Empresas públicas têm mais ética do que as privadas?

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A respeito do oportuno artigo “Ética, ao menos para obter a lealdade do cliente ”(veja ao lado), de Guilherme Bova, gostaria de comentar alguns poucos pontos.

Quando o colega o intitula, anunciando que cabe às empresas privadas a iniciativa do estabelecimento de códigos de ética entre seus funcionários e clientes, entoa aos leitores a idéia de que são as empresas privadas as grandes responsáveis pela ausência da conduta ética – problema que tem assolado nosso país – face à inexistência de códigos de ética em seus âmagos.

Em igual proporção, estimula a crença de que se a iniciativa privada é ineficiente neste aspecto, a pública já não o é. Citamos o parágrafo quarto do artigo: “(…) Tomemos como exemplo os escândalos políticos recentes em que empresas privadas viabilizaram o esquema de corrupção envolvendo o governo. (…)”.

Todavia, a essência dessa discussão não remonta ao setor privado ou ao público. E sim ao ser humano e, especialmente, ao cidadão brasileiro.

Não faltam códigos de moral e ética universais, a citar o primeiro deles, a Bíblia Sagrada, que apregoa e reafirma, aos crentes e ateus, a existência da consciência, dos princípios, da moral e da própria ética.

Destarte o cunho religioso do código exemplificado, anunciamos apenas alguns de tantos outros que normalizam o princípio de isonomia entre os indivíduos e em prol da coletividade: Global Compact; Declaração Universal dos Direitos Humanos; Carta Geral das Nações Unidas; Estatuto da Corte Internacional de Justiça; Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; Princípios Orientadores para a Prevenção e Repressão do Crime Organizado; Declaração sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento; Declaração sobre o Uso do Progresso Científico e Tecnológico no Interesse da Paz e em Benefício da Humanidade; Declaração dos Direitos da Criança.

Como se observa, ao longo da história da humanidade, muitos foram os instrumentos utilizados para o alcance do propósito de unicidade de padrões de conduta morais e éticos.

Assimilando–se aos padrões universais, cada um dos povos e nações adota os seus próprios, como é o caso da Constituição Federal, leis, dos códigos, estatutos, regulamentos etc.

Paralelamente, outros grandes formadores da conduta moral e ética dos povos são as famílias, os centros religiosos, as escolas, as organizações e os demais grupos sociais dos quais participamos ao longo de nossas vidas.

É neste aspecto que chamo atenção para a realidade vivenciada em nosso país.

A iniciativa pública, historicamente, é a antecessora na implementação de regras e códigos administrativos, até para que essas regras e códigos possam balizar ou motivar a iniciativa privada a segui–los.

Sendo assim, não deveriam ser os seus próprios funcionários os primeiros a dar o exemplo da assimilação desses documentos e de sua efetiva prática? Então, esclareça–me, caro Guilherme, o porquê dos mais recentes escândalos, que macularam nosso país, serem advindos exatamente da iniciativa pública envolvendo agentes, funcionários ou servidores públicos?

Eles não deveriam servir de exemplo à população? E, o que pensar, então, acerca dos agentes públicos (os deputados e senadores), eleitos para o grandioso propósito de auxiliar na gestão do país e de seu povo?

Todo cidadão que tenha sido concebido em qualquer sociedade, com os mínimos princípios de civilidade, possui consciência e discernimento entre aquilo que é o “bem” e o “mal”.

Resultados lucrativos em nada têm correlação com ilicitude de ações; ao contrário, a cada vez que nos apresentarmos, seja em nosso ambiente profissional, familiar ou social, enquanto pessoas íntegras mais e mais nos afeiçoaremos e atrairemos àquelas outras que estão, em meio a esse grande caos ético, clementes e ansiosas por recobrar a dignidade e justiça públicas!

Afinal, como o autor Tenório sabiamente assevera: não há justiça sem a ética (e vice–versa). (TENÓRIO, F.G. Responsabilidade Social Empresarial: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: FGV, 2004.)

[Webinsider]

<strong>Patrícia Cauceglia</strong> (cauceglia@cnt.org.br) é especialista em gestão do conhecimento. Atua há vários anos no terceiro setor com gestão documental, estratégica da informação e do conhecimento, integração de SIs e alinhamento entre negócios e TI.

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9 respostas

  1. Relendo seu artigo, escrito em 2006, podemos constatar que em 2015 estamos enfrentando um Estado corruptor extorquindo empresas privadas que para fazerem seus negócios deslancharem escolhem por livre vontade participar de esquemas criminosos.

    Homens públicos deveriam ter muito mais HONRA, MORAL e VIRTUDES pois administram “o bem público”- aquele que é de todos. As empresas privadas por seu lado, nunca poderiam compactuar com deslizes morais desses agentes do Estado.

  2. muito bom ler pesuqisas bem estruturadas na quais podemos estudar e podemos ler e esclarecer nossas duvidas ….estudar e ler é sempre bom …

    adoreiii….

  3. O que está faltando neste país é um choque de moralidade, ética, pois tanto da iniciativa privada, quanto na vida pública, não se vêm mais grandes estadistas, tão sómente aqueles que querem aparecer como “salvadores da pátria” visando obterem visibilidade, quando na realidade são praticantes do “primeiro o meu”.Não há comprometimento com o bem público, só querem o lucro fácil e rápido.

  4. bom, adorei…!
    tenho apenas uma dúvida, quando falamos o não cumprimento da ÉTICA, tanto nos orgãos públicos ou privados, não estamos nos referindo a falta do comprometimento moral?
    Dúvida em relação ao que é ser ÉTICO ou o não cumprimento moral do que foi estabelecido pelos orgão/empresas…

  5. Gostei muito desse artigo onde mensura o código de ética nas empresas públicas tem mais ética do que nas privadas, gostaria de receber no minimo três exemplos de cada. ética na empresa privada e ética na empresa pública.

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