Mecanicismo mercadológico, de Chaplin à Foxconn

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Na década de 30, o genial Charles Chaplin produziu uma de suas mais conhecidas obras: Tempos Modernos. Na sequência antológica, no qual Chaplin enlouquecia devido à rotina de trabalho altamente mecanizada e degradante, o cineasta pretendia ironizar com a visão mecânica das organizações produtivas e principalmente com a desumanidade na relação empresa-empregado. Na última semana, foi noticiado mais um suicídio nas fábricas chinesas da gigante Foxconn. A empresa produz componentes eletrônicos que servem de base para outros produtos, entre eles os famosos Ipad e Iphones.

Na época de Chaplin, o senso comum gerencial dizia que as empresas eram como máquinas e cada funcionário, por sua vez, uma parte da gigantesca engrenagem. Quanto mais padronizada fosse uma atividade, maior seria a produtividade e menor seria o custo. Pensadores como Taylor e Fayol foram os grandes pregadores desta filosofia.

Neste cenário, os trabalhadores eram estimulados (forçados) a enfrentar jornadas exaustivas, totalmente repetitivas e estressantes. Nos dias de hoje, ver a organização puramente pela ótica mecanicista, contudo, parece antiquado. Será?

A metáfora da organização enquanto máquina não está totalmente fora de moda. Ela se repaginou, de maneira que outras visões da organização ganharam espaço e se mesclaram a ela (a empresa enquanto grupo social, enquanto organismo, enquanto cérebro ou ainda enquanto sistema político). Ou seja, a metáfora da máquina passou a dividir espaço com outras metáforas e de acordo com o tipo de empresa, mercado onde atua, cultura organizacional e nível de competição, ganha maior ou menor aplicabilidade.

Na indústria pesada e nas linhas de produção de bens de consumo, a metáfora da máquina parece ainda a mais apropriada. Normalmente, tende-se a associar ao conceito de organização enquanto sistema mecânico uma visão pejorativa: a máquina é ultrapassada, lenta e de difícil adaptação. Inimaginável para o mundo moderno e globalizado. Talvez no que tange a aspectos estratégicos, isso tenha o seu fundo de verdade, mas quando se fala em linhas de produção em série, o famoso “chão de fábrica”, a visão mecanizada do processo produtivo ainda é a mais adequada para prevenir erros e garantir a homogeneidade dos produtos. Portanto, a visão romântica de que este tipo de organização não seria competitiva no novo milênio pode ser uma grande falácia.

O que faz com que a Foxconn e outras empresas enfrentem problemas terríveis como as ondas de suicídio não é metáfora da máquina, mas uma outra figura de linguagem: o eufemismo da competição saudável por custos.

O que é impensável nos dias de hoje não é encarar uma indústria pela ótica mecânica, mas a linha de produção pela ótica inumana. É a desumanização e não a mecanização, a culpada. Sob o discurso da competição com base em custos, boa parte das empresas não hesita em instalar suas linhas de montagem em regiões onde o custo da mão de obra é escandalosamente barato e a legislação trabalhista é frouxa. Não é apenas na China: não faz muito tempo, a polícia de São Paulo libertou bolivianos que eram “escravizados” nas linhas de montagem de uma pequena fábrica de tecidos.

Por isso, creio que falar em competição por custos pode ser um grave eufemismo, na medida em que tende a esconder aspectos desleais e covardes, seja nas relações de trabalho, seja nas relações com fornecedores e outros parceiros comerciais.

Utilizar a metáfora da máquina em qualquer empresa pode gerar resultados incríveis. O fato de estrutura e processos serem pensados como engrenagens de uma máquina não obriga uma empresa a ser burocrática e lenta. Muito menos a obriga a ser desumana e covarde com seu time. Mesmo as máquinas, quando bem programadas e estruturadas, podem ser extremamente humanas e leais. [Webinsider]

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Bruno Garcia (bruno.garcia@com2b.com.br) é o editor do Mundo do Marketing. Sócio da Com2B, mantém o site Com2Business e o Twitter @bruno_com2b.

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