SP450 é case colaborativo, com apoio do rádio

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Quando da recente comemoração dos 450 anos de São Paulo, sob o nosso ponto de vista de internet, um dos eventos mais interessantes foi o VivaSP450, site amplamente baseado na idéia de comunidade e produção de conteúdo colaborativo.

Colaboração é algo que não pode ser fabricado, não tem exatamente uma receita infalível. Para acontecer depende de certas condições, como a empatia do colaborador para com o veículo. É preciso alguma dose de sinceridade e transferência.

O VivaSP450 conseguiu criar bom conteúdo a partir de histórias e imagens enviadas espontaneamente pelos habitantes e visitantes da cidade. Foi montado na forma de blog e dá todos a oportunidade de registrar e compartilhar a sua história e a de sua família.

No início de fevereiro o VivaSP450 ultrapassou a marca de 500 histórias publicadas, bom para para um site então com apenas dois meses de lançamento.

O projeto é do nosso amigo Juliano Spyer (veja textos dele à direita). Juliano foi produtor de eventos online para os países de língua espanhola da StarMedia em Nova York e também trabalhou comunidades na AOL Porto Rico.

Agora, com o VivaSP450, o apoio do rádio foi fundamental. Juliano agradece especialmente à Rádio Eldorado, que abraçou a idéia e abriu espaço em sua programação diária para as histórias de paulistanos anônimos. E aos amigos que participam mandando relatos, críticas e sugestões e divulgando a idéia.

Veja mais o que ele diz sobre este trabalho e a construção de conteúdo colaborativo.

O que é o SP450?

O SP450 é um site para o intercâmbio de histórias sobre São Paulo. A cidade às vezes é o personagem principal, outras ela é apenas o pano de fundo. As melhores se tornam boletins de um minuto transmitidos diariamente pela Rádio Eldorado AM e FM de São Paulo.

Como funciona o SP450?

O motor do site é muito parecido com o de um blog, que é a ferramenta comunitária mais popular do momento. O SP450 é um blog aberto, coletivo e moderado; ou seja, qualquer pessoa publica suas histórias sem ter que se registrar. Basta clicar no botão “Participe” para abrir o formulário de publicação. O texto ou a imagem enviados ficam armazenados no sistema até que o editor aprove o conteúdo. Essa medida de segurança evita que usuários se aproveitem do anonimato para publicar material ofensivo (o que nunca aconteceu nos três meses de funcionamento diário do projeto).

Por que você escolheu o blog?

O SP450 é um site de histórias. Não fala de sexo, não distribui dinheiro, não evita que você fique na fila do banco. É um espaço que não tem um apelo imediato ao grande público e, especialmente, não atrai a atenção de jovens. A temática dele interessa a pessoas com mais de 30 anos. Como este é um público restrito, eu escolhi a ferramenta mais fácil de usar e popular do mercado. É o caso do blog. Ele é popular porque a navegação é intuitiva: os posts mais novos aparecem em cima dos anteriores. Todas as páginas funcionam do mesmo jeito. Também contou pontos a favor o blog ser leve. Ele não frustra o usuário com conexão discada. E tem mais um motivo: diferente do chat, que precisa de mais gente operando o sistema, e diferente do fórum, que abre muitas possibilidades de publicação, o blog é compacto e isso facilita o trabalho do moderador. Como este é um projeto individual, sem estrutura de apoio, é fundamental que a manutenção seja barata e rápida.

O SP450 alia internet e rádio. Como isso funciona?

A internet é descrita, no campo da comunicação, como uma “nova mídia”; a novidade dela em relação às anteriores está na interatividade. Pela internet, você escuta e também fala. Os meios tradicionais não têm este elemento, mas têm alcance. A Eldorado chega a cerca de 12 mil ouvintes por minuto durante o dia. A idéia é contar uma história sugestiva o suficiente para mobilizar algumas destas pessoas. Uma pequena parcela dos que ouvem entra no site. Dos que entram, um número menor tem a iniciativa de publicar. Mas isso já é suficiente para gerar novas histórias. Destas, as melhores se tornam boletins, são transmitidas e o processo recomeça. O principal objetivo é reunir um número de usuários que participem ativamente do projeto. Essa presença dá credibilidade ao trabalho e faz com que os novos usuários percam o medo de participar.

O que é a Table Bar Theory?

É um termo que eu inventei para explicar como funciona a colaboração. Está em inglês para soar mais distinto – 🙂 Funciona assim: se eu peço para você, leitor, se lembrar de uma história agora, provavelmente vai te dar branco. Você vai perguntar: uma história do quê? Para quê? Mas se eu contar a história de um professor engraçado que eu tive no ensino médio, é provável que você se lembre de uma história parecida. Veja que quanto maior é o número de pessoas na mesa do bar, mais animada é a conversa. Numa mesa cheia os casos se irradiam e quando você se dá conta, todo mundo está falando ao mesmo tempo.

Por que é vantajoso pensar em projetos colaborativos?

