Imagem de TV com 4K no futuro próximo

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Os receptores de TV com tela de 4K já estão à venda há algum tempo no país. Entraram sorrateiramente, e agora começam a ser destaque de lojas especializadas. As demonstrações são feitas com gerador de imagens, tal e qual quando a HDTV foi lançada, em passado não tão distante assim.

Ver uma imagem daquelas em telas de mais de oitenta polegadas impressiona até o mais casual dos passantes. O preço, entretanto, impressiona negativamente. Como em outras ocasiões também, o lançamento da tecnologia do momento custa caro. Na faixa de preço que está sendo praticada, somente os fanáticos, ricos ou afoitos irão se aventurar na compra, o resto, imagino eu, passará ao largo.

Nestes últimos dias, a Sony começou o bombardeio na TV do anúncio da Copa do Mundo de 2014 com imagem a 4K. Os modelos menores são um pouco mais em conta, se o usuário tiver uns doze mil para desembolsar para uma tela de 55”.

As notícias de bastidores e os anúncios do tipo press-release dão conta de que a Copa vai ser de fato transmitida em 4K. O motivo? O Brasil quer ser o primeiro país a transmitir o evento nesta resolução, em sinal aberto. Não só a Copa, mas também a primeira Olimpíada em 4K, em 2016.

Então, como é que fica?

Fica assim: para um usuário final assistir a Copa em 4K ele precisa investir no aparelho de TV e procurar alguém para fornecer o sinal, se por satélite ou cabo. Porque, transmitir 4K pelo ar pode até ser possível, mas provavelmente impraticável com os atuais transmissores.

 Os testes já feitos

Não foi preciso estar lá: na página da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Transmissão) um dos eventos onde as câmeras 4K Sony e demais apetrechos foram posicionados, os resultados foram mais do que animadores.

O Brasil está envolvido com imagens a 4K há anos. Em 2011, eu tive chance de participar e depois relatar para o Webinsider um evento no Museu de Arte Moderna a este respeito, com pesquisadores de vários países, mais as turmas da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e da Universidade Mackenzie.

De lá para cá, a Rede Globo começou a se envolver e hoje trabalha com 4K e 8K experimentalmente. O leitor mais perspicaz irá notar a ironia do fato da emissora, outrora conhecida como a Vênus Platinada do Jardim Botânico pelo seu esforço para exibir beleza estética, em encampar este tipo de pesquisa, ao mesmo tempo em que o seu próprio telejornal continua usando, até a data deste manuscrito pelo menos, câmeras convencionais, dentro e fora do estúdio. E sempre foi assim: a TV Globo gravou muita coisa em HDTV (1080i), antes de o Brasil começar as transmissões digitais, mas as novelas só começaram a ser produzidas neste padrão tempos depois.

Agora, parece que a coisa é séria: a união da Globo com a Sony, não sei se com a participação ou benção da HBS (Host Broadcast Services), subsidiária da FIFA para a geração de imagens de eventos da entidade, espalhará um enorme número de câmeras 4K pelos estádios e deverá ter link ativo com todos os participantes.

Em princípio, não há o que temer, pois as câmeras 4K têm no monitor interno a área reservada para a composição da imagem em tela standard, chamada de “4:3 safe” (no Brasil, “margem de segurança 4:3”).

Um pouco de conversa jogada fora!

Tudo bem que no país do futebol um evento como a Copa do Mundo não pode passar despercebido. Mas, fica no ar (sem trocadilho) a seguinte pergunta: até onde deve ir a pressão de consumo para justificar neste momento um investimento em equipamentos tão caros? Em outras palavras: se o consumidor for investir pesado ele ou ela irá ter o retorno merecido?

Eu sou 100% a favor do avanço tecnológico. Mas, é preciso lembrar que nós não estamos mais falando de Hollywood ou da preservação de filme em película de 35 ou 70 mm. Estamos falando de jogos de futebol! Qual seria a resolução ideal para a transmissão de uma partida, aos olhos de quem vai ser o seu público potencial?

Anos se passaram desde que a transmissão por HDTV começou a exibir jogos em 1080i, mas a grande maioria do público ou não tem cobertura ou não dá pelota para isso. Na minha experiência, pelo menos, basta sentar em um bar ou restaurante, consultório de qualquer coisa, salão, etc., e o que mais a gente vê são aparelhos de televisão instalados para distrair o público adjacente com a imagem 4:3 standard, esticada para 16:9 cheia de distorção geométrica.

E acreditem: eu já experimentei perguntar por umas duas vezes, só para ver a reação dos donos de alguns estabelecimentos, se eles sabiam que a transmissão em HDTV pelo ar existe. Essas pessoas pagam algum provedor de TV, cabo ou satélite, para sintonizar o dia todo uma emissora de sinal aberto (geralmente Globo ou Band), em um bairro onde uma simples antena lhes teria dado uma imagem estupenda, inclusive e principalmente no disputado (novamente, sem trocadilho) jogo de futebol!

Ora, pois, eu não preciso ser mago ou futurólogo, muito menos lançar mão de estatísticas de audiência, para prenunciar que a próxima Copa do Mundo será vista da mesma forma, senão de forma móvel, no formato 1seg, quando então a questão da alta resolução cai no vazio.

É óbvio que a presença das transmissões em 4K é um passo importante na evolução dos formatos e das transmissões comerciais de TV. Mas, e a pressão em cima do consumidor, se justifica?

A recente campanha da Sony precipita uma questão que até agora ainda não foi respondida: quem irá fornecer o sinal de 4K ao público?

 A ideia do 4K é boa, mas…

Existe um fator de temporalidade na implantação das transmissões em 4K: neste momento o sinal padrão é de 1080i. Notem: trata-se do sinal entrelaçado (i), ou seja, ainda não chegou ao nível da imagem progressiva, que a gente chama de “Full HD” (1080p). Se alguém acha que não tem diferença, se engana. A nossa sorte, sob o ponto de vista da apreciação da qualidade da imagem de vídeo, é que os modernos processadores dos televisores atuais fazem verdadeiros milagres com a imagem que entra!

Existe hoje analistas que acham a implantação da imagem em 4K neste momento uma ideia estúpida. Mesmo que a gente não concorde com a análise, é preciso admitir que em alguns pontos eles têm razão. Um deles, por exemplo, é o do custo do hardware, já que ele não é reflexo da real planilha que ditaria o preço de uma televisão 4K.

Outro ponto é a ausência de software, ou seja, material para se ver imagem em 4K, sendo de fato 4K e não imagem com resolução menor em upscaling. Promete-se Blu-Ray com 4K, mas com mais um ponto de interrogação. Os discos Blu-Ray 3D, até certo tempo atrás uma grande novidade, custam mais caro, são relativamente escassos, e não apresentam vantagem alguma em relação aos discos convencionais, em termos de qualidade de imagem. Na verdade, a imagem em 3D reproduzida é relativamente pior em resolução da que a de 2D, em qualquer tela e com qualquer óculos.

Para se conseguir armazenar dados de imagens em 4K em mídia de disco, o espaço de memória terá que quadruplicar. Imagina-se que se algo for feito de concreto nesta direção é bem provável que o disco Blu-Ray atual (máximo em torno de 50 GB) teria que ser substituído, a não ser que um novo algoritmo de compressão tenha aparecido e a gente não esteja sabendo.

Ok, e se lançarem discos 4K, quem novamente irá se beneficiar? Será que já não era hora do mercado cair no bom senso: software em paralelo ao hardware, nunca antes ou depois!

Fotograma versus tela

A HDTV foi criada com base no fotograma do filme 35 mm. Até então, acreditava-se que 1080 linhas de resolução vertical seriam o suficiente. Depois, com a evolução dos telecines digitais, notou-se que resultados bem melhores eram conseguidos com o aumento da varredura para 2K, e é este o padrão final.

Imagens em 2K (2048 linhas) são facilmente transferidas para discos Blu-Ray em 1080p com excelente qualidade de transcrição e reprodução. Na medida em que o processo de conversão filme para vídeo aumentou de capacidade, a varredura em 4K para filmes 35 mm passou a se tornar mais interessante. Note-se que as chances de se perder detalhamento ao se converter uma imagem de resolução alta em outra mais baixa irão diminuir proporcionalmente ao aumento da resolução da fonte. Ou seja: na imagem com resolução alta se tem mais informação de pixels que irão compor a imagem com menor resolução, e a tendência é a preservação da qualidade da fonte. Quantos pixels a mais serão necessários, aí só mesmo fazendo uma comparação entre as diferentes conversões. É possível que 2K até sobrem em disponibilidade de informação, e se for assim transcrever filme 35 mm com 4K será redundante, motivo pelo qual vários estúdios abdicam da imagem em 4K para a confecção da mídia de alta resolução em muitos filmes.

Resta ainda a questão do tamanho da tela, e é aí que se atinge o calcanhar de Aquiles desta discussão toda. O argumento daqueles que são contra a necessidade de se ter imagem em 4K ao invés de 1.05 K (HDTV) nas transmissões atuais não esbarra somente na banda de transmissão. O tamanho da tela irá ter influência na necessidade da troca, já que o próprio olho humano tem limitações para observar a diferença de resolução em telas de menor tamanho. Na prática, isto pode significar que mesmo aumentando a resolução da imagem para 4K muita gente poderá não perceber diferença alguma em relação à mesma imagem em 1K. E notem que, em se tratando de uma partida de futebol, onde a adrenalina costuma ir a mil, resolução é o que menos será percebida.

Nas poucas chances que eu tive de observar com cuidado uma imagem em 4K, projetada como naquele evento do MAM, ou em display, o tamanho da tela impressiona pelo resultado. Mas, sem chance de ver a mesma tela com material de resolução menor, a comparação é literalmente impossível.

Em resumo, falta clareza se e quando o próximo passo deve ser dado. A prudência manda “aguardar para ver”. Muito da tecnologia emergente ainda não saiu do laboratório, nem mesmo a mudança de LCD para OLED. Eu creio que até o ano que vem muita água vai rolar, e até lá eu espero não ser um a mais a ser levado pela correnteza. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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11 respostas

  1. Paulo,
    Estive esta semana em S.Paulo e pude ver num shopping uma Sony 55″, 4k, exibindo um jogo de futebol, creio que gravado.
    Na minha visão de leigo, numa distância de 3 metros ou mais do aparelho, não observei grande diferença comparado a uma full hd.
    Portanto, seria um investimento muito alto levando em conta o custo benefício.

  2. É verdade, Paulo. De quando em vez entro na única sala aqui da praça, com as netas para ver uma animação (outros gêneros infelismente são todos dublados) e ainda fico impressionado com as imagens em película, embora, as cópias aqui cheguem um tanto surradas. E pensar que tais imagens estão no crepúsculo! É de doer!

  3. Olá, Celso,

    Então, você e eu já entramos em salas de cinema com uma imagem digital pior do que aquela que temos em casa, não é não?

  4. Paulo, ótimo texto!
    Você esgotou o assunto. Penso que todos esses aparelhos sofisticados com imagem 4K, caríssimos,são excesso de zelo, desperdício, sem nenhum resultado prático. Não sou torcedor de futebol, contudo, já vi jogo em HD e creio que não se necessita mais do que isso. Como você diz, no calor da hora, adrenalina a mil, quem vai se preocupar com tamanha perfeição de imagem?
    Saudoso amigo já falecido, 94 anos, cinéfilo, estudioso de tecnologia e operador de cabine desde os 12, afirmava: o cinema película possui uma resolução de 1.250 linhas e acredito que isso basta.

  5. Olá, Tresse,

    Quem sou eu para retificar uma só palavra do teu comentário?

    Agora, um dia desses vai ser preciso acabar com este tal custo que você menciona. Não é mais concebível pagar 60% de taxa alfandegária em todo valor que passa dos 50 dólares. Esse valor foi estabelecido por sugestão de uma comissão da qual eu fiz parte, só que há décadas atrás, quando ele tinha algum significado no bolso de qualquer um. Por causa disso, todas as mídias continuam caras, e o preço da cultura um privilégio que não é para qualquer um. O mesmo não se aplica para produtos que nada tem a haver com cultura!

  6. Paulo, primeiro parabéns pelo belo e profundo texto principalmente nos anexos sobre o nosso olho. Faço as seguintes observações: 1 – Os preços seguem o Custo Brasil. Temos que sustentar o GIGA-Estado. 2 – Jornalismo usa muito acervo e o up converter deve ser evitado.3 – Quem já viu 2K, não mais aceita TV Analógica. 4K não cabe em qualquer apartamento/casa; precisa de 2 a 2.4 m de distância para ter imagem agradável. Acabou o espaço; não pare de escrever.

  7. Há algum tempo ouvíamos que o futuro chegaria. Em se tratando de eletrônica de consumo, não apenas chegou como se excedeu. Vídeos 4K, audio a 192k…para quê isso se a capacidade sensorial humana é limitada? Apenas para que o departamento de marketing possa fazer mais uma campanha ” o futuro chegou “. Vi as tvs Sony de 4K. No tamanho 60 embora nítidas com alta taxa de contraste e brilho, não vi diferença para o fullhd. Talvez em telas de 100 possa começar a ser percebida.
    4K é tamanho de projeção. Porque, ora, não investem então em projetores de led ou algo assim nessa resolução magnífica?

  8. Oi, Nolan,

    É importante esta tua opinião, porque você é mais vivido e conhece mais os fatos do que eu, que vivo de informações de terceiros, e com a devida precaução.

    Obrigado pelo comentário.

  9. Prezado Paulo: Esclarecedor o teu artigo. Esses 4K,no meu modo de ver,só tem ganho prático em telas acima de 60′.O resto é pura besteira,pela série de dificuldades que você mencionou.Existe na Globo,uma turma de mentalmente afetados,que,baseados na gastança que a emissora faz,não hesita em criar mais despesas ainda,estas sem qualquer ganho prático ou comercial.Não desmerecendo os 4K,que irão ser úteis em paredes revestidas de OLED no futuro com 100 polegadas pelo menos,agora não existe mesmo qualquer aplicação doméstica.O povo começou a pouco tempo a ter acesso a TVs de até 46 polegadas.Acima disto fica caro ainda e a imagem que agora se tem,por ser já TV DIGITAL,é excelente.A relação custo-beneficio está satisfeita e dificilmente alguém,que não seja podre de rico (ou babaca) ira se interessar por 4K. Mais uma vez a Globo joga dinheiro fora,mas um dia esse dinheiro acaba.Veja o caso do Dolby Digital:existem transmissões deste tipo,o global “The Voice Brasil” parece ser assim,mas já não se coloca o aviso dele ser multicanal.Não faz diferença,comercialmente aqui não está dando certo.Mas vamos aguardar.Quem sabe em uns cinco anos mais. Ridícula essa Sony,tentar usar a copa-do-mundo para vender um trambolho de 12 mil reáis.Abração,

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