, cuidadoso e preocupado com as conseqüências futuras. Cumpre prazos, controla seus projetos e sua conta bancária. Preenche os canhotos das folhas de cheque. Faz investimentos ao invés de dívidas. Quando está sem relógio ou agenda, sente-se um perdido e fora de controle. Diz ter pouco tempo livre. Preocupa-se com a saúde, costuma fazer exercícios.

Futuro transcendente

Acredita na vida após a morte. É bastante religioso. Vê a morte apenas como um novo começo. Acredita que tem um lugar especial no além. Costuma ir a cultos, missas e cumpre rituais em casa. Controla seus impulsos e busca viver dentro da doutrina de sua religião, preocupando-se com as conseqüências pós-morte de seus atos.

Certamente você identificou comportamentos seus em várias das perspectivas descritas. Como dito, somos uma mistura destes padrões, sendo alguns predominantes. Obviamente, as pessoas oscilam entre estas diferentes percepções. Ninguém é cem por cento do tempo voltado ao presente, passado ou futuro.

Ao ler as descrições, é provável que você tenha achado a perspectiva futurista a mais “correta” ou sensata, pois é a visão mais valorizada e recompensada por nossa sociedade capitalista. Porém, isso não faz dela melhor ou pior que as outras. Na verdade, todas fazem parte do ser humano e devem ser cultivadas harmoniosamente.

Desenvolver as memórias positivas do passado pode lhe dar um sentimento de satisfação quase imediato. Aprender com suas memórias negativas é uma experiência igualmente importante para melhorar suas análises e escolhas presentes e futuras. Ser hedonista nas festas, férias e nos feriados é felicidade. Ser fatalista perante o inalterável é se poupar. Ter fé em algo que transcende a vida é aconchegante.

Para sentir o prazer de viver e até ser mais produtivo, é necessário colocar sua atenção no presente. Não há prazer no passado, nem no futuro. Diz uma lenda que o discípulo de um mestre oriental, depois de muitos anos de meditação, finalmente estava prestes a concluir seus estudos. Subiu a montanha mais alta para encontrar seu mestre e realizar a prova final. Chegando ao topo, o mestre o saudou e disse: a prova consiste em apenas uma questão. Lá embaixo, há uma placa com o nome desta montanha. Quando você passou por ela esta manhã, de qual lado a placa estava?

Repare que atividades como almoçar uma refeição saborosa, praticar esportes, caminhar na praia, pintar, dançar, cantar, conversar com amigos, viajar, fazer sexo, pular de pára-quedas, meditar, jogar baralho, beber álcool (com moderação) são atividades prazerosas, pois ampliam sua consciência do tempo presente, tirando sua atenção do passado e do futuro.

O uso de drogas também tem essa capacidade, mesmo trazendo conseqüências negativas a médio e longo prazo. No trabalho, quando conseguimos colocar a atenção somente na atividade presente também há satisfação. O sentimento de prazer e satisfação só pode existir no presente. Quando nossa atenção está no passado ou no futuro, nossa imaginação cria, modifica e distorce, gerando tensão e ansiedade.

Note que as técnicas de gerenciamento do tempo são feitas para futuristas. Elas tornam o indivíduo mais produtivo, aumentam sua sensação de segurança, mas também a ansiedade e a dependência dos mecanismos de controle do tempo, como agendas, listas de afazeres, smartphones, notebooks, etc.

Para os futuristas, a solução é desenvolver sua percepção do presente. Para os orientados ao presente ou passado, é desenvolver sua percepção do futuro. Todavia, as técnicas de gerenciamento do tempo não são capazes de resolver nenhuma dessas situações.

Agora que você sabe mais sobre a psicologia do tempo, pode exercitar sua visão temporal.

A leitura do livro “O paradoxo do tempo” pode ajudá-lo a entender melhor os tópicos apresentados aqui e também traz exercícios para desenvolver sua percepção. Como dito pelos irmãos Heath, a razão é o condutor e a emoção, o elefante. É necessário muito empenho para mudar hábitos e aplicar corretamente as técnicas de gerenciamento do tempo.

Se você ficou curioso para saber quais os padrões temporais predominantes em sua psique, faça o teste criado por Zimbardo (em inglês). [Webinsider]

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Daniel Rodrigo Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB.MKT.

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3 respostas

  1. Parabéns pelo artigo!
    Pois trata de um tema de grande importância para o ser humano moderno, além de ser amplamente esclarecedor para os dilemas da vida.

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