Esse é um campo de trabalho estratégico. Ele oferece soluções de gerenciamento de conteúdo muito mais econômicas que as da mídia tradicional. Por exemplo, o SP450, em três meses de funcionamento, publicou mais de 700 histórias. O trabalho de moderação ocupou apenas duas pessoas em regime de dedicação parcial. Ou seja, eu e a Ana Paula (editora do site) demos conta de manter o site em dia, além de dar tempo para produzir e gravar os boletins de rádio. Outra vantagem de se trabalhar num ambiente colaborativo é a diversidade de conteúdo. Se eu fosse fazer entrevistas com paulistanos anônimos, iria fatalmente estabelecer cortes. Eu entrevistaria quem eu achasse relevante e quem eu tivesse acesso. O SP450 é um espaço aberto. Quem ouvir o rádio ou pesquisar pelo Google, pode encontrar o site e publicar suas histórias. Com isso, o conteúdo se torna muito mais rico.

O projeto atingiu os objetivos esperados?

Em termos quantitativos, o resultado foi suficiente para que a dinâmica acontecesse. Como eu disse antes, este não é um projeto para o grande público. Mas a principal meta do projeto não pode ser observada nos números. O projeto tinha data de conclusão definida para o 25 de janeiro, dia do aniversário de São Paulo. A mobilização dos usuários junto à direção da rádio estendeu o projeto até pelo menos o fim do ano. Além disso, o SP450 em pouco tempo se tornou um fórum de discussão sobre São Paulo. As histórias não são motivadas só pelo saudosismo. Elas fortalecem os vínculos dos paulistanos com a cidade – vínculos que vinham se rompendo nos últimos 50 anos em conseqüência do crescimento descontrolado.

Quais foram as surpresas positivas e negativas do projeto?

Eu esperava um percentual maior de participantes. Eu esperava que atingindo 12 mil pessoas, o número de histórias seria bem superior ao registrado. Por outro lado, eu também previa que apenas 20 ou 30% das histórias fossem de boa qualidade. E fiquei impressionado ao notar que entre 80 e 90% do material enviado é de excelente qualidade. São relatos bem escritos e originais, cheios de vida. Para confirmar isso, basta entrar no site. Todas as histórias enviadas até hoje relativas a São Paulo estão publicadas e a maioria vale a pena de ser lida.

O que faz as pessoas participarem de projetos colaborativos, particularmente deste?

É uma conjunção de fatores. O primeiro é a troca de informação. A informação é o produto mais caro e precioso hoje. O software livre é grátis, mas implica na contratação de técnicos para instalar e dar suporte. Se eu tenho um quilo de feijão, tenho que dar uma parte para conseguir o arroz. Mas se eu tenho uma determinada informação, posso compartilhá–la e continuar com ela. No caso do SP450, os participantes estão formando vínculos entre si. Eles discutem como melhorar a qualidade de vida na cidade e estão descobrindo o poder de operar em conjunto. Este capital, o chamado “capital social”, é o principal atrativo do projeto.

Quais são as armadilhas da colaboração?

A colaboração não é um truque para fazer as pessoas trabalharem de graça para você. Quem vê nas comunidades apenas este lado, deve parar e repensar. A Amazon não estimula os consumidores a publicarem suas opiniões sobre os livros comprados para ter conteúdo grátis. A função das ferramentas comunitárias é dar voz ao consumidor para que ele possa avisar para os outros quando um livro é ruim. A Amazon dá esse poder ao usuário e assume o risco de que as pessoas influenciem umas às outras. A vantagem do comprador é ter uma fonte de informação desinteressada, diferente das editoras e dos críticos literários da grande imprensa. Com isso, o poder de decisão do consumidor aumenta, mas no caso da Amazon, isto é favorável porque seus usuários têm experiências de compra mais satisfatórias.

Quais são os seus próximos projetos?

Em relação ao SP450, o objetivo é vincular o projeto a uma terceira plataforma. A idéia é reunir a produção anual, selecionar as participações mais representativas e interessantes, e publicar um livro. Também quero fazer melhoras na arquitetura do site para aumentar a participação do usuário. Por exemplo: eu gostaria que quando uma pessoa publicasse uma história, o sistema listasse no fim do texto as outras histórias sobre o mesmo assunto ou do mesmo autor. Por enquanto, eu faço isso manualmente, quando dá tempo. Fora do SP450, eu tenho um projeto em andamento com a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, de incentivo à leitura. Tenho duas idéias desenhadas, na manga da camisa, esperando o momento certo para virem à tona. A minha meta é continuar desenvolvendo “cases” de trabalho colaborativo para abrir mais espaço no mercado para este campo de atuação.

Quais são os obstáculos para a implantação de projetos dessa natureza?

O obstáculo é a falta de cases brasileiros e também da desconfiança em relação à internet causada pela ressaca pós–bolha. No caso dos meios de comunicação, existe um receio de se perder o controle da mídia ao se abrir espaço para a participação do público. A minha impressão é que a demanda existe, mas a indústria não está pronta. No caso da aplicação da dinâmica colaborativa em ambientes fechados, não há o medo de se perder o controle. As empresas já estão intrigadas com as vitórias do Linux sobre a Microsoft, baseadas fundamentalmente na vantagem qualitativa do sistema operacional open–source em relação ao Windows. A questão é que a colaboração não pode ser fabricada. Não adianta instalar um fórum de mensagens e esperar que os executivos compartilhem suas idéias. Cada situação exige um conjunto de ferramentas específico e os estímulos corretos. O resultado, como no caso da Amazon, é um ambiente de trabalho mais eficiente e criativo. [Webinsider]

Vicente Tardin (vtardin@webinsider.com.br) é jornalista e criador do Webinsider. É editor experiente, consultor de conteúdo e especialista em gestão de conteúdo para portais e projetos online.

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