A internet é o território livre dos monopólios

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
Internet, terreno livre e monopólios

Se por um lado a internet democratizou os meios de publicação e pode ser considerado um território livre, por outro lado, cada vez mais ela se prova como uma terra de gigantes e de monopólios. De verdadeiros impérios.

Senta que lá vem a história.

No início dos anos 1990 a internet nos EUA era a America Online. (AOL). Ou era a Prodigy. Ou a Compuserve. Estes eram os principais bulletin board systems, os famosos BBSs, precursores de tudo o que veio depois.

America Online - AOL

 

Os BBS eram reinados. Comunidades fechadas, com notícias, jogos, mensagem entre usuários, fotos. Assim, tipo Facebook, sabe? Com a diferença que você precisava pagar para assinar estes serviços e não havia forma de sair deles para a internet.

No Brasil existiam alguns BBSs também. Eram poucos. Éramos muito poucos usando este tipo de sistema.

Você ligava o computador, pegava o seu modem de 2400 bps, ligava na linha telefônica, ouvia aquele ruído peculiar de conexão e entrava num destes sistemas.

O excitante ruido do modem ao tentar a conexão

Nesta época, já existia a internet livre, que te permitia acessar diversos sistemas, mas só era possível fazer através de comandos de texto e havia muito pouco pra se conhecer. O que deixava tudo muito desinteressante.

Daí, entre 91 e 94, o mundo começou a conhecer a Web. A World Wide Web era uma forma de navegar pela internet através de imagens, textos e links. Construída em cima da estrutura da internet, a Web nos permitia total liberdade e tudo parecia que ia ser assim.

Mas era uma época em que menos de 0,5% da população mundial tinha acesso , e que com o passar dos anos foi crescendo a velocidades estonteantes (hoje estamos em quase 50% de penetração global).

Com o passar do tempo vieram os buscadores de site (imagine que antes não dava pra encontrar um site sem saber o endereço), primeiro os catálogos como o Yahoo! (e o Cadê? no Brasil) e em seguida os buscadores mesmo como o precursor Altavista e, a partir do final dos anos 90, o Google.

O buscador Cadê, brasileiro

A partir dos buscadores e de todas as outras opções que a internet oferecia, os serviços como AOL e demais BBSs, os primeiros reinados, começaram a perder a relevância e se tornaram profundamente desinteressantes e restritos, perto de toda a internet livre que tínhamos pra acessar.

Muitos BBSs se transformaram em provedores de acesso à internet e a maioria foi fechando ou sendo comprada com o passar dos anos.

Vimos então chegar a era dos blogs, dos sites, e a internet parecia realmente estar tomando um curso de boa distribuição e forças equilibradas. Ainda haviam grandes concentradores de audiência (como os portais), mas nossa jornada online era pulverizada em inúmeros sites diferentes.

Entretanto, depois de alguns poucos anos, o fenômeno voltou a ocorrer. A partir do final dos anos 2000, novas plataformas gigantes começaram a se formar e a audiência mundial da internet voltou a se concentrar em poucos e grandes impérios, separados nesta nova fase em temas.

Videos no YouTube. Pesquisa e ferramentas de produtividade no Google. Fotos com celular no Instagram. Mensagens curtas no Twitter. Rede profissional no LinkedIn. Textos mais profundos no Medium. Amigos, notícias e todo o demais no Facebook. E mais o mobile com seus apps.

Vídeos no YouTube

Faça uma lista dos sites que você acessa todos os dias e vai perceber que não vão passar de cinco. Sua comunidade de amigos. Notícias. Serviços financeiros. Shopping.

Por força do hábito, característica humana, ou apenas preguiça, apesar de termos toda a internet ao nosso dispor hoje em dia, voltamos a nos comportar basicamente como fazíamos na época da AOL e concentrando nosso tempo e atenção em alguns poucos canais.

Agora, não mais por falta de opção. Talvez justamente pelo excesso de coisas para escolher, acabamos nos acostumando e ficando com apenas alguns.

E na medida em que nos concentramos em poucos sites, fortalecemos estas empresas, criando verdadeiros gigantes capazes de comprar tudo e todas, que vão se tornando cada dia maiores, mais complexas e mais monopolistas.

Se nos anos 90 já tínhamos uma concentração grande, a atual concentração de pessoas em uma mesma plataforma é uma situação absolutamente sem precedentes, criando discussões inéditas. Qual efeito sobre o humor da população mundial pode ter uma simples mudança de algoritmo que define o que é mostrado no mural das pessoas numa rede social?

Pense que hoje o Facebook hoje pode ser considerado o país mais populoso do mundo, com 1,65 bilhão de “habitantes” (a China tem 1,3 bilhão de habitantes).

O alcance do Facebook

Isso faz de Mark Zuckerberg (e líderes de outros gigantes) verdadeiros imperadores romanos dos tempos modernos cujas decisões têm impactos em centenas de milhões de pessoas em todas as partes do mundo.

É claro que empresas desta natureza não são comandadas por um único indivíduo. Conselhos, decisões conjuntas e toda espécie de sistemas de decisão compartilhada são perseguidas, justamente para evitar tanta responsabilidade nas mãos de poucos, mas ainda assim o mundo cada vez mais se vê concentrado nas mãos de muitos poucos players, cujas decisões não conhecem fronteiras e cada vez mais expandem seu alcance.

E da mesma forma que estão estabelecidos hoje, amanhã pode ser que não estejam mais.

Assim como outros impérios que a história do mundo já viu. [Webinsider]

. . . .

Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2016/03/15/o-que-vira-depois-do-netflix/

Michel Lent Schwartzman (michel@lent.com.br) é fundador e Chief Product Officer na Lent/AG.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